CAPÍTULO 9
O RESGATE DA JOVEM EM PERIGO
Naquela manhã, ao terminar seus exercícios, Janine saiu da academia e, como de costume, foi à área de alimentação do shopping, para tomar um Gatorade. Nesse momento um policial aproximou-se e disse:
_Srta. Sandoval? Fui incumbido de lhe entregar esta carta. _ e entregou um pergaminho, no qual ela reconheceu, imediatamente, a letra caprichada de Draco Malfoy e que dizia:
“Janine, você está em perigo mortal. Deve sair de Londres agora e encontrar-se comigo em minha escola. Não confie em ninguém, exceto nesse policial e siga à risca as suas instruções. Ele vai lhe entregar uma moeda de ouro. Não se separe dela sob nenhuma circunstância. Sua bagagem já está na viatura policial. Ele a levará até a Estação de King’s Cross. Chegando lá, você deverá deixar que ele cuide de despachar sua bagagem e, exatamente às 10:45 h, deverá estar encostada na barreira que separa as Plataformas 9 e 10. Não se espante com o que quer que aconteça. Tudo dará certo e, o mais tardar, hoje à noite nos reencontraremos. Um beijo. Te amo.
Draco”
Janine achou aquilo meio estranho, mas a letra de Draco era inconfundível no pergaminho. Ela perguntou ao policial:
_E como ficará a escola? O ano letivo já começou.
Ao que o policial lhe respondeu:
_Não se preocupe, Srta. Sandoval. A sua transferência para a escola do Sr. Malfoy já foi providenciada e toda a burocracia já foi cumprida. A senhorita usufruirá de uma bolsa integral, cortesia do Diretor, Alvo Dumbledore (e Janine, mesmo tendo ouvido esse nome pela primeira vez, automaticamente sentiu que deveria confiar). Chegamos a King’s Cross. Vou despachar a bagagem enquanto a senhorita. vai para a barreira. Está com a moeda?
_Sim, está aqui comigo.
Exatamente às 10:45h, Janine estava encostada à parede da barreira que separava as Plataformas 9 e 10, ainda estranhando um pouco as instruções. Mas nada poderia prepará-la para o que aconteceu a seguir.
A parede sólida contra a qual achava-se encostada de repente tornou-se evanescente e impalpável, como se desaparecesse e ela desequilibrou-se, indo parar do outro lado. Teria caído ao chão, se não fosse por...
_Pamela! O que você está fazendo aqui? Que lugar é este? Onde estão os outros trens? E esse trem clássico, com locomotiva a vapor? Plataforma 9 ½? Como pode existir esse número?
_Calma, Janine. Vamos por partes. Primeiro, estou aqui porque conheço este lugar e fui enviada por Draco.
_Mas você é minha amiga e não conhecia Draco até que eu os apresentei.
_Bem, na verdade não sou...
_Não é o que? Não é minha amiga?
_Sou sua amiga e te adoro desde que te conheci, Janine, mas o que eu quero dizer é que não sou nem nunca fui Pamela Worthington.
_???
_Ainda bem que não é semana de lua cheia, ou Remus não poderia me ajudar. Tivemos de estuporar meia dúzia de Death Eaters que estavam esperando na entrada do shopping para te raptar.
_Remus? Death Eaters? Estuporar? Me raptar? O que está acontecendo, Pamela?
_Calma, Janine. Vamos embarcar no trem que eu te explico.
Embarcaram e ocuparam uma cabine vazia, Janine estranhando os trajes dos passageiros e o fato de que todos olhavam para elas como se fossem seres de outro planeta.
_Vai me explicar agora, Pamela?
_Bem, para começar, meu nome não é Pamela Worthington e esta não é a minha aparência. _ e, diante dos olhos espantados de Janine, assumiu sua verdadeira forma, a de uma jovem com cabelos rosa-choque e um rosto em formato de coração. _ Meu nome é Nymphadora Tonks e Draco Malfoy é meu primo por parte de mãe.
Janine estava sem fôlego conseguindo, a muito custo, balbuciar:
_V-você m-m-mudou de apa-aparência, bem na minha frente!
_Sim, sou uma metamorfomaga, um tipo de bruxa que pode mudar de aparência, se transfigurar à vontade. Ah, o policial que te trouxe até aqui também era eu.
_E Draco? Ele também...
_Draco também é bruxo, mas não possui essa habilidade. Ele realmente te ama, garota. Só estava esperando o momento certo de lhe contar a verdade, sem chocá-la. Pena que os acontecimentos se precipitaram.
_Como assim?
_Draco falava sério na carta, quando disse que sua vida estava correndo perigo, Janine. Estamos contrabandeando você para Hogwarts, pois lá é o único lugar onde você estará a salvo d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e de seus seguidores, Bruxos das Trevas, principalmente a sua tropa de elite, os Death Eaters.
_E Draco, qual a posição dele nisso?
_Draco rompeu com o lado das Trevas, por várias razões, mas principalmente por amor a você, Janine. O pai dele, Lucius Malfoy, não é apenas um bilionário excêntrico e misterioso. Essa é a fachada dele para os trouxas. Na verdade, ele é o braço direito do Lorde e está trancafiado em um presídio bruxo.
_Trouxas?
_É como são chamadas as pessoas não-mágicas no nosso meio. Por exemplo, se você não estivesse com a moeda, não passaria a barreira. Somente bruxos ou trouxas autorizados podem atravessá-las. A moeda é como se fosse um passaporte.
_E quem é esse líder dos Bruxos das Trevas?
_Poucos têm coragem de dizer seu nome, ainda mais agora que ele retornou. Eu mesma ainda estou me acostumando. O nome dele é Voldemort.
_Que estranho, em francês significa “Vôo da Morte”.
_É um anagrama do seu nome verdadeiro, Tom Marvolo Riddle, “I am Lord Voldemort”. Ele causou tanto terror no passado, que a maior parte dos bruxos evita pronunciar o seu nome.
_Mas o medo de um nome só aumenta o medo da coisa.
_Por isso há pessoas que tentam evitar que ele cause medo apenas com sua lembrança e combatem-no abertamente. Dumbledore é um deles.
_Tonks, me diga o que está acontecendo, de verdade.
_Está havendo uma guerra entre bruxos do bem e do mal, Janine. Já estão ocorrendo baixas em ambos os lados e, infelizmente, os trouxas estão sendo pegos no fogo cruzado. Está com fome? O carrinho de comida está vindo aí.
_Sim, estou. Mas meu dinheiro...
_Sei, além de ele estar na bagagem, não é o adequado. Libras esterlinas devem ser trocadas por galeões (moedas de ouro), sicles (moedas de prata) e nuques (moedas de bronze), dinheiro de bruxo. Tomei a liberdade de abrir uma conta para você em Gringotes e transferi parte de seu dinheiro para lá.
_Gringotes?
_O banco dos bruxos, administrado por duendes. Bem, vamos ver alguma coisa para nós.
Janine estava com fome e comeu com excelente apetite o pastelão e apreciou o suco de abóbora. Divertiu-se com os sapos de chocolate e iniciou sua coleção de cards com Alvo Dumbledore, Nicolau Flamel e Paracelsus, admirando o fato de que as pessoas retratadas moviam-se nas fotos. Teve sorte e não pegou nenhum sabor excessivamente exótico nos Feijõezinhos de Todos os Sabores. Tonks explicou a ela muita coisa do mundo dos bruxos, até onde poderia ir sem ferir o Estatuto de Sigilo em Magia e, ao anoitecer, estavam chegando em Hogsmeade. Na plataforma, foi recepcionada por Hagrid e ficou impressionada com o tamanho do meio-gigante. Tonks disse:
Nos veremos no castelo. Por tradição, todo aquele que vem pela primeira vez a Hogwarts faz a travessia do lago, conduzido por Hagrid. Eu subirei de coche.
_Aquele lá, puxado por aquele bicho que parece um cruzamento de cavalo com dragão?
_Sim, é um Testrálio, mas... espere, sendo trouxa você não deveria poder enxergar o Testrálio. Mesmo tendo presenciado a morte de seu pai, como me disse. Trouxas não enxergam criaturas mágicas, até onde eu sei.
_Desde criança vejo coisas diferentes das outras pessoas. Quando estava triste ou deprimida, parecia ver um vulto encapuzado perto de mim. O mais estranho é que, quando eu comia chocolate, meu humor melhorava e ele sumia. Sempre fiz segredo disso, para que não pensassem que era louca.
_Caracas! Você então já encontrou dementadores e saiu ilesa. Tem certeza de que não há bruxos em sua família? _ espantou-se Hagrid.
_Pelo que Dumbledore disse, não há. Mas ela, sem dúvida, é especial. Até logo, Janine. Nos veremos lá em cima. E embarcou no coche. Janine embarcou no bote, com Hagrid ao leme e os dois se foram a deslizar pelo lago, conversando e satisfazendo a curiosidade de Janine, até onde era permitido.
No Salão Principal todos estranhavam a demora do jantar, até que Dumbledore fez uso da palavra:
_Alunos e professores de Hogwarts. Hoje inauguraremos uma experiência inédita neste estabelecimento de ensino. Pela primeira vez, em mais de mil anos, Hogwarts receberá um aluno trouxa em seu corpo discente. _ murmúrios, cada vez mais altos, fizeram-se ouvir pelo salão. _ mas não se iludam, senhoras e senhores. Essa pessoa, embora não tenha nascido com poderes mágicos, revelou qualidades tais que, dentre todos os trouxas do mundo, foi escolhida. Só nos resta agora aguardar a sua chegada e, a seguir, proceder à sua Seleção.
No mesmo instante, as portas se abriram e Janine entrou, vestindo o uniforme de Hogwarts, mas com o capuz das vestes cobrindo-lhe a cabeça. Acompanhada por Hagrid, atravessou o Salão e postou-se à frente do banquinho, ainda de costas para as mesas dos alunos. A um sinal de Dumbledore, virou-se para as mesas, sentou-se no banquinho e tirou o capuz. Draco sentiu seu coração acelerar mas, conforme havia sido instruído por Dumbledore, tentou disfarçar o mais que pôde. A Profª McGonnagall trouxe o Chapéu Seletor e anunciou:
_Janine Sandoval, para o sexto ano, por transferência de um estabelecimento de ensino trouxa de altíssimo nível, em Londres. Procedamos à sua seleção. _ colocou o chapéu na cabeça de Janine e a voz dele se ouviu:
_Humm... você parece possuir um perfil semelhante ao de um rapaz que eu selecionei há seis anos _ e Harry ficou alerta ao ouvir aquilo _ Determinação, obstinação, astúcia, inteligência e capacidades mentais privilegiadas. Um coração meigo, bondoso e romântico. Não teme o perigo, pratica esportes radicais, perita em artes marciais, supera limites. Uma rara combinação, com um perfil que se enquadraria perfeitamente na Sonserina, na Corvinal ou mesmo na Lufa-Lufa. Mas considero que a sua parte dominante a torna mais indicada para fazer parte da... GRIFINÓRIA!
A mesa dos leões trovejou em aplausos e Janine desceu do banquinho, devolvendo o Chapéu Seletor à Profª McGonnagall e sendo conduzida por ela à mesa da Grifinória, sentando-se à frente de Hermione e Rony e ao lado de Gina, que a cumprimentou amigavelmente, apresentando-a aos Inseparáveis e aos outros colegas da Casa. Harry ficou bastante surpreso ao reparar que, à mesa da Sonserina, Draco Malfoy estava com os dedos cruzados e exibia um sorriso e uma expressão no rosto, na qual mesclavam-se a felicidade e o alívio.
O jantar foi servido e depois dele Janine conversou animadamente com os Inseparáveis, principalmente com Hermione que, tendo nascido trouxa, tinha mais desenvoltura. Para Janine tudo aquilo era uma novidade bastante agradável. Descobrira que ainda existiam bruxos de verdade no mundo, que nem todos eram maus e que amava um deles, sendo correspondida. Por orientação de Tonks, optou por fazer segredo disso, até que fosse a hora. Após o encerramento do jantar, todos foram para suas Casas, Janine seguindo-os para a Torre da Grifinória. Admirou-se quando a Mulher Gorda liberou sua passagem, após ouvir a senha (“Luz nas Trevas”). Entraram e sentaram-se nas confortáveis poltronas em frente à lareira e continuaram a conversa:
_Tonks me falou de você, Harry. Disse que já enfrentou Voldemort várias vezes e sobreviveu.
_Tive bastante ajuda, desde o primeiro ano. Rony e Hermione sempre estiveram comigo e, da última vez Gina, que agora é minha namorada, Neville e Luna juntaram-se a nós. Falando nisso, cadê o Neville?
_Deve estar matando a saudade da Luna. Hoje eles não se viram o dia inteiro... _ disse Rony, com um sorriso.
Mas deve haver um outro motivo para você estar aqui, Janine. _ disse Hermione. _ Não pode ser somente uma nova experiência educacional de Dumbledore.
_É impossível tentar enganar você, Hermione, já me disseram. _ Janine sorriu e continuou _ Na verdade, além do privilégio de estudar aqui, o Prof. Dumbledore está me concedendo santuário e asilo. Estou sendo perseguida pelos Death Eaters.
_Mas por que? O que os Death Eaters podem querer com você? _ perguntou Harry.
_Esta resposta eu posso e devo lhes dar, Harry, mas não aqui. Entrem na lareira e venham à minha sala. _ disse Dumbledore, sua cabeça surgindo nas chamas da lareira e surpreendendo a todos.
Na sala do Diretor, Dumbledore explicou:
_Janine é cem por cento trouxa, mas possui dons extraordinários. Basta dizer que ela pode enxergar seres mágicos. Tonks quase caiu de costas quando ela falou dos Testrálios e dementadores. Acredito que ela seja um tipo raro de paranormal, que ainda não desenvolveu seus dons. Vamos ajudá-la nisso. Além disso, os Death Eaters estão atrás dela para poderem pressionar seu namorado a aliar-se a eles.
_E quem é o namorado de Janine, professor? _ perguntou Rony, curioso.
_Eu. _ disse Draco Malfoy, saindo de trás de uma coluna.
Foi como se uma bomba explodisse. Os Inseparáveis ficaram aturdidos com a revelação. Draco explicou:
_Resolvi romper com o lado das Trevas, pois tomei consciência de que o pior que poderia acontecer para o mundo seria uma vitória de Voldemort. Toda a cultura trouxa iria se perder. Além disso, querem me pressionar a juntar-me aos Death Eaters e receber aquela maldita Marca Negra após sacrificar Janine, como prova de lealdade. Que se danem. Jamais me renderei à Magia Negra. Este Malfoy aqui é um renegado, aos olhos dos meus antigos companheiros. Sei que fiz muitas coisas erradas nesses anos, inclusive algumas que o prejudicaram, Potter. Queria me retratar por elas e pedir seu perdão. Sei que, provavelmente, jamais chegaremos a ser amigos mas, para mim, é suficiente e importante que não nos consideremos mais como inimigos. Uma vez, no primeiro ano, estendi minha mão dizendo que poderia ajudá-lo a não se juntar às pessoas erradas, quando eu mesmo era a pessoa errada. Agora estendo-a, novamente, mas para pedir que me aceite entre as pessoas certas. Sinto muito por Sirius. Pensei que tivesse, por omissão, contribuído para que você o perdesse, mas o Prof. Dumbledore me disse que já tinha ciência do plano de Voldemort quanto à profecia. Tive raiva de você pois, por mais canalha que seja um pai, nenhum filho gostaria de ver o seu encarcerado. Mas, depois da visita que fiz a ele em Azkaban, vi que ele está irremediavelmente perdido para as Trevas, tão ou mais fanático do que um terrorista trouxa do Setembro Negro ou coisa parecida, elevando a devoção a Voldemort ao status de religião. Esse é um caminho que não pretendo seguir. Também queria pedir perdão a você, Granger, por todas as coisas ruins e ofensivas que eu lhe disse desde que nos conhecemos, chamando você de “sangue-ruim” e de outras coisas horríveis, além de ter desejado o seu mal por diversas vezes. Quanto a vocês, Gina e Rony Weasley, eu os tratei como lixo em várias ocasiões, dizendo que vocês envergonhavam o nome dos bruxos quando, na verdade, eu e minha família é que éramos a encarnação da vergonha, principalmente meu pai. Ele fingia-se de pessoa correta quando, na verdade, era um bandido, um viciado em torturas. Ele contava isso em casa, com o maior prazer. Quando criança eu não entendia. Ao crescer, pensava que ele estava certo. Depois comecei a questionar e descobri quem ele realmente é. Os olhos dele brilhavam quando ele falava das monstruosidades cometidas. Eles ainda disseram que eu deveria seguir os passos de meu pai. De maneira alguma. Vão esperar até que os vermes criem dentes.
Admirado com as palavras sinceras de Draco, Harry estendeu a sua mão e apertou a que lhe era oferecida, dizendo:
_Você demonstrou sinceridade e eu aceito, incondicionalmente, suas desculpas. É bom não considerá-lo mais como um inimigo e acredito que, um dia, possamos chegar a ser amigos. No momento me basta sabê-lo um aliado. Adversários agora, só no Quadribol.
Satisfeito com aquela celebração de paz, Dumbledore falou:
_Agora temos de planejar o que vamos fazer, para que Draco não seja iniciado. Primeiro, você deverá passar os feriados de Natal em Hogwarts. Quando sua mãe se manifestar, aí será o momento de dar conhecimento a ela do seu rompimento. A reação, acredito, não será das melhores. Possivelmente, sua mãe irá querer transferi-lo para Durmstrang, mesmo lá não sendo mais uma escola que enfatiza as Artes das Trevas. Não permitiremos, eu tenho meios para isso. Quando a notícia correr, Draco, você será execrado pela maior parte dos colegas e isso será útil, pois poderá nos ajudar a identificar quem, na Sonserina, tem ligação com as Trevas. Agora, retornem para suas Casas. Amanhã veremos o que mais deverá ser feito. Boa noite.
Boa noite, professor. _ e, entrando pela lareira, os grifinórios retornaram à sua Sala Comunal. Draco permaneceu um pouco mais.
_Obrigado, Prof. Dumbledore. Sei que, com o meu passado e minhas origens fica difícil confiar em mim.
_Draco, jamais se esqueça de que somos o resultado de nossas escolhas e não apenas de nossas origens. Agora vá descansar.
_Boa noite, professor. _ e, entrando na lareira, transportou-se para a Sonserina.
_Boa noite, Draco. _ com um sorriso nos lábios, Dumbledore considerou-se satisfeito por enquanto. Redimindo Draco Malfoy ele, além de recolocar o loiro de volta no caminho certo, tirara de Voldemort um poderoso potencial aliado. _ Jamais subestime o poder do amor. _ pensou em voz alta. E também foi se recolher.
Janine acompanhava, com relativa facilidade, a parte teórica das aulas. Na parte prática, sendo trouxa, não executava os feitiços e encantamentos mas prestava atenção nos movimentos e palavras empregados para sua execução. O Prof. Flitwick simpatizou imediatamente com a garota, contando-lhe a história de como os principais feitiços foram criados e como muitas experiências não deram certo ou deram resultados bizarros:
_E quando Ediberto o Gago foi pronunciar a fórmula do feitiço de mudança de roupas, gaguejou e disse: ‘Indumentaria ca-ca-cambio!” Não preciso nem dizer no que foi que a roupa dele se transformou. _ todos deram risadas e cuidaram de executar corretamente os feitiços propostos. Naquele dia estavam aperfeiçoando os feitiços conjuratórios, que também eram aprendidos nas aulas de Transfiguração com a Profª McGonnagall e seriam importantes para os N.I.E.Ms, no ano seguinte.
Ela gostou bastante de Defesa Contra as Artes das Trevas. Naquele dia, Mason estava dando continuidade às aulas sobre vampiros:
_Um vampiro torna-se mais perigoso à medida em que se alimenta, pois fica mais poderoso a cada vítima feita. Seu verdadeiro alimento não é o sangue, mas a vida, a energia vital da pessoa. O sangue é apenas o seu veículo, pois circula por todo o corpo. Uma pessoa pode também tornar-se um vampiro por opção, provando do sangue de um, dado espontaneamente. Esses são ainda mais perigosos, pois já nascem poderosos.
Janine levantou a mão e perguntou:
_Prof. Mason, o que há de verdade e de mito nos métodos de destruição de vampiros? Há algum fundamento naquilo que aparece nos filmes e livros trouxas?
_Sim e não, Srta. Sandoval. A luz do sol os destrói completamente, podendo ser reproduzida com uma varinha, executando um Feitiço Lumus solaris, mas isso gasta muita energia e não é qualquer bruxo que consegue. A prata, devido à sua pureza, lhes provoca ferimentos que não cicatrizam, causam graves hemorragias neles e que, se atingirem o coração, são instantaneamente fatais. A madeira deve ser benta para que a estaca surta efeito. O alho possui uma substância, a alicina, que é responsável pelo cheiro, a qual provoca uma violenta reação anafilática, onde o vampiro pode chegar a explodir se o alho atingir a corrente sangüínea. Mesmo o cheiro do alho já os mantém à distância. Eles abominam símbolos religiosos, mas para que um deles o queime, a pessoa precisa ter fé. Uma estrela de Davi não surte efeito, se empunhada por um cristão, assim como uma cruz é inerte nas mãos de um muçulmano. Embora Deus seja um só, a convicção religiosa e a fé que cada um tem n’Ele é que energiza o símbolo. Para repousarem, precisam de terra de seu lugar natal. Só podem atravessar água na mudança da maré e só entram em um local estranho quando convidados. A maior parte do que o Sr. Stoker relatou no seu livro é verdade. Alguma coisa foi mistificada e glamurizada por Hollywood para dar clima aos filmes, mas os vampiros existem e ninguém está livre de se ver atacado por um que esteja faminto.
A aula terminou e os Inseparáveis, acompanhados de Janine e Draco, ajudavam Mason a guardar o material e conversavam sobre feitiços conjuratórios. Haviam, sobre a mesa, umas três varinhas daquelas especiais, revestidas com liga de Mirtheil, fabricadas pelo Sr. Olivaras. Janine as estava recolhendo para uma caixa, a pedido de Mason e comentava com Hermione:
_Então quer dizer que depende de concentração e de formar mentalmente a imagem detalhada do que se quer conjurar, executando o movimento certo e o objeto conjurado se materializa, não é?
_Isso mesmo, Janine. _ disse Hermione. _ E é difícil, sendo um feitiço de grau avançado. É muito pedido nos exames de N.I.E.M.
_Então se eu quisesse um chimarrão...
_Chimarrão? _ perguntou Rony, intrigado.
_Uma bebida típica da minha terra, Rony. Infusão de folhas secas e moídas de erva-mate, colocadas em uma cuia feita da casca de uma fruta, chamada porongo, também conhecida como cabaça, na qual adiciona-se água quente e toma-se, sugando por uma bomba metálica. Mas, como eu dizia, se eu quisesse conjurar um chimarrão, bastaria ter uma varinha, _ e, distraidamente, pegou uma das três que estavam sobre a mesa _ me concentrar, executar o movimento correto e dizer: “Illex! Thermo!” e depois seria só matear tranqüila... gente, não me assustem assim. O que estão olhando?
A varinha na mão de Janine emitia um brilho azulado , lançando pequenas faíscas de sua ponta e, sobre a mesa, estavam uma garrafa térmica, com o vapor saindo por sua tampa semi-aberta e uma cuia, com bomba e tripé, dentro da qual a erva-mate estava acondicionada, pronta para ser cevada.
Janine Sandoval, garota cem por cento trouxa, fora aceita como senhora de uma varinha de liga de Mirtheil e, sem perceber, havia executado um feitiço dos mais difíceis. Todos à sua frente, inclusive Draco Malfoy e Derek Mason olhavam para ela, boquiabertos, sem conseguirem articular uma única palavra.
Antes mesmo que chegassem ao gabinete do Diretor a notícia já havia corrido por toda a escola, como era de costume:
_O que? Janine, da Grifinória?
_É, a garota trouxa.
_O que foi que ela fez?
_Conseguiu executar um feitiço.
_E não é só isso. Um feitiço conjuratório dificílimo.
_O que foi que ela conjurou?
_Uma bebida lá da terra dela, um tal de chimarrão. Dizem que faz muito bem à saúde.
_Mas como? Varinhas não obedecem a trouxas.
_Parece que era uma varinha diferente, especial para Aurores, revestida de metal.
_Que interessante. Será que ela pode manifestar poderes mágicos?
_Não sei. Estavam indo para a sala do Prof. Dumbledore.
No gabinete do Diretor, até mesmo Dumbledore mostrava-se admirado. Nunca um trouxa havia conseguido executar sequer um Lumus mínima com uma varinha. Elas simplesmente não reagiam, assim como outros objetos mágicos.
_Você então realizou o feitiço, mesmo não tendo nenhum poder mágico?
_Sim, professor. Eu simplesmente fiz como ensinado nas aulas.Me concentrei no objeto, detalhadamente, fiz o movimento e pronunciei a fórmula mágica. Em seguida eles me mostraram os objetos materializados. _ explicava Janine que, para não desperdiçar a água quente, tomava o chimarrão conjurado, oferecendo-o depois a Dumbledore, que o tomou, dizendo:
_Excelente qualidade. Me lembra quando visitei a Escola de Magia Sepé Tiaraju, na região das Missões, lá na sua terra.
_O que o senhor acha que aconteceu, professor? _ perguntou Hermione.
_Acredito, Srta. Granger, que foi um conjunto raro de fatores: o fato da Srta. Sandoval ser paranormal, sua extraordinária capacidade mental, sua força de vontade e sua determinação, o material da varinha conter liga de Mirtheil, metal que aceita um senhor pelas suas qualidades pessoais, independente de ser bruxo ou trouxa e isso reforça uma teoria, na qual venho trabalhando há alguns anos.
_E qual seria, professor? _ perguntou Draco, curioso.
_Acredito, Sr. Malfoy, que todos os seres humanos possuem potencial para a magia. Alguns têm bruxos na família e manifestam-na espontaneamente durante a infância. São os nascidos bruxos puro-sangue ou mestiços. Outros nascem trouxas e manifestam os dons mesmo sem terem ancestrais bruxos. É o caso da Srta. Granger. Paranormais como a Srta. Sandoval nascem trouxas e podem não manifestar os dons na infância, necessitando de algum estímulo ou treinamento. E, por fim, temos aqueles que não manifestam os dons de magia, mantendo-os latentes por toda a vida. Esses sim, são os verdadeiros trouxas.
_Que teoria interessante, professor. _ disse Harry _ e o que faremos agora?
_Bem, a Srta. Sandoval irá acompanhar a turma, obviamente, levando-se em consideração que necessitará de reforço nas aulas.
_Pode contar com todos nós. _ afirmou Rony, com a concordância de todos.
_Outra coisa, Harry, é que acho que a AD deverá ser acrescida de mais dois membros.
_Tem razão, professor. Se Malfoy é um potencial alvo dos Death Eaters, precisará aprender defesa pessoal. Janine não terá dificuldades, pois é perita em artes marciais.
_Vocês reativaram a AD, Potter? _ perguntou Draco, admirado.
_Sim, Malfoy. Surgiu uma grande necessidade de nos defendermos. Prepare-se para suar a camisa.
“Estou pronto! Podem vir!”
À noite, durante a sessão de treinamento da AD, o Prof. Dumbledore entrou na Sala Precisa, acompanhado de Janine e Draco. Estavam todos assistindo a uma demonstração de Harry no tatame, contra três adversários. Michael Corner atacou com um Yoko-geri, ao que Harry agachou-se e, girando o corpo no chão, aplicou uma tesoura que fez com que Michael caísse chapado de costas. Imediatamente apontou a varinha e o estuporou. Ainda agachado, executou um movimento de capoeira, conhecido como Macaco e acertou Ernest McMillan com os pés no peito, desequilibrando-o. Aproveitando-se da distração do colega, gritou: Incarcerous! McMillan ficou amarrado dos pés à cabeça. Seu último adversário, Rony, que era tão bom quanto ele, saltou a uma altura de uns dois metros, descendo em um fulminante Mawashi-tobi-geri que teria arrancado a cabeça de Harry, se ele também não tivesse saltado e atingido Rony com um Ushiro-kakato, seguido de um Uraken no lado da cabeça, que quase gerou faíscas. Com a desorientação de Rony, foi relativamente fácil para Harry utilizar um Feitiço do Corpo Preso, petrificando Rony e encerrando o exercício de Ninjutsu-Bruxo Avançado, cujos combates eram sempre terríveis e costumavam deixar os combatentes meio contundidos.
Dumbledore e Janine aplaudiam entusiasticamente, enquanto Draco estava de olhos arregalados, sem conseguir articular uma palavra, diante da demonstração das habilidades de Harry. Somente depois que Harry reverteu os feitiços, libertando os colegas, foi que os outros perceberam a presença dos recém-chegados, espantados pelo fato de Draco Malfoy estar ali. Dumbledore explicou:
_O Sr. Malfoy tornou-se um alvo em potencial para o Partido das Trevas e precisa aprender a se defender um pouco melhor. A Srta. Sandoval já é perita em artes marciais, tendo plenas condições de acompanhar a turma.
Para variar, o antipático Zachary Smith tratou de dar o seu palpite azedo:
_Mas, professor, com o passado do Malfoy... e foi imediatamente interrompido pelo próprio.
_Smith, isso era para ficar em segredo por enquanto mas logo todos vão ficar sabendo. Não quero nada com o pessoal do Voldemort. Rompi com o lado das Trevas, tendo sido o fato de ter começado a namorar Janine Sandoval um dos principais motivos. Eles estão atrás dela, querendo que eu a sacrifique em alguma estúpida cerimônia de iniciação, para provar lealdade a eles e receber aquela horrenda Marca Negra, para virar gado daquele cretino. Idiotas. Vão esperar até que o Inferno congele (o murmúrio foi geral: “O que o amor não faz com uma pessoa”).
_Se o Sr. Malfoy precisa começar a aprende artes marciais, que seja agora. _ disse Mason _ Só que com esses trajes não vai dar. Indumentaria cambio! _ e as vestes de Draco e de Janine foram transfiguradas em trajes Ninja, com os brasões das Casas do lado esquerdo do peito. Em seguida, encarregou-se pessoalmente de treinar Draco, enquanto que Janine acompanhou o restante da turma. Luna achou oportuno comentar:
_Agora a AD representa Hogwarts, inteiramente.
Era verdade. Com a inclusão de Draco Malfoy, da Casa Sonserina no grupo, finalmente as quatro Casas de Hogwarts faziam parte da AD.
Alguns dias depois, logo após o último treino para o primeiro jogo de Quadribol, Grifinória vs Lufa-Lufa, Harry e Janine conversavam, em voz baixa:
_Tem certeza? Está disponível?
_Desde hoje de manhã. Vai ser uma surpresa e tanto.
_Draco e Gina não podem saber. Pelo menos não até o último momento.
_Barbaridade, tchê! Todos vão tomar um susto.
_Então, tudo certo. Hoje, às 19:00 h, na Sala Precisa.
Uma voz, carregada de veneno, se fez ouvir:
_Então o Sr. Santinho do Pau-Oco Potter não perde tempo, não é? Cansou da sua enferrujada Weasley ou é só para tomar a namorada do Malfoy?
Janine mediu a chinesa de cima a baixo e perguntou a Harry, quase como se ela não estivesse ali:
_Harry, quem é essa guria?
_Chang Cho-Yen, do sétimo ano, Casa Corvinal. Chegamos a namorar por um tempo, no ano passado. Por sorte rompemos, antes que eu descobrisse, da pior maneira, quem ela é. _ Harry continuava utilizando o tratamento formal para falar de e com Cho, deixando bem claro o desagrado que a presença dela lhe proporcionava.
_Mas não muda o fato de que eu os peguei em uma atitude muito suspeita. Imagine se eu dissesse isso ao Malfoy.
_Dissesse o que, Chang? _ perguntou Malfoy, que havia chegado sem que Cho percebesse _ Pensei que sua família fosse suficientemente rica para que você não precisasse substituir o Filch, fazendo o trabalho de leva-e-traz, que é dele. _ Mesmo do lado do bem, o senso de humor de Draco permanecia corrosivo.
_Peguei esses dois aqui cochichando sobre uma surpresa para hoje à noite, da qual você e a Weasley não poderiam saber até a última hora. _ Gina estava chegando e entrou na conversa:
_É aquilo que você comentou comigo ontem, Harry?
_Exatamente. Janine disse que já está disponível. Queríamos fazer surpresa até hoje à noite...
_...Mas essa lambisgóia enxerida conseguiu estragar nosso plano. _ completou Janine. _ De qualquer maneira, somente a surpresa se perdeu.
Gina bateu palmas e disse:
_Que bom! Vou avisar a Luna. Ela e o Neville vão adorar.
Cho estava parada no meio dos casais, sem entender nada. Pensava que dera um flagrante em Harry e Janine pulando a cerca e agora estava no meio de uma conversa cruzada que, para ela, não tinha o menor nexo.
_Curiosa, Chang? _ perguntou Draco.
_Nós até a convidaríamos. _ disse Janine. _ Só que é um programa para casais.
_Mas eu garanto que ela não teria dificuldade para conseguir um par. Alguém simpático, com que ela tivesse afinidade. _ comentou Harry.
_É. _ finalizou Gina _ Alguém como, por exemplo, Fabian Sheldrake. _ e olhou para Harry, os dois quase roxos de tanto tentarem abafar o riso.
Cho, lembrando-se da armação na Torre de Astronomia, da qual Sheldrake apagara sua lembrança do soco que havia levado, afastou-se do grupo, olhando para Gina e murmurando, em chinês:
_Irlandesa enferrujada, cabeça de batata. Você não perde por esperar.
Imediatamente, Janine atalhou Cho dizendo para ela, também em um chinês fluente, ante os olhares espantados dos amigos:
_Te fecha, frango xadrez. Ou tu vais te ver comigo e vais ficar com saudades das bochas que levaste da Gina, lá no tatame.
Cho Chang calou a boca e se mandou, enquanto Draco comentou:
_Não sabia que você falava chinês.
_Só mandarim. Quando eu era criança, meu pai servia em Brasília e era da Segurança Presidencial. Fiquei amiga da filha do cônsul chinês. Ela estava muito deslocada e não falava nada de português. Cada uma de nós ensinou seu idioma à outra. Não nos largávamos, até que nossos pais foram transferidos. Ela voltou para a China e eu fui para os EUA. Até hoje nos correspondemos.
Às 19:00 h, todos estavam na Sala Precisa, onde o Home Theater trouxa havia sido recriado, com a diferença de que, em vez de poltronas, havia várias almofadas bastante fofas pelo chão. Recostaram-se nelas e Harry ligou o DVD. O símbolo da Warner Brothers apareceu na tela e a música de abertura de Casablanca se fez ouvir. Assistiram ao filme inteiro e, após o seu final, Harry foi trocar o DVD, dizendo:
_A verdadeira surpresa vem agora. Como Neville, Luna, Gina e Rony ainda não haviam assistido “Casablanca”, tivemos de exibi-lo primeiro. Um escritor trouxa, chamado Michael Walsh, escreveu um livro que é reconhecido como a continuação oficial, intitulado “As Time Goes By”, cuja adaptação cinematográfica recentemente tornou-se disponível, podendo ser recriada pela Sala Precisa. Agora vamos saber quem era Rick Blaine, porque ele não pode voltar aos EUA e o que aconteceu depois que o avião com Ilsa e Laszlo foi para Lisboa. _ Colocou o DVD e todos assistiram ao filme, impressionados com a devoção de Laszlo à sua causa, tendo chegado ao ponto de matar Renault. Ficaram quase sem fôlego, em suspense, durante o atentado contra Heydrich, sofreram junto com Rick, quando ele teve de abandonar seu país e vibraram, contentes, quando o amor de Rick e Ilsa finalmente triunfou. Ao término do filme, Draco disse:
_Obrigado, Janine. Obrigado, Potter. Essa foi uma das melhores surpresas dos últimos tempos. Agora é melhor que desçamos, antes que o Filch venha nos incomodar. Valeu mesmo. Muito obrigado.
Desceram para suas Casas, evitando Filch. Recolheram-se, pois precisariam estar descansados no dia seguinte, para o...
QUADRIBOL!!! A competição entre as Casas tivera início, com o jogo entre Grifinória e Lufa-Lufa. Antes do início da partida, Harry pedira a Madame Hooch para que se fizesse um minuto de silêncio em homenagem a Cedric Diggory. Logo após, a torcida da Lufa-Lufa desdobrou um enorme retrato dele, que ficou dependurado da arquibancada, saudado pelos aplausos dos alunos de todas as Casas... exceto da Sonserina, como sempre.
Janine e Draco ficavam tristes por terem de assistir ao jogo separados, mas não podiam, ao menos por enquanto, aparecerem juntos. Além disso, com a tradicional rixa Grifinória/Sonserina, todos iriam estranhar. Se bem que já houvesse gente na Sonserina desconfiada de que alguma coisa rolava entre Draco Malfoy e “aquela leoa trouxa”, como muitos sonserinos referiam-se a ela. Principalmente Pansy Parkinson, que estranhara o fato de Draco haver afastado-se dela, procurando mesmo evitá-la. Pansy não tinha nada de boba e tinha certeza de haver coelho naquele mato.
Com um silvo de apito, Madame Hooch dera início à partida. Gina, que agora era artilheira, estava de posse da goles. Com a aproximação de Anna Abbott, que entrara para o time da Lufa-Lufa, passou-a para Gilmore, do terceiro ano, que estava estreando no time. Os texugos começaram a persegui-lo mas ele, executando uma Manobra de Ploy, deixou a goles cair nas mãos de seu companheiro de equipe, O’Toole, o qual passou-a de volta para Gina, que lançou a bola, certeira, no aro da direita, impossível de ser defendida por Caulfield, o goleiro.
_Gol da Grifinória! _ Anunciou Sheldrake, que havia assumido a narração dos jogos, depois da formatura de Linus Jordan. _ Os leões abrem o placar com dez pontos. Ainda não houve nenhuma manifestação dos apanhadores. Parece que o pomo de ouro está meio tímido hoje. _ Apesar de sonserino Sheldrake era, como disse Harry, um dos poucos caras mais ou menos decentes daquela Casa, sendo um ótimo narrador e comentarista.
Harry sobrevoava o campo, atento, procurando por qualquer reflexo que denunciasse a posição do pomo, o que o apanhador da Lufa-Lufa, Malone, também fazia em outra parte do campo. A partida continuava e Gina estava, novamente, de posse da goles, com a Grifinória liderando a partida com um placar de trinta a dez. Passou por Harry, dirigindo-se para cima em uma velocidade vertiginosa, perseguida pelos adversários e esquivando-se dos balaços lançados pelos batedores. Harry pensou: “O que ela está planejando?” Enquanto isso a voz de Sheldrake, magicamente amplificada com um Feitiço Sonorus, continuava a narrar:
_Weasley de posse da goles, subindo a uma grande altura com os artilheiros da Lufa-Lufa no seu encalço. Esperem, aconteceu alguma coisa e ela está caindo como uma pedra! Já está abaixo dos artilheiros texugos e... eu não acredito! Recuperou o controle da vassoura, avançou para o gol, fintou Caulfield e marcou no aro central! Aquela queda foi uma finta, senhoras e senhores! Ela cortou a força da vassoura a uma grande altura e, quando desceu abaixo dos adversários, acionou novamente, ficando livre para marcar enquanto os texugos tentavam mudar de direção. Eu creio que poderemos batizar essa jogada arriscada de “Manobra Weasley”. Quarenta a dez para a Grifinória.
Ainda admirado com a coragem e criatividade de sua namorada, Harry prestou atenção em um ponto próximo dos aros da Grifinória. Era o pomo de ouro. Apontou sua Firebolt naquela direção e iniciou a caçada. Malone seguiu atrás dele em sua Cleansweep-12 uma excelente vassoura, mas não tão veloz ou facilmente manobrável quanto a Firebolt, principalmente quando montada por Harry Potter. O pomo deslocava-se, velozmente, com Harry no seu encalço e, logo atrás dele, Malone montado em sua Cleansweep, parecendo um raio amarelo e chegando cada vez mais perto de Harry e do pomo, cada vez mais perto, mais perto... mas não o bastante.
A mão direita de Harry fechou-se sobre o pomo, quando estava com menos de meio corpo de vantagem sobre Malone. Subiu, com o pomo seguro na mão, descendo até o meio do campo e desmontando da vassoura, com o braço direito erguido. Em seguida abraçou os outros jogadores da Grifinória, dando um cálido beijo em Gina, debaixo dos assobios e aplausos da platéia. Então ao ver Malone, que havia acabado de aterrissar e desmontar da vassoura, desvencilhou-se dos companheiros, foi até o apanhador adversário e abraçou-o, cumprimentando-o pela lealdade no jogo, característica marcante dos membros da Lufa-Lufa.
Naquele instante o estádio quase veio abaixo, pois os aplausos dobraram de intensidade. Aquele era Harry Potter. Um competidor feroz, porém repleto de espírito esportivo.
A festa na Sala Comunal da Grifinória enveredou noite adentro. Certa hora Janine, disfarçadamente, saiu pelo buraco do retrato da Mulher Gorda, levando escondida a Capa de Invisibilidade que Harry lhe emprestara. Iria encontrar-se com Draco, a quem não vira o dia todo. Estava ficando tão versada nas passagens secretas e atalhos de Hogwarts que seu conhecimento rivalizava com o dos Inseparáveis ou mesmo quase com o de Filch. Encontrou o sonserino à frente da Sala Precisa e entraram. Lá dentro encontraram uma cena de galpão, muito semelhante à da estância do avô de Janine, da qual ela tinha tanta saudade. Ela explicou a Draco vários dos costumes gaúchos, descrevendo o que constava nos livros que estavam sobre a mesa, sentando-se em um sofá perto do fogo de chão. Draco pensara em tudo, até no frio e no vento minuano. Passaram horas muito agradáveis juntos.
Ao saírem da Sala Precisa de mãos dadas, Draco consultou o relógio:
_Já é tarde. É melhor irmos embora para nossas Casas.
_Até quando precisaremos nos esconder dos sonserinos, Draco?
_Até que o Prof. Dumbledore nos diga que já é seguro. Até então, não poderemos namorar em público.
_Que saco. O pessoal da Sonserina é realmente tão perigoso?
_A maior parte faz jus ao símbolo da Casa. A imensa maioria dos bruxos das Trevas que passaram por Hogwarts são oriundos da Sonserina.
Iam caminhando, até que acharam melhor vestirem suas Capas de Invisibilidade. Sim, pois Draco havia levado também a sua própria. Despediram-se com um beijo. Quem olhasse e não conhecesse as Capas de Invisibilidade levaria um tremendo susto, ao ver duas cabeças flutuantes se beijando. Cobriram-se e foram cada um em uma direção. Draco para as masmorras, perto das quais ficava a entrada para a Sonserina, enquanto que Janine foi para a Torre da Grifinória.
Se tivesse prestado atenção, teria ouvido uma respiração baixa e controlada. Assim que ela virou em uma esquina dos corredores, uma pessoa saiu debaixo de uma terceira Capa de Invisibilidade, espumando de ódio. Embora a serpente, símbolo da Casa Sonserina, seja um animal de sangue frio, seus membros certamente não o eram pois, pela expressão em seu rosto, o de Pansy Parkinson parecia estar prestes a entrar em ebulição, após a cena que acabara de presenciar.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
CAPÍTULO 8 - O DILEMA DE DRACO MALFOY
CAPÍTULO 8
O DILEMA DE DRACO MALFOY
Draco Malfoy estava sentado à mesa de uma das salas reservadas do Três Vassouras, desta vez sozinho. Já estivera nela e em outras por várias vezes, embora elas não fossem permitidas aos alunos. Porém, alguns galeões sorrateiramente escorregados para as mãos de Taylor, um dos funcionários de Madame Rosmerta, garantiam sua entrada por uma porta lateral. Isso sempre lhe fora útil, quando queria ficar mais à vontade com Pansy Parkinson, em situações mais ousadas, embora jamais tivessem ido até o fim. Não que não tivessem tido oportunidade, mas Draco julgava não ser a hora, queria que o momento, quando chegasse, fosse especial. E uma certeza ele tinha: não seria com Pansy.
Jamais revelara isso a ela, pois ela não acharia aquilo condizente com o estilo de um Malfoy, lascivo e oportunista. Mas será que ele era mesmo assim? Há algum tempo que já se questionava.
Suspirou e tirou do cano de uma de suas botas uma pequena garrafa achatada e curva, anatomicamente projetada para tal e colocou-a sobre a mesa. Desatarrachou a tampa e verteu em um pequeno copo uma dose do líquido âmbar que ela continha e que era parte de uma garrafa, subtraída do bar da mansão Malfoy, nas últimas férias de verão. Draco não bebia nada mais forte do que cerveja amanteigada mas, para as reflexões às quais se propunha naquele dia, julgava ser necessário deixar a lucidez um pouco de lado, o que não seria possível com o baixíssimo teor alcoólico da cerveja amanteigada ou mesmo da água de gilly. Então emborcou a dose e serviu mais uma, enquanto sentia o uísque de fogo descer por sua garganta, aquecendo-a de uma maneira que ele jamais sentira. Tampouco Draco fumava. O odor de cachimbos, charutos ou cigarros enchia-o de repugnância. Lembrava-se de como conseguira fazer seu pai abandonar o uso do cachimbo. Com fotos escaneadas de lesões cancerosas de boca, garganta e pulmão que acessara na internet, aliadas a argumentos de que tal doença ainda era um desafio para a medicina, tanto bruxa como trouxa, impressionara seu pai ao ponto de ele nunca mais ter colocado um cachimbo na boca. Quem diria... Lucius Malfoy, que tanto desprezava os trouxas, devia a eles e à sua tecnologia o fato de haver se livrado de desenvolver um câncer.
Na mansão Malfoy, em Wiltshire, os feitiços defensivos eram tantos que pifavam qualquer equipamento eletroeletrônico que não estivesse enfeitiçado. O único cômodo da casa que tinha tais equipamentos era o quarto de Draco, que misturava, em harmonia, decoração bruxa e trouxa, com aparelho de som, DVD, TV com tela plana, Home Theater,computador com drive combo e acesso à internet, etc. O pai não gostava, mas Draco o convencera de que aquilo o ajudaria a se infiltrar entre os trouxas para sondar informações que serviriam para o Lorde das Trevas. Para Voldemort. Tomando a segunda dose, Draco lembrava-se dos acontecimentos dos dois últimos verões...
Após o término do quarto ano, quando Diggory saíra morto do labirinto, trazido por Potter, ouvira o rumor de que o Lorde retornara. Ao chegar a Londres, já recuperado dos feitiços que os Inseparáveis lhe haviam lançado, fora direto para casa, onde sua mãe o aguardava na entrada. Narcisa abraçou e beijou o filho e disse:
_Draco, meu filho, seu pai está com uma visita muito importante na biblioteca e ambos querem vê-lo.
Ao entrar na biblioteca, involuntariamente sentiu um arrepio e achou melhor bloquear a mente, usando as lições de Oclumência que seu pai lhe ensinara desde criança. Foi o que o salvou pois, sentado em uma das poltronas junto à lareira, com um copo de uísque de fogo na mão e conversando animadamente com seu pai, encontrava-se Lord Voldemort em pessoa o qual, percebendo que Draco se aproximava disse, com sua voz gélida e sibilante:
_Lucius, meu amigo, meu braço direito. Este é o seu filho?
_Sim, meu Lorde. Este é Draco.
_Jovem Draco, não o vejo desde que era um bebê. Tornou-se bem parecido com o seu pai.
_Obrigado, meu Lorde. _ disse Draco, fazendo uma reverência e beijando a barra das vestes de Voldemort, como seu pai o havia ensinado a fazer. Intimamente agradecia pela Oclumência, que lhe permitia disfarçar o medo e a repugnância que aquela figura de rosto viperino lhe provocava.
_Jovem Draco, tenho certeza de que seguirá, com excelente desenvoltura, os passos de seu pai, sendo iniciado nos Death Eaters ao atingir a maioridade e, depois, tornando-se um general dos meus exércitos.
_Rogo para ser digno dessa honra, meu Lorde. _ respondeu Draco, tentando demonstrar o máximo de convicção possível.
_Pena você já não ser maior, para colaborar no meu Plano-Mestre, que bolei para ser executado agora, com o meu retorno. Com ele eu finalmente poderei destruir o único empecilho em minha volta ao poder, o jovem Harry Potter.
_E qual seria, meu Lorde? _ perguntou Draco, a curiosidade vencendo o medo que sentia dele.
_Acho que posso lhe dizer, jovem Draco pois você, assim como seu pai, goza do máximo de confiança que posso ter em alguém. Sei que você é cem por cento um Malfoy, portanto sua lealdade não vacilará. Pretendo obter o registro de uma profecia que foi feita sobre mim e Potter, antes que ele nascesse. No texto estão as pistas para destruí-lo.
_E onde estaria?
_No Departamento de Mistérios do Ministério da Magia. Seu pai será muito importante neste plano, pela influência que tem e pela desenvoltura com que circula por lá. Mas não quero cansá-lo, jovem Draco. Vejo que chegou de viagem e Hogwarts fica longe daqui. Vá para os seus aposentos descansar e tomar um banho, para tirar o cheiro de Dumbledore que fica impregnado nos alunos, ao final de cada ano. Agora preciso ir, Lucius. Não poderia deixar de passar aqui, nem que fosse só para filar um pouco do seu excelente uísque de fogo. Depois que eu me for, Lucius, pode reativar a defesa anti-desaparatação.
Draco despediu-se de Voldemort e, após o Lorde desaparatar, pediu licença a seu pai e subiu para o seu quarto.
De volta ao presente, Draco entornou goela adentro a terceira dose de uísque de fogo e ficou pensando: “Quando foi que comecei a sentir que a minha convicção começou a fraquejar? Será que eu, realmente, possuía alguma convicção? Algum dia eu, realmente, pensei em ser leal àquele monstro?” Sabia que, se Voldemort ganhasse a guerra que se aproximava todos os trouxas correriam perigo mortal, bem como os bruxos que a ele se opusessem. Os que se aliassem, acabariam por ser escravos. Alguns de escalão mais baixo, outros de escalão mais alto. Mesmo os próprios Death Eaters, a tropa de elite. Escravos de luxo mas, ainda assim, escravos. Voldemort também providenciaria para que se apagasse todo o possível da cultura trouxa, suas conquistas, artes, tecnologia, etc. Isso era algo que não agradava a Draco, pois muito da alegria de viver se perderia, bem como liberdade de escolha e de expressão. Isso era preocupante para Draco, porque ele finalmente admitia o que viera negando para si mesmo desde o segundo ano: Fora fisgado, irremediavelmente conquistado pela cultura trouxa, sua música, cinema, lazer, moda tecnologia, conquistas, afinal de contas eles haviam conseguido algo com o que nenhum bruxo jamais sonhara: pisar em outros mundos. Para os trouxas a Lua não era um corpo celeste distante, mas um local já conhecido. E tudo isso se perderia, caso Voldemort chegasse ao poder. Cada vez mais Draco se convencia de que aquilo não poderia ocorrer. Não depois dos acontecimentos das últimas férias de verão, as quais passara na Londres trouxa, para sua mãe e os demais bruxos das Trevas infiltrado entre eles mas, na verdade, vivendo e se divertindo como um adolescente trouxa (rico, é óbvio), impregnando-se de seu modo de vida. Aquilo não poderia acontecer agora, que ele estava vivendo uma fase totalmente nova.
Agora que ela entrara em sua vida.
A coisa mais importante que Draco julgava ter acontecido na sua vida, desde que recebera a carta anunciando sua vaga em Hogwarts, ocorrera no último verão.
Assim que desembarcara do Expresso de Hogwarts, já recuperado dos feitiços que novamente recebera, foi recepcionado por sua mãe na plataforma. Ambos entraram em um dos carros da família, um Rolls-Royce equipado com o que havia de melhor e mais recente em feitiços de ampliação interna e defesa. Narcisa então falou:
_Não vamos direto para casa, Draco. Iremos, primeiro, visitar seu pai.
_Vamos a Azkaban? _ perguntou Draco.
_Sim, meu filho. Só Merlin sabe quantos contatos tive de fazer e quais argumentos tive de usar para que nos autorizassem.
Com a fama de sua mãe e a reputação dos Malfoy bastante suja, principalmente após os últimos acontecimentos ele fazia uma idéia dos “contatos e argumentos”, mas era discreto o suficiente para não demonstrar o quanto aquilo o entristecia. Embarcaram no iate da família Malfoy, o “Belle Narcisse” que logo estava em alto mar, rumando para a ilha-presídio de Azkaban, a temida prisão dos bruxos. Ela localizava-se em uma ilha com uma pequena praia, dominada por um rochedo, em cujo interior localizavam-se os corredores e celas. Quando o iate entrou pela caverna que dava acesso ao ancoradouro, Draco não pôde deixar de sentir um arrepio como se, mesmo depois da debandada dos dementadores, seus poderes de sugar a alegria das pessoas ainda permanecesse impregnando aquelas paredes. Ao desembarcarem, dirigiram-se à entrada, onde foram submetidos a uma revista e o Auror da entrada recolheu as suas varinhas:
_Sra. Malfoy, jovem Sr. Malfoy, elas lhes serão devolvidas na saída, não se preocupem. Não é permitido o porte de varinhas não-autorizadas, pois elas acionam o sensor de atividades mágicas, instalado no ponto mais alto da ilha. Ele detecta feitiços executados por varinhas que não estejam registradas. Os únicos autorizados a portar varinhas em Azkaban são os Aurores.
Foram guiados por um outro Auror pelos corredores úmidos e frios, até a ala na qual localizava-se a cela de Lucius Malfoy. Como era hora de intervalo, ele encontrava-se jogando cartas com Rudolph Lestrange. Ao vê-los, sorriu cinicamente:
_Ao que devo a honra da visita?
Embora os Malfoy não fossem muito dados a demonstrações explícitas de afeto, Draco abraçou o pai e foi meio que correspondido. Lucius disse:
_Estava brincando. É bom ver vocês. Tenho muito o que contar. _ e, certificando-se de que não havia nenhum Auror por perto, continuou _ Fomos presos no Ministério... não se preocupem. Aqui não há feitiços de escuta. Bem, fomos presos por Dumbledore e seus malditos amigos. O registro da profecia se quebrou e o plano malogrou. Mas não podemos dizer que foi uma derrota total. O plano paralelo do Mestre continua e, em breve, estaremos de volta, vitoriosos _ e os olhos de Lucius começaram a assumir um brilho insano, fanático, enquanto ele falava _ e no final nós estaremos pisando sobre os corpos dos nossos inimigos, chafurdando no seu sangue e brindando com os crânios deles como cálices. A Ordem das Trevas triunfará. _ Draco percebia que sua mãe, embora não demonstrasse o fervor de seu pai, mostrava-se animada. _ e Harry Potter será um troféu para o Lorde das Trevas, subjugado e indefeso. O Mestre pretende privá-lo, lentamente, de tudo o que lhe for mais importante. Amigos, família, embora com parentes como aqueles, creio que o Mestre estaria prestando um favor ao Potter (Lucius não sabia que Harry e os Dursley estavam em relativa harmonia), até que ele peça para morrer. Mas o Mestre só o matará quando quiser.
_E esse plano já começou a ser executado. _ disse Rudolph _ Durante nosso combate, no Ministério, Harry Potter já perdeu alguém muito importante para ele. _ e Draco perguntou, chamando Lestrange pelo tratamento que usava desde criança:
_E quem era, Tio Rudy?
_O padrinho dele, o animago Sirius Black. Bellatrix o matou. _ e Draco entendeu o porque de Harry haver demonstrado tanta fúria contra ele no final do ano letivo, quase amaldiçoando-o naquela tarde. Olhou para sua mãe. Narcisa não demonstrava a menor emoção ante a notícia de que seu primo-irmão havia sido assassinado por sua irmã, Bellatrix. “Que família é essa” _ pensou Draco _ “na qual não se demonstra o menor sentimento pelo assassinato de um parente, ainda que renegado mas, mesmo assim, que partilhava do mesmo sangue?”
Continuando seu relato, Lestrange falou:
_E, após quase matar o Potter, o Lorde das Trevas e Bellatrix desaparataram. Devem estar em um dos muitos esconderijos do Mestre, traçando novos planos.
Draco pensou: “Se tia Bella é realmente tão devotada ao Lorde, creio que não são bem novos planos que ele deve estar traçando. Tio Rudy vai precisar de uma cela com um teto mais alto.”
Ao término da visita, despediram-se e Narcisa retirou-se, seguida por um pensativo e calado Draco. Narcisa interpretou seu silêncio como tristeza pela situação de seu pai:
_Eu sei, Draco, não é nada agradável estar encerrado nesta rocha, mas acredito que logo será dado um jeito de eles saírem.
_É, mamãe. Este lugar não faz bem a ninguém. _ respondeu Draco, ocultando da mãe seus verdadeiros pensamentos.
Na entrada receberam de volta suas varinhas e embarcaram no iate, rumo à costa e para casa, em Wiltshire, Draco ainda ruminando e tentando digerir o que vira e sentira.
Se tivesse prestado atenção teria percebido, em um recesso de uma das paredes do corredor da saída, um par de olhos azuis que cintilavam por detrás de óculos de meia-lua.
Chegando à Mansão Malfoy, uma casa senhorial em Wiltshire, protegida por toda espécie de feitiços de defesa e ocultamento, Draco pediu licença à mãe e foi direto para seus aposentos ordenando a Ziggy, seu criado particular, que levasse a bagagem. Chegando ao seu quarto, entrou, ligou o aparelho de som e colocou um CD. Logo o som da música do Coldplay espalhou-se pelo aposento. Gostava de vários grupos trouxas de pop e rock, menos do Oasis, pois achava os irmãos Gallagher um par de idiotas metidos e insuportáveis. Despiu-se e entrou na banheira de hidromassagem, tentando tirar o odor de Azkaban, do qual achava estar impregnado o seu corpo. Após o banho, trajou vestes confortáveis de casa e desceu para comer alguma coisa. A mãe havia saído, Draco imaginava para onde e para o que. Resolvido a não ficar muito tempo por ali, jantou e, em seguida chamou Ziggy.
_Pois não, jovem mestre? _ o elfo doméstico apareceu ao seu lado.
_Ziggy, vamos preparar minha bagagem. Vou para Londres.
_Mas e quanto à sua mãe? Ela esperava que o senhor fosse só daqui a um mês.
_Resolvi ir antes e ficar todo o tempo das férias infiltrado entre os trouxas. Desta vez não irei visitar os Parkinson.
_Vai pegar um táxi bruxo, jovem mestre?
_Não, Ziggy. Desta vez usarei o meu carro. Pode carregá-lo, enquanto deixo uma carta para minha mãe.
Enquanto Ziggy preparava a bagagem de Draco, com roupas e acessórios trouxas de grife, para que ele pudesse se passar por um adolescente trouxa rico, como já fizera antes, ele deixava uma carta para sua mãe:
“Mãe, não se preocupe comigo. Julguei ser melhor ir mais cedo para Londres, a fim de me infiltrar entre os trouxas. Passarei lá quase todo o período de férias. Não tentem me localizar e, sobretudo, não digam nada a Pansy. Lembre-se de que, nessa situação, é imprescindível que eu não tenha contato com bruxos. Desta vez irei com o meu próprio carro. Seu filho.
Draco”
Indo para a garagem, onde Ziggy terminava de carregar o porta-malas de seu carro, um Audi A3 verde-esmeralda, Draco disse a Ziggy:
_Lembre-se, você é o único que sabe onde estarei hospedado. Não tente entrar em contato comigo, a não ser que seja absolutamente necessário e, mesmo assim, pelos meios que combinamos, para que não nos possam rastrear.
_Sim, jovem mestre Draco.
_Ziggy, vou lhe fazer uma pergunta e gostaria que respondesse com sinceridade. Se a resposta for ofensiva aos seus amos, não precisa se castigar, OK?
_Sim,jovem mestre Draco.
_Se nós o libertássemos, você continuaria a trabalhar para nós, mesmo não sendo obrigado por magia, apenas por lealdade?
_Apenas por lealdade ao senhor, jovem mestre Draco.
_Lealdade a mim? Por que, Ziggy?
_Porque o senhor, jovem mestre Draco, é o único em quem o mal ainda não venceu. Seu pai entregou-se totalmente ao lado negro da magia, aliando-se Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Sua mãe está quase que totalmente entregue. Somente no senhor eu sinto o conflito e Ziggy percebe que o senhor poderá vencê-lo e fugir da Magia Negra.
_Você acha mesmo, Ziggy?
_Sim, jovem mestre Draco. O senhor luta internamente contra o mal e, se quiser, poderá vencer.
_Obrigado, Ziggy. Vamos manter segredo sobre esta nossa conversa, sim?
_Como o jovem mestre preferir.
Despedindo-se de Ziggy, Draco sentou-se ao volante do Audi e pôs-se a caminho de Londres. Lá chegando, registrou-se no Sheraton, onde já tinha uma suíte reservada.
_Sr. Malfoy, a suíte já está pronta. Como sempre, seu sigilo será preservado, assim como sempre fizemos com o seu pai.
_Obrigado. _ disse Draco e subiu.
Na suíte, ligou o computador e divertiu-se, navegando na internet pelos sites de músicas dos anos 80 e 90, que mais apreciava. The Smiths, Queen, Pet Shop Boys, Wham (caracas, como tinha gente “élfica” no meio musical naquele tempo), mas um de seus preferidos daquela época era o The Cure cujo vocalista, Robert Smith, tinha a aparência de um roqueiro bruxo. Pensou: “Que estranho existir essa doença incurável que já levou muita gente talentosa. Só espero que isso não se torne uma epidemia também entre os bruxos.” Cansado, desconectou-se e foi dormir.
No dia seguinte, resolveu ir a um lugar que ainda não conhecia, um shopping center trouxa recém inaugurado que ficava em outro ponto da cidade. Deixou seu carro no estacionamento e subiu para os níveis das lojas. Trajava-se como um adolescente trouxa rico, não despertando suspeitas. Procurou não exagerar para não parecer muito mauricinho: sapatênis Ferricelli, importados do Brasil; jeans Diesel; uma camisa esporte Brooksfield e uma jaqueta leve Hugo Boss, complementando o conjunto com óculos de sol Snowfly. Não estava destoando de nenhum dos outros rapazes da sua idade que por lá circulavam. Olhou vitrines, entrou em uma livraria e comprou um exemplar de “O Mais Longo dos Dias”. Sentou-se à mesa, na praça de alimentação e pediu um lanche leve, começando a ler o livro. Gostava de assuntos relacionados à II Guerra, quando muitos bruxos britânicos alistaram-se no exército dos trouxas, a fim de combater os nazistas. Pesquisando, soube que nem sempre e nem todos os Malfoy foram bruxos das Trevas. Descobriu que um tio de seu pai, Jean-Marc Malfoy D’Alembert havia feito parte dos Maquis na Resistência Francesa, sob o codinome Sebastian e infligido grandes danos aos invasores nazistas, tanto com magia quanto com balas. Obviamente fora considerado um traidor do sangue, já que a família apoiava os alemães por causa de seu aliado bruxo, Adolf Grindelwald, “A Varinha do Reich”. Quando o pai lhe contara, era muito pequeno mas, agora que tinha compreensão dos fatos, não compreendia por que os Malfoy apoiaram os nazistas. Ele próprio era um Malfoy, mas era inglês e gostava do seu país. À custa de muitos espirros, lendo livros empoeirados em setores pouco procurados da biblioteca de Hogwarts, rogando segredo a Madame Pince, descobrira que Dumbledore havia liderado um grupo de bruxos que combatera Grindelwald, sob as ordens do Primeiro-Ministro Sir Winston Churchill, o qual havia sido amigo pessoal de Dumbledore. Após um combate particularmente intenso e sangrento, Grindelwald fora vencido e, para não cair vivo nas mãos dos bruxos da Luz, apontara a varinha para o próprio peito e executara um Avada Kedavra, caindo morto aos pés de Dumbledore.
Perdido nesses pensamentos, Draco voltou à realidade quando ouviu uma voz, próximo de onde se encontrava, pedir ao balconista da lanchonete um Gatorade, falando o inglês com um sotaque latino, mas com uma cadência e uma musicalidade que ele jamais ouvira antes. Olhou na direção de onde vinha a voz e foi então que tudo aconteceu e o raio o atingiu.
Todo o ar saiu de seus pulmões e ele pareceu não ver nada mais à sua volta por alguns segundos, somente tendo olhos para a visão à sua frente. Voltando à realidade, seu primeiro pensamento foi: “Se os anjos realmente existem, um deles acabou de descer à Terra.” A garota era cerca de meia cabeça menor do que ele, pele bronzeada, cabelos castanhos com reflexos loiro-mel, presos em um rabo-de-cavalo, um rosto angelical, com covinhas e um furinho no queixo, iluminado por um par de olhos azuis, não acinzentados como os seus, mas semelhantes a duas águas-marinhas cintilantes, lembrando um pouco os de Dumbledore. Vestia um abrigo esportivo em rosa e branco, que realçava suas curvas. Tinha seios médios e firmes sob um top vermelho, curto o suficiente para revelar um abdome torneado pela atividade física exibindo, no umbigo, o que mais lhe chamara a atenção: um piercing em ouro branco, com um pingente representando um pequeno dragão, muito semelhante ao que ele mesmo usava em um cordão, no pescoço. Completavam o conjunto os tênis Asics Gel Nimbus (ora, mas que coincidência) que ela calçava e a mochila às costas, em cuja bolsa lateral via-se um squeeze. O típico visual de quem acabara de sair da academia.
Juntaram-se a ela mais duas amigas e elas, após tomarem o Gatorade retiraram-se, não sem antes prestarem atenção e trocarem comentários em voz baixa sobre o “gatinho loiro que lia um livro na mesa vizinha.” Pouco tempo depois Draco também retirou-se e retornou para o hotel.
No dia seguinte, sem que percebesse, estava estacionando no mesmo shopping e seus passos dirigiram-se para a praça de alimentação, não sem que ele antes passasse em frente à academia do shopping, onde aquela expressão da beleza estava a malhar. Quando Draco se deu por conta, estava repetindo aquele procedimento por quase uma semana.
Estando mais uma vez a ler notou que, em uma mesa próxima, o grupo de garotas, agora acrescido de mais uma, cochichava e aquela verdadeira pintura não tirava os olhos dele. Resolvido a travar conhecimento com ela, fez menção de se levantar mas, ao prestar atenção viu que ela estava ali, parada ao seu lado.
_Com licença _ disse ela, com aquela voz macia e aquele sotaque melodioso _ , eu e minhas amigas notamos que você tem vindo todos os dias ao shopping nesse horário, justo quando estamos saindo da academia.
_É para me certificar de que você é real e não uma miragem, pois jamais encontrei uma garota tão linda.
Corando levemente ante a sinceridade demonstrada por Draco, a garota convidou:
_Venha sentar-se conosco. Qual é o seu nome?
_Malfoy, Draco Malfoy.
_Parente de Lucius Malfoy, o magnata do comércio internacional? O misterioso bilionário excêntrico que quase não aparece em público?
Draco sorriu e disse:
_Ele mesmo. Sou filho dele mas, ao contrário, não me importo em me expor um pouco mais. Me responda, por favor, de onde é esse sotaque tão musical que eu jamais ouvi. Você não é inglesa, acertei?
_Acertou. Sou do Brasil, mais especificamente do Rio Grande do Sul. Meu nome é Janine Sandoval. Aquelas são minhas amigas, Lauren Collingwood, Shanna O’Rourke e Pamela Worthington. Dividimos um apartamento aqui perto. Pamela veio morar conosco nesta semana, respondendo a um anúncio.
Durante a conversa com as garotas, Draco ficou sabendo que Janine era filha de um coronel do Exército Brasileiro, já falecido, que havia servido anteriormente como adido militar na Embaixada do Brasil na Inglaterra. Desde criança convivera com constantes mudanças e conhecera outros países e costumes. Do pai, herdara o gosto por esportes radicais, algo que nem mesmo a morte dele, em um acidente de pára-quedas que ela presenciara, pudera diminuir. Surfava, escalava montanhas, saltava de pára-quedas, mergulhava, nadava, corria, praticava artes marciais e malhava, para manter o corpo e a mente em ordem. Estava na Inglaterra a fim de se preparar para um curso superior de História, com ênfase em ocultismo, civilizações e idiomas antigos. Ela perguntou sobre Draco, onde vivia e onde estudava. Ele disse:
_Minha escola fica no norte do país. É bastante exclusiva, seletiva, antiga e prende-se a moldes tradicionais, em sistema de internato misto, com os alunos divididos em Casas, como era a maior parte das escolas no século XIX. Ficamos meio que isolados do restante do mundo, para que nada nos desvie das atividades.
_E o que vocês aprendem lá?
_Bem, nosso currículo é reservado, mas posso dizer que aprendemos a aprimorar as habilidades que possuímos, a fim de sermos melhores cidadãos e utilizá-las para o benefício da comunidade.
_E como mantêm o contato com as famílias, em caso de necessidade?
_Temos meios para isso, embora não disponhamos de internet ou telefones. Mantemos comunicação através de métodos antigos, tais como aves treinadas além, é lógico, do correio comum.
_Que interessante. Não sabia que ainda existiam escolas tão tradicionais. Mesmo Eton já se rendeu à informatização.
Continuaram conversando boa parte da tarde. Uma certa hora, Janine disse:
_Preciso ir, Draco. Gostaria de vê-lo novamente. O que acha de um cinema?
_Adoro. Que tipo de filmes?
_Clássicos da II Guerra. Gosta?
_São os meus preferidos. Quando podemos nos encontrar?
_Amanhã às 18:00 h, no nosso condomínio. Aqui está o endereço. _ anotou em uma folha de um pequeno bloco personalizado, destacou-a e entregou-a a Draco. Em seguida saiu, acompanhada das amigas. Draco ainda pôde ver a parte superior de uma tatuagem tribal aparecendo acima da cintura da calça do abrigo que ela usava.
Após a saída de Janine, Draco retornou para o hotel, sentindo-se levitar. Mal acreditava que conversara com aquele anjo e que fora convidado para sair. Com certeza Merlin o estava olhando com melhores olhos.
Na noite seguinte, às 18:00 h, Draco Malfoy apertava a campainha do apartamento de Janine, tendo em suas mãos um arranjo de orquídeas. Janine atendeu à porta, cumprimentou Draco e mostrou-se maravilhada com as flores. Draco disse:
_Achei que combinariam com você. A orquídea combina raridade e beleza, sendo uma flor especial. Assim, deve ser destinada para pessoas especiais. _ ela lhe deu um beijo no rosto e ele lhe ofereceu o braço. Saíram para o cinema. A sala ficava na escola de Janine e estava exibindo um ciclo de filmes clássicos ambientados durante a II Guerra. Coincidentemente o filme daquela noite era um que Draco ainda não havia assistido: “Casablanca”, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergmann. Janine adorava esse filme. Durante a exibição, Draco solidarizou-se com a dor de Rick Blaine ao julgar que Ilsa o traíra, emocionando-se com o diálogo final, no aeroporto, antes do avião decolar rumo a Lisboa. Sem que percebessem, as mãos de Draco e Janine se procuraram e permaneceram dadas, com os dedos entrelaçados. Após o final do filme, não as soltaram.
Ao deixá-la em seu apartamento, com a promessa de que iriam se ver no dia seguinte, Draco e Janine primeiro roçaram seus lábios em um beijo ingênuo, que tornou-se mais ardente quando as línguas se tocaram. Draco disse:
_É melhor eu ir. Mal posso esperar para que nos vejamos, amanhã.
_Eu também, Draco. Boa noite.
_Boa noite, Janine.
A caminho do hotel, Draco sentia-se tão leve que poderia voar sem vassoura. Pela primeira vez na vida sentia que aproximavam-se dele apenas por ser Draco, não por ser Malfoy. Somente se preocupava em como diria a ela que era um bruxo, se fosse preciso. Mas aquilo poderia ficar para depois. Ligando o rádio em uma emissora ao acaso, ouviu-se a voz de Frank Sinatra cantando “Fly Me To The Moon”. Era assim que ele se sentia, a ponto de voar até a Lua.
“Que garota! Me apaixonei!”
Durante aqueles meses, os quais coincidiam com as férias da escola de Janine, os dois viam-se quase todos os dias. Passearam, foram ao cinema, ao teatro, trocaram presentes, Draco tendo dado a ela dois CDs, um das Esquisitonas e um do Pena de Fênix e recebendo dela outros dois, com coletâneas de pop rock brasileiro, fizeram piqueniques no parque, Draco acompanhou-a na prática de várias atividades esportivas, admirado com o seu próprio preparo (“Deve ser o Quadribol”, pensou). Mas o mais incrível estava para vir.
Depois de alguma, não muita insistência,Draco fez um curso de paraquedismo. Na hora do salto para a concessão do certificado ele, que jamais havia voado em algo que não tivesse cabo e cerdas, olhou para baixo e ficou um pouco preocupado, mas apenas por um instante, pois recordava-se das instruções e o sorriso de Janine, mais bela do que nunca naquele macacão de salto, com capacete e óculos, o deixava muito tranqüilo. Nem mesmo o fato de estar se jogando de um avião a uma grande altitude pôde superar a sensação de liberdade, com o vento batendo no rosto a uma grande velocidade. Ao puxar o retentor e liberar o velame, passando a cair devagar e controlando a trajetória, até aterrar no ponto marcado, ao lado de Janine, Draco Malfoy sentia-se verdadeiramente feliz.
As férias caminhavam para o seu final e Draco precisava retornar, afinal precisava ir ao Beco Diagonal para comprar o material do sexto ano. Ele preferia fazer isso pessoalmente em vez de delegar a tarefa a um elfo ou a outro criado. Naquela noite ele e Janine jantaram juntos em um restaurante onde havia uma pista de dança. Ao ouvir o pianista tocar “As Time Goes By”, não resistiu e a chamou para dançar. Ficaram dançando, não só aquela, mas várias outras músicas românticas trouxas. Na hora de irem embora...
_Draco...
_Sim, Janine?
_Esta será nossa última noite juntos, antes de nos separarmos para o início de nossas aulas.
_É verdade. Queria que esta noite não terminasse nunca.
_Mas ela terminará, Draco. Só não precisa terminar agora. Eu te quero, mais do que nunca.
_Eu também, Janine. Nunca senti por ninguém o que sinto por você.
Subiram para a suíte de Draco que, assim que chegaram, colocou um CD no aparelho e, ao som de uma coletânea romântica bastante eclética, com Phil Collins, Sarah Brightman, Gloria Estefan, Cranberries, Carly Simon, Sade e outros, abraçaram-se e beijaram-se, como se aquela fosse não apenas a última noite em que ficariam juntos, mas a última noite de suas vidas. Terminaram deitados na cama, suas mãos e bocas explorando toda a extensão de seus corpos, até que, tomadas as devidas precauções, uniram-se para celebrar o amor que sentiam um pelo outro. Atingiram juntos o clímax, pontualmente à meia-noite, quando o som aveludado do Big Ben começava a anunciar o início de um novo dia.
_Que estranho, Draco. _ murmurou Janine, ainda em êxtase.
_O que é estranho, Janine? _ perguntou Draco, também em um estado no qual sentia-se capaz de levitar. Havia sido a primeira vez de ambos.
_Eu seria capaz de jurar que o Big Ben deu treze badaladas à meia-noite, mas isso seria impossível, não seria?
Draco não disse nada. Apenas sorriu. Adormeceram abraçados.
Na manhã seguinte demonstraram novamente o seu amor, de uma forma mais suave. Separaram-se, relutantemente. Draco disse:
_Então, você já sabe. A única agência que envia cartas para a minha escola fica na estação de King’s Cross. Basta colocar na caixa vermelha, que é exclusiva para nós. Minhas cartas chegarão através de aves treinadas, na sua maior parte, corujas, pois elas viajam à noite e sabem se defender de predadores. Se quiser pode mandar a resposta pela mesma ave. Prometo que nenhuma de suas cartas ficará sem resposta e que voltaremos a nos ver o mais breve possível.
Deixou-a em seu apartamento e voltou ao hotel, para fechar sua conta e retornar para casa, sentindo-se o mais feliz dos homens. Amava um verdadeiro anjo em forma de mulher e era correspondido. Só não poderia dizer nada em casa, pois o fato dela ser cem por cento trouxa com certeza não agradaria. Pensaria depois na melhor maneira de dizer a Janine sobre as suas “habilidades”.
Voltando ao presente...
Draco estava voltando de suas lembranças, sentindo-se meio tonto pelas doses de uísque de fogo consumidas, mas estava prestes a escolher seu caminho. A carta que recebera de casa naquela manhã havia precipitado os acontecimentos. Uma coruja a entregara na hora do café e, ao lê-la, sentiu o chão sumir sob seus pés. Ela dizia:
“Draco, meu filho. É chegado o momento de receber a maior honra que você pode imaginar. O Mestre julgou que você tem condições de, mesmo antes de atingir a maioridade, ser iniciado, assim como vários de seus amigos, para reforçar as fileiras do seu exército. A cerimônia está prevista para as férias de Natal. Quanto à garota trouxa com quem você tem se encontrado durante as últimas férias, é bom que tenha sido apenas uma diversão ou que, melhor ainda, você a esteja preparando. Ela é jovem, bonita e será um excelente cordeiro. Seja digno da honra que lhe cabe. Tenho certeza de que você estará à altura do que o Mestre espera e que, logo, terá um status igual ao do seu pai, mostrando-se apto a seguir os passos dele.
Sua mãe
Narcisa”
Draco ainda tinha em mãos aquele pergaminho. Não podia acreditar que havia sido seguido e vigiado e, principalmente, que soubessem de Janine e, o que é pior, estivessem planejando sacrificá-la em uma estúpida cerimônia de iniciação que os tornaria eternamente ligados àquele monstro do Voldemort. Ficara impressionado com o brilho no olhar de Pansy Parkinson, que também havia recebido uma carta semelhante de seus pais, fiéis seguidores do Lorde das Trevas. Decididamente, não era aquilo que Draco queria para si. Era um adolescente de dezesseis anos, queria viver sua juventude e aproveitar as boas coisas do mundo, principalmente o amor que, pela primeira vez, viera a conhecer. Lembrou-se, também de que sua omissão poderia ter contribuído para a morte de Sirius. Uma furtiva e solitária lágrima rolou por sua face e ele, finalmente, tomou sua decisão. Iria falar com Dumbledore para tentar proteger Janine da maneira que fosse possível. Poderia até não combater ao lado de Dumbledore mas, com certeza, jamais se alistaria nas fileiras do exército de Voldemort. Nunca seguiria os passos do pai, para se tornar um maldito Death Eater como ele. Nunca. Jamais. Sua decisão estava tomada e era irrevogável.
Tomou o resto do uísque de fogo que ainda havia na garrafa e guardou-a. Tirou um pequeno frasco do bolso da jaqueta e bebeu todo o seu conteúdo, sentindo a tontura e a embriaguez desaparecerem, com o efeito da Poção Para Curar Bebedeiras. Agora, totalmente lúcido e convicto do que deveria fazer, saiu da sala reservada e retirou-se do Três Vassouras, despedindo-se de Madame Rosmerta e indo para a rua. Olhando na direção da casa de chá de Madame Pudifoot, viu Harry e Gina saindo e pensou em Janine e na falta que sentia dela, ainda que estivessem mantendo um fluxo constante de correspondência. Dirigiu-se para o castelo, com a alma leve, como se tivesse nascido de novo. Tomara sua decisão e escolhera seu caminho. Agora era manter-se nele.
À noite, todos divertiram-se muito com a festa do Dia das Bruxas que, a cada ano, ficava ainda melhor. Para aquele ano, Hagrid havia se superado no cultivo das abóboras. Estavam de excelente qualidade. Bandos de morcegos treinados voavam em formação, executando complicadas acrobacias em vôo. Um grupo de alunos que estivera ensaiando em segredo, encenou uma pequena peça sobre a fundação da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a qual arrancou entusiásticos aplausos da assistência. Depois de todos haverem se deliciado com o banquete servido (parabéns, novamente, aos elfos domésticos), após o encerramento Draco aproximou-se de Dumbledore que estava conversando com Harry e disse:
_Por favor, Prof. Dumbledore, eu poderia lhe falar, reservadamente?
_Certamente, Sr. Malfoy. Me aguarde em frente à entrada de minha sala.
Cerca de dez minutos depois, Dumbledore chegava à entrada e dizia para a gárgula: “Bananas Carameladas”. Imediatamente a estátua abriu caminho e surgiu a escada em espiral. Entraram no gabinete do Diretor e Dumbledore conjurou uma poltrona de chintz para Draco, que sentou-se. Em seguida, perguntou:
_O que deseja me dizer, Sr. Malfoy?
Draco abriu o coração, contando a Dumbledore tudo o que se lembrava dos dois últimos períodos de férias, de como sabia do retorno de Voldemort, da repugnância que sentira, de como gostava cada vez mais da cultura trouxa, da entrevista que tivera com o pai, do namoro com Janine e de quanto a amava e, principalmente, do perigo que ela estava correndo. Mas, quando chegou à parte que envolvia os fatos do ano anterior...
_E eu não consigo deixar de pensar, Prof. Dumbledore, que, mesmo já estando em dúvida sobre se deveria ser leal àquele monstro ou não, eu me omiti e essa omissão pode ter contribuído para a morte de... e as palavras lhe faltaram. Tudo o que estivera represado por anos rompera a barragem e, em meio a um choro convulsivo, no qual as lágrimas desciam livremente tentava dizer:
_Posso ter contribuído para que Sirius morresse, com minha omissão sobre os fatos de que eu tinha conhecimento. Posso não gostar do Potter, mas jamais o quis morto, nem passando por uma perda como essa. Sirius era o que ele tinha de mais próximo de um pai e agora está morto. Meu elfo, Ziggy, disse que podia sentir a luz e as trevas em conflito dentro de mim e que eu poderia vencer o lado negro.
_E ele está certo. Você pode e já está lutando para isso, rompendo com o Partido das Trevas.
_E ainda há o fato, professor, de que eu quero me retratar com o Potter, mas não sei como. Acho que ele jamais me perdoaria, se soubesse. Além disso, Janine está em perigo e eu não queria que ela sofresse qualquer mal por minha causa, professor. Eu a amo e não poderia viver com a culpa, se algo lhe acontecesse... _ e sua garganta travou, o pranto liberado.
Dumbledore aproximou-se e o abraçou, como um avô faria com um neto, dizendo:
_Não se desespere, Draco. Você não tem culpa nenhuma sobre o que aconteceu. Eu já sabia sobre a profecia, mesmo antes de Voldemort lhe contar. Sirius foi aquela noite ao Ministério porque nenhuma força no mundo poderia mantê-lo em casa, com Harry naquela situação. E durante a batalha, ele tanto poderia ter como não ter morrido. Foi uma fatalidade. Só nos resta seguir em frente e lutar como ele, por certo, iria querer que fizessemos. Quanto a Harry, acredito que, em vista da sua gradativa mudança de comportamento e personalidade, Draco, ele irá lhe compreender e irá perdoá-lo, embora você não tenha culpa, como eu já disse. Agora, resta planejar como poderemos colocar a Srta. Sandoval em segurança. Para isso, não conheço melhor lugar do que Hogwarts. Ela sempre tem os portões abertos para aqueles que dela necessitarem.
_Mesmo ela sendo cem por cento trouxa, professor?
_Mas claro. É um ser humano como nós e eu acredito que aqui ela encontraria, não somente a segurança, mas também a continuidade dos seus estudos.
_Em uma escola de magia?
_Ela estuda História, com ênfase em civilizações e línguas antigas, além de Ocultismo. Que lugar melhor do que aqui?
_Seria a primeira trouxa a estudar em Hogwarts...
_Desde os mais de mil anos de sua fundação. Também não nego que estou curioso para saber como o Chapéu Seletor faria a seleção de um trouxa, que critérios usaria.
_Pode parecer estranho, professor, mas eu aposto que o melhor lugar seria a Grifinória, pelo perfil dela e pelo fato de que lá ela estaria junto ao Potter e sua turma, os Inseparáveis.
_Que, eu notei, você não chama mais de “Insuportáveis”. _ comentou Dumbledore, divertido.
_Como o senhor disse, professor, estou mudando meu perfil. Chega de ser o Bad Boy da escola.
_Creio que há alguém que vai poder nos ajudar, e muito, a resgatar e contrabandear a Srta. Sandoval para Hogwarts, de uma maneira que não pareça muito... chocante.
_Eu entendo. Chave de Portal e Pó de Flu estão fora de questão. O choque seria muito grande para ela. Estou certo de que ela também estranharia o Nôitibus. Só nos resta o Expresso de Hogwarts, na Plataforma 9 ½. Mas quem seria esse alguém, professor?
_Já está chegando, via Flu.
A lareira iluminou-se, com chamas verde-esmeralda e de dentro dela saiu...
_Tonks! _ exclamou Draco, surpreso.
_E aí, beleza, primo? Dumbledore, já está tudo pronto. Toda a burocracia da transferência está resolvida. Só falta planejar como será o resgate. Para mim o melhor dia seria amanhã mesmo, pois ela estará na academia do shopping, pela manhã.
_Como você sabe sobre a academia, Tonks? _ perguntou Draco.
_Para mim é fácil, pois eu a freqüento. _ e, instantaneamente, a metamorfomaga assumiu a aparência de...
_Pamela Worthington! Era você o tempo todo, Tonks?
_Sim, Draco. Primeiro eu estava vigiando você em Londres, com outra aparência. Quando vi que você estava se interessando por Janine, primeiro desconfiei de você mas, depois, quando vi que estavam apaixonados, mantive meu disfarce, a fim de proteger vocês dois. Havia bruxos das Trevas te vigiando, Draco. Na noite que Janine e você passaram juntos, por exemplo (e Draco enrubesceu, sob o olhar curioso e divertido de Dumbledore), eu precisei apagar a memória do cara que te vigiava. Aqueles malditos nunca confiaram inteiramente em você. Querem forçá-lo a se tornar um Death Eater e também que sacrifique Janine, como prova de lealdade.
_Isso jamais. _ disse Draco, os olhos cintilando de fúria.
_Não se preocupe, Draco. _ disse calmamente Dumbledore. _ Acho que já bolei um plano que, tenho certeza, dará certo. Pode começar a escrever o que eu vou ditar.
Draco pegou a pena, inclinou-se sobre o pergaminho e começou a escrever uma mensagem para Janine.
O DILEMA DE DRACO MALFOY
Draco Malfoy estava sentado à mesa de uma das salas reservadas do Três Vassouras, desta vez sozinho. Já estivera nela e em outras por várias vezes, embora elas não fossem permitidas aos alunos. Porém, alguns galeões sorrateiramente escorregados para as mãos de Taylor, um dos funcionários de Madame Rosmerta, garantiam sua entrada por uma porta lateral. Isso sempre lhe fora útil, quando queria ficar mais à vontade com Pansy Parkinson, em situações mais ousadas, embora jamais tivessem ido até o fim. Não que não tivessem tido oportunidade, mas Draco julgava não ser a hora, queria que o momento, quando chegasse, fosse especial. E uma certeza ele tinha: não seria com Pansy.
Jamais revelara isso a ela, pois ela não acharia aquilo condizente com o estilo de um Malfoy, lascivo e oportunista. Mas será que ele era mesmo assim? Há algum tempo que já se questionava.
Suspirou e tirou do cano de uma de suas botas uma pequena garrafa achatada e curva, anatomicamente projetada para tal e colocou-a sobre a mesa. Desatarrachou a tampa e verteu em um pequeno copo uma dose do líquido âmbar que ela continha e que era parte de uma garrafa, subtraída do bar da mansão Malfoy, nas últimas férias de verão. Draco não bebia nada mais forte do que cerveja amanteigada mas, para as reflexões às quais se propunha naquele dia, julgava ser necessário deixar a lucidez um pouco de lado, o que não seria possível com o baixíssimo teor alcoólico da cerveja amanteigada ou mesmo da água de gilly. Então emborcou a dose e serviu mais uma, enquanto sentia o uísque de fogo descer por sua garganta, aquecendo-a de uma maneira que ele jamais sentira. Tampouco Draco fumava. O odor de cachimbos, charutos ou cigarros enchia-o de repugnância. Lembrava-se de como conseguira fazer seu pai abandonar o uso do cachimbo. Com fotos escaneadas de lesões cancerosas de boca, garganta e pulmão que acessara na internet, aliadas a argumentos de que tal doença ainda era um desafio para a medicina, tanto bruxa como trouxa, impressionara seu pai ao ponto de ele nunca mais ter colocado um cachimbo na boca. Quem diria... Lucius Malfoy, que tanto desprezava os trouxas, devia a eles e à sua tecnologia o fato de haver se livrado de desenvolver um câncer.
Na mansão Malfoy, em Wiltshire, os feitiços defensivos eram tantos que pifavam qualquer equipamento eletroeletrônico que não estivesse enfeitiçado. O único cômodo da casa que tinha tais equipamentos era o quarto de Draco, que misturava, em harmonia, decoração bruxa e trouxa, com aparelho de som, DVD, TV com tela plana, Home Theater,computador com drive combo e acesso à internet, etc. O pai não gostava, mas Draco o convencera de que aquilo o ajudaria a se infiltrar entre os trouxas para sondar informações que serviriam para o Lorde das Trevas. Para Voldemort. Tomando a segunda dose, Draco lembrava-se dos acontecimentos dos dois últimos verões...
Após o término do quarto ano, quando Diggory saíra morto do labirinto, trazido por Potter, ouvira o rumor de que o Lorde retornara. Ao chegar a Londres, já recuperado dos feitiços que os Inseparáveis lhe haviam lançado, fora direto para casa, onde sua mãe o aguardava na entrada. Narcisa abraçou e beijou o filho e disse:
_Draco, meu filho, seu pai está com uma visita muito importante na biblioteca e ambos querem vê-lo.
Ao entrar na biblioteca, involuntariamente sentiu um arrepio e achou melhor bloquear a mente, usando as lições de Oclumência que seu pai lhe ensinara desde criança. Foi o que o salvou pois, sentado em uma das poltronas junto à lareira, com um copo de uísque de fogo na mão e conversando animadamente com seu pai, encontrava-se Lord Voldemort em pessoa o qual, percebendo que Draco se aproximava disse, com sua voz gélida e sibilante:
_Lucius, meu amigo, meu braço direito. Este é o seu filho?
_Sim, meu Lorde. Este é Draco.
_Jovem Draco, não o vejo desde que era um bebê. Tornou-se bem parecido com o seu pai.
_Obrigado, meu Lorde. _ disse Draco, fazendo uma reverência e beijando a barra das vestes de Voldemort, como seu pai o havia ensinado a fazer. Intimamente agradecia pela Oclumência, que lhe permitia disfarçar o medo e a repugnância que aquela figura de rosto viperino lhe provocava.
_Jovem Draco, tenho certeza de que seguirá, com excelente desenvoltura, os passos de seu pai, sendo iniciado nos Death Eaters ao atingir a maioridade e, depois, tornando-se um general dos meus exércitos.
_Rogo para ser digno dessa honra, meu Lorde. _ respondeu Draco, tentando demonstrar o máximo de convicção possível.
_Pena você já não ser maior, para colaborar no meu Plano-Mestre, que bolei para ser executado agora, com o meu retorno. Com ele eu finalmente poderei destruir o único empecilho em minha volta ao poder, o jovem Harry Potter.
_E qual seria, meu Lorde? _ perguntou Draco, a curiosidade vencendo o medo que sentia dele.
_Acho que posso lhe dizer, jovem Draco pois você, assim como seu pai, goza do máximo de confiança que posso ter em alguém. Sei que você é cem por cento um Malfoy, portanto sua lealdade não vacilará. Pretendo obter o registro de uma profecia que foi feita sobre mim e Potter, antes que ele nascesse. No texto estão as pistas para destruí-lo.
_E onde estaria?
_No Departamento de Mistérios do Ministério da Magia. Seu pai será muito importante neste plano, pela influência que tem e pela desenvoltura com que circula por lá. Mas não quero cansá-lo, jovem Draco. Vejo que chegou de viagem e Hogwarts fica longe daqui. Vá para os seus aposentos descansar e tomar um banho, para tirar o cheiro de Dumbledore que fica impregnado nos alunos, ao final de cada ano. Agora preciso ir, Lucius. Não poderia deixar de passar aqui, nem que fosse só para filar um pouco do seu excelente uísque de fogo. Depois que eu me for, Lucius, pode reativar a defesa anti-desaparatação.
Draco despediu-se de Voldemort e, após o Lorde desaparatar, pediu licença a seu pai e subiu para o seu quarto.
De volta ao presente, Draco entornou goela adentro a terceira dose de uísque de fogo e ficou pensando: “Quando foi que comecei a sentir que a minha convicção começou a fraquejar? Será que eu, realmente, possuía alguma convicção? Algum dia eu, realmente, pensei em ser leal àquele monstro?” Sabia que, se Voldemort ganhasse a guerra que se aproximava todos os trouxas correriam perigo mortal, bem como os bruxos que a ele se opusessem. Os que se aliassem, acabariam por ser escravos. Alguns de escalão mais baixo, outros de escalão mais alto. Mesmo os próprios Death Eaters, a tropa de elite. Escravos de luxo mas, ainda assim, escravos. Voldemort também providenciaria para que se apagasse todo o possível da cultura trouxa, suas conquistas, artes, tecnologia, etc. Isso era algo que não agradava a Draco, pois muito da alegria de viver se perderia, bem como liberdade de escolha e de expressão. Isso era preocupante para Draco, porque ele finalmente admitia o que viera negando para si mesmo desde o segundo ano: Fora fisgado, irremediavelmente conquistado pela cultura trouxa, sua música, cinema, lazer, moda tecnologia, conquistas, afinal de contas eles haviam conseguido algo com o que nenhum bruxo jamais sonhara: pisar em outros mundos. Para os trouxas a Lua não era um corpo celeste distante, mas um local já conhecido. E tudo isso se perderia, caso Voldemort chegasse ao poder. Cada vez mais Draco se convencia de que aquilo não poderia ocorrer. Não depois dos acontecimentos das últimas férias de verão, as quais passara na Londres trouxa, para sua mãe e os demais bruxos das Trevas infiltrado entre eles mas, na verdade, vivendo e se divertindo como um adolescente trouxa (rico, é óbvio), impregnando-se de seu modo de vida. Aquilo não poderia acontecer agora, que ele estava vivendo uma fase totalmente nova.
Agora que ela entrara em sua vida.
A coisa mais importante que Draco julgava ter acontecido na sua vida, desde que recebera a carta anunciando sua vaga em Hogwarts, ocorrera no último verão.
Assim que desembarcara do Expresso de Hogwarts, já recuperado dos feitiços que novamente recebera, foi recepcionado por sua mãe na plataforma. Ambos entraram em um dos carros da família, um Rolls-Royce equipado com o que havia de melhor e mais recente em feitiços de ampliação interna e defesa. Narcisa então falou:
_Não vamos direto para casa, Draco. Iremos, primeiro, visitar seu pai.
_Vamos a Azkaban? _ perguntou Draco.
_Sim, meu filho. Só Merlin sabe quantos contatos tive de fazer e quais argumentos tive de usar para que nos autorizassem.
Com a fama de sua mãe e a reputação dos Malfoy bastante suja, principalmente após os últimos acontecimentos ele fazia uma idéia dos “contatos e argumentos”, mas era discreto o suficiente para não demonstrar o quanto aquilo o entristecia. Embarcaram no iate da família Malfoy, o “Belle Narcisse” que logo estava em alto mar, rumando para a ilha-presídio de Azkaban, a temida prisão dos bruxos. Ela localizava-se em uma ilha com uma pequena praia, dominada por um rochedo, em cujo interior localizavam-se os corredores e celas. Quando o iate entrou pela caverna que dava acesso ao ancoradouro, Draco não pôde deixar de sentir um arrepio como se, mesmo depois da debandada dos dementadores, seus poderes de sugar a alegria das pessoas ainda permanecesse impregnando aquelas paredes. Ao desembarcarem, dirigiram-se à entrada, onde foram submetidos a uma revista e o Auror da entrada recolheu as suas varinhas:
_Sra. Malfoy, jovem Sr. Malfoy, elas lhes serão devolvidas na saída, não se preocupem. Não é permitido o porte de varinhas não-autorizadas, pois elas acionam o sensor de atividades mágicas, instalado no ponto mais alto da ilha. Ele detecta feitiços executados por varinhas que não estejam registradas. Os únicos autorizados a portar varinhas em Azkaban são os Aurores.
Foram guiados por um outro Auror pelos corredores úmidos e frios, até a ala na qual localizava-se a cela de Lucius Malfoy. Como era hora de intervalo, ele encontrava-se jogando cartas com Rudolph Lestrange. Ao vê-los, sorriu cinicamente:
_Ao que devo a honra da visita?
Embora os Malfoy não fossem muito dados a demonstrações explícitas de afeto, Draco abraçou o pai e foi meio que correspondido. Lucius disse:
_Estava brincando. É bom ver vocês. Tenho muito o que contar. _ e, certificando-se de que não havia nenhum Auror por perto, continuou _ Fomos presos no Ministério... não se preocupem. Aqui não há feitiços de escuta. Bem, fomos presos por Dumbledore e seus malditos amigos. O registro da profecia se quebrou e o plano malogrou. Mas não podemos dizer que foi uma derrota total. O plano paralelo do Mestre continua e, em breve, estaremos de volta, vitoriosos _ e os olhos de Lucius começaram a assumir um brilho insano, fanático, enquanto ele falava _ e no final nós estaremos pisando sobre os corpos dos nossos inimigos, chafurdando no seu sangue e brindando com os crânios deles como cálices. A Ordem das Trevas triunfará. _ Draco percebia que sua mãe, embora não demonstrasse o fervor de seu pai, mostrava-se animada. _ e Harry Potter será um troféu para o Lorde das Trevas, subjugado e indefeso. O Mestre pretende privá-lo, lentamente, de tudo o que lhe for mais importante. Amigos, família, embora com parentes como aqueles, creio que o Mestre estaria prestando um favor ao Potter (Lucius não sabia que Harry e os Dursley estavam em relativa harmonia), até que ele peça para morrer. Mas o Mestre só o matará quando quiser.
_E esse plano já começou a ser executado. _ disse Rudolph _ Durante nosso combate, no Ministério, Harry Potter já perdeu alguém muito importante para ele. _ e Draco perguntou, chamando Lestrange pelo tratamento que usava desde criança:
_E quem era, Tio Rudy?
_O padrinho dele, o animago Sirius Black. Bellatrix o matou. _ e Draco entendeu o porque de Harry haver demonstrado tanta fúria contra ele no final do ano letivo, quase amaldiçoando-o naquela tarde. Olhou para sua mãe. Narcisa não demonstrava a menor emoção ante a notícia de que seu primo-irmão havia sido assassinado por sua irmã, Bellatrix. “Que família é essa” _ pensou Draco _ “na qual não se demonstra o menor sentimento pelo assassinato de um parente, ainda que renegado mas, mesmo assim, que partilhava do mesmo sangue?”
Continuando seu relato, Lestrange falou:
_E, após quase matar o Potter, o Lorde das Trevas e Bellatrix desaparataram. Devem estar em um dos muitos esconderijos do Mestre, traçando novos planos.
Draco pensou: “Se tia Bella é realmente tão devotada ao Lorde, creio que não são bem novos planos que ele deve estar traçando. Tio Rudy vai precisar de uma cela com um teto mais alto.”
Ao término da visita, despediram-se e Narcisa retirou-se, seguida por um pensativo e calado Draco. Narcisa interpretou seu silêncio como tristeza pela situação de seu pai:
_Eu sei, Draco, não é nada agradável estar encerrado nesta rocha, mas acredito que logo será dado um jeito de eles saírem.
_É, mamãe. Este lugar não faz bem a ninguém. _ respondeu Draco, ocultando da mãe seus verdadeiros pensamentos.
Na entrada receberam de volta suas varinhas e embarcaram no iate, rumo à costa e para casa, em Wiltshire, Draco ainda ruminando e tentando digerir o que vira e sentira.
Se tivesse prestado atenção teria percebido, em um recesso de uma das paredes do corredor da saída, um par de olhos azuis que cintilavam por detrás de óculos de meia-lua.
Chegando à Mansão Malfoy, uma casa senhorial em Wiltshire, protegida por toda espécie de feitiços de defesa e ocultamento, Draco pediu licença à mãe e foi direto para seus aposentos ordenando a Ziggy, seu criado particular, que levasse a bagagem. Chegando ao seu quarto, entrou, ligou o aparelho de som e colocou um CD. Logo o som da música do Coldplay espalhou-se pelo aposento. Gostava de vários grupos trouxas de pop e rock, menos do Oasis, pois achava os irmãos Gallagher um par de idiotas metidos e insuportáveis. Despiu-se e entrou na banheira de hidromassagem, tentando tirar o odor de Azkaban, do qual achava estar impregnado o seu corpo. Após o banho, trajou vestes confortáveis de casa e desceu para comer alguma coisa. A mãe havia saído, Draco imaginava para onde e para o que. Resolvido a não ficar muito tempo por ali, jantou e, em seguida chamou Ziggy.
_Pois não, jovem mestre? _ o elfo doméstico apareceu ao seu lado.
_Ziggy, vamos preparar minha bagagem. Vou para Londres.
_Mas e quanto à sua mãe? Ela esperava que o senhor fosse só daqui a um mês.
_Resolvi ir antes e ficar todo o tempo das férias infiltrado entre os trouxas. Desta vez não irei visitar os Parkinson.
_Vai pegar um táxi bruxo, jovem mestre?
_Não, Ziggy. Desta vez usarei o meu carro. Pode carregá-lo, enquanto deixo uma carta para minha mãe.
Enquanto Ziggy preparava a bagagem de Draco, com roupas e acessórios trouxas de grife, para que ele pudesse se passar por um adolescente trouxa rico, como já fizera antes, ele deixava uma carta para sua mãe:
“Mãe, não se preocupe comigo. Julguei ser melhor ir mais cedo para Londres, a fim de me infiltrar entre os trouxas. Passarei lá quase todo o período de férias. Não tentem me localizar e, sobretudo, não digam nada a Pansy. Lembre-se de que, nessa situação, é imprescindível que eu não tenha contato com bruxos. Desta vez irei com o meu próprio carro. Seu filho.
Draco”
Indo para a garagem, onde Ziggy terminava de carregar o porta-malas de seu carro, um Audi A3 verde-esmeralda, Draco disse a Ziggy:
_Lembre-se, você é o único que sabe onde estarei hospedado. Não tente entrar em contato comigo, a não ser que seja absolutamente necessário e, mesmo assim, pelos meios que combinamos, para que não nos possam rastrear.
_Sim, jovem mestre Draco.
_Ziggy, vou lhe fazer uma pergunta e gostaria que respondesse com sinceridade. Se a resposta for ofensiva aos seus amos, não precisa se castigar, OK?
_Sim,jovem mestre Draco.
_Se nós o libertássemos, você continuaria a trabalhar para nós, mesmo não sendo obrigado por magia, apenas por lealdade?
_Apenas por lealdade ao senhor, jovem mestre Draco.
_Lealdade a mim? Por que, Ziggy?
_Porque o senhor, jovem mestre Draco, é o único em quem o mal ainda não venceu. Seu pai entregou-se totalmente ao lado negro da magia, aliando-se Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Sua mãe está quase que totalmente entregue. Somente no senhor eu sinto o conflito e Ziggy percebe que o senhor poderá vencê-lo e fugir da Magia Negra.
_Você acha mesmo, Ziggy?
_Sim, jovem mestre Draco. O senhor luta internamente contra o mal e, se quiser, poderá vencer.
_Obrigado, Ziggy. Vamos manter segredo sobre esta nossa conversa, sim?
_Como o jovem mestre preferir.
Despedindo-se de Ziggy, Draco sentou-se ao volante do Audi e pôs-se a caminho de Londres. Lá chegando, registrou-se no Sheraton, onde já tinha uma suíte reservada.
_Sr. Malfoy, a suíte já está pronta. Como sempre, seu sigilo será preservado, assim como sempre fizemos com o seu pai.
_Obrigado. _ disse Draco e subiu.
Na suíte, ligou o computador e divertiu-se, navegando na internet pelos sites de músicas dos anos 80 e 90, que mais apreciava. The Smiths, Queen, Pet Shop Boys, Wham (caracas, como tinha gente “élfica” no meio musical naquele tempo), mas um de seus preferidos daquela época era o The Cure cujo vocalista, Robert Smith, tinha a aparência de um roqueiro bruxo. Pensou: “Que estranho existir essa doença incurável que já levou muita gente talentosa. Só espero que isso não se torne uma epidemia também entre os bruxos.” Cansado, desconectou-se e foi dormir.
No dia seguinte, resolveu ir a um lugar que ainda não conhecia, um shopping center trouxa recém inaugurado que ficava em outro ponto da cidade. Deixou seu carro no estacionamento e subiu para os níveis das lojas. Trajava-se como um adolescente trouxa rico, não despertando suspeitas. Procurou não exagerar para não parecer muito mauricinho: sapatênis Ferricelli, importados do Brasil; jeans Diesel; uma camisa esporte Brooksfield e uma jaqueta leve Hugo Boss, complementando o conjunto com óculos de sol Snowfly. Não estava destoando de nenhum dos outros rapazes da sua idade que por lá circulavam. Olhou vitrines, entrou em uma livraria e comprou um exemplar de “O Mais Longo dos Dias”. Sentou-se à mesa, na praça de alimentação e pediu um lanche leve, começando a ler o livro. Gostava de assuntos relacionados à II Guerra, quando muitos bruxos britânicos alistaram-se no exército dos trouxas, a fim de combater os nazistas. Pesquisando, soube que nem sempre e nem todos os Malfoy foram bruxos das Trevas. Descobriu que um tio de seu pai, Jean-Marc Malfoy D’Alembert havia feito parte dos Maquis na Resistência Francesa, sob o codinome Sebastian e infligido grandes danos aos invasores nazistas, tanto com magia quanto com balas. Obviamente fora considerado um traidor do sangue, já que a família apoiava os alemães por causa de seu aliado bruxo, Adolf Grindelwald, “A Varinha do Reich”. Quando o pai lhe contara, era muito pequeno mas, agora que tinha compreensão dos fatos, não compreendia por que os Malfoy apoiaram os nazistas. Ele próprio era um Malfoy, mas era inglês e gostava do seu país. À custa de muitos espirros, lendo livros empoeirados em setores pouco procurados da biblioteca de Hogwarts, rogando segredo a Madame Pince, descobrira que Dumbledore havia liderado um grupo de bruxos que combatera Grindelwald, sob as ordens do Primeiro-Ministro Sir Winston Churchill, o qual havia sido amigo pessoal de Dumbledore. Após um combate particularmente intenso e sangrento, Grindelwald fora vencido e, para não cair vivo nas mãos dos bruxos da Luz, apontara a varinha para o próprio peito e executara um Avada Kedavra, caindo morto aos pés de Dumbledore.
Perdido nesses pensamentos, Draco voltou à realidade quando ouviu uma voz, próximo de onde se encontrava, pedir ao balconista da lanchonete um Gatorade, falando o inglês com um sotaque latino, mas com uma cadência e uma musicalidade que ele jamais ouvira antes. Olhou na direção de onde vinha a voz e foi então que tudo aconteceu e o raio o atingiu.
Todo o ar saiu de seus pulmões e ele pareceu não ver nada mais à sua volta por alguns segundos, somente tendo olhos para a visão à sua frente. Voltando à realidade, seu primeiro pensamento foi: “Se os anjos realmente existem, um deles acabou de descer à Terra.” A garota era cerca de meia cabeça menor do que ele, pele bronzeada, cabelos castanhos com reflexos loiro-mel, presos em um rabo-de-cavalo, um rosto angelical, com covinhas e um furinho no queixo, iluminado por um par de olhos azuis, não acinzentados como os seus, mas semelhantes a duas águas-marinhas cintilantes, lembrando um pouco os de Dumbledore. Vestia um abrigo esportivo em rosa e branco, que realçava suas curvas. Tinha seios médios e firmes sob um top vermelho, curto o suficiente para revelar um abdome torneado pela atividade física exibindo, no umbigo, o que mais lhe chamara a atenção: um piercing em ouro branco, com um pingente representando um pequeno dragão, muito semelhante ao que ele mesmo usava em um cordão, no pescoço. Completavam o conjunto os tênis Asics Gel Nimbus (ora, mas que coincidência) que ela calçava e a mochila às costas, em cuja bolsa lateral via-se um squeeze. O típico visual de quem acabara de sair da academia.
Juntaram-se a ela mais duas amigas e elas, após tomarem o Gatorade retiraram-se, não sem antes prestarem atenção e trocarem comentários em voz baixa sobre o “gatinho loiro que lia um livro na mesa vizinha.” Pouco tempo depois Draco também retirou-se e retornou para o hotel.
No dia seguinte, sem que percebesse, estava estacionando no mesmo shopping e seus passos dirigiram-se para a praça de alimentação, não sem que ele antes passasse em frente à academia do shopping, onde aquela expressão da beleza estava a malhar. Quando Draco se deu por conta, estava repetindo aquele procedimento por quase uma semana.
Estando mais uma vez a ler notou que, em uma mesa próxima, o grupo de garotas, agora acrescido de mais uma, cochichava e aquela verdadeira pintura não tirava os olhos dele. Resolvido a travar conhecimento com ela, fez menção de se levantar mas, ao prestar atenção viu que ela estava ali, parada ao seu lado.
_Com licença _ disse ela, com aquela voz macia e aquele sotaque melodioso _ , eu e minhas amigas notamos que você tem vindo todos os dias ao shopping nesse horário, justo quando estamos saindo da academia.
_É para me certificar de que você é real e não uma miragem, pois jamais encontrei uma garota tão linda.
Corando levemente ante a sinceridade demonstrada por Draco, a garota convidou:
_Venha sentar-se conosco. Qual é o seu nome?
_Malfoy, Draco Malfoy.
_Parente de Lucius Malfoy, o magnata do comércio internacional? O misterioso bilionário excêntrico que quase não aparece em público?
Draco sorriu e disse:
_Ele mesmo. Sou filho dele mas, ao contrário, não me importo em me expor um pouco mais. Me responda, por favor, de onde é esse sotaque tão musical que eu jamais ouvi. Você não é inglesa, acertei?
_Acertou. Sou do Brasil, mais especificamente do Rio Grande do Sul. Meu nome é Janine Sandoval. Aquelas são minhas amigas, Lauren Collingwood, Shanna O’Rourke e Pamela Worthington. Dividimos um apartamento aqui perto. Pamela veio morar conosco nesta semana, respondendo a um anúncio.
Durante a conversa com as garotas, Draco ficou sabendo que Janine era filha de um coronel do Exército Brasileiro, já falecido, que havia servido anteriormente como adido militar na Embaixada do Brasil na Inglaterra. Desde criança convivera com constantes mudanças e conhecera outros países e costumes. Do pai, herdara o gosto por esportes radicais, algo que nem mesmo a morte dele, em um acidente de pára-quedas que ela presenciara, pudera diminuir. Surfava, escalava montanhas, saltava de pára-quedas, mergulhava, nadava, corria, praticava artes marciais e malhava, para manter o corpo e a mente em ordem. Estava na Inglaterra a fim de se preparar para um curso superior de História, com ênfase em ocultismo, civilizações e idiomas antigos. Ela perguntou sobre Draco, onde vivia e onde estudava. Ele disse:
_Minha escola fica no norte do país. É bastante exclusiva, seletiva, antiga e prende-se a moldes tradicionais, em sistema de internato misto, com os alunos divididos em Casas, como era a maior parte das escolas no século XIX. Ficamos meio que isolados do restante do mundo, para que nada nos desvie das atividades.
_E o que vocês aprendem lá?
_Bem, nosso currículo é reservado, mas posso dizer que aprendemos a aprimorar as habilidades que possuímos, a fim de sermos melhores cidadãos e utilizá-las para o benefício da comunidade.
_E como mantêm o contato com as famílias, em caso de necessidade?
_Temos meios para isso, embora não disponhamos de internet ou telefones. Mantemos comunicação através de métodos antigos, tais como aves treinadas além, é lógico, do correio comum.
_Que interessante. Não sabia que ainda existiam escolas tão tradicionais. Mesmo Eton já se rendeu à informatização.
Continuaram conversando boa parte da tarde. Uma certa hora, Janine disse:
_Preciso ir, Draco. Gostaria de vê-lo novamente. O que acha de um cinema?
_Adoro. Que tipo de filmes?
_Clássicos da II Guerra. Gosta?
_São os meus preferidos. Quando podemos nos encontrar?
_Amanhã às 18:00 h, no nosso condomínio. Aqui está o endereço. _ anotou em uma folha de um pequeno bloco personalizado, destacou-a e entregou-a a Draco. Em seguida saiu, acompanhada das amigas. Draco ainda pôde ver a parte superior de uma tatuagem tribal aparecendo acima da cintura da calça do abrigo que ela usava.
Após a saída de Janine, Draco retornou para o hotel, sentindo-se levitar. Mal acreditava que conversara com aquele anjo e que fora convidado para sair. Com certeza Merlin o estava olhando com melhores olhos.
Na noite seguinte, às 18:00 h, Draco Malfoy apertava a campainha do apartamento de Janine, tendo em suas mãos um arranjo de orquídeas. Janine atendeu à porta, cumprimentou Draco e mostrou-se maravilhada com as flores. Draco disse:
_Achei que combinariam com você. A orquídea combina raridade e beleza, sendo uma flor especial. Assim, deve ser destinada para pessoas especiais. _ ela lhe deu um beijo no rosto e ele lhe ofereceu o braço. Saíram para o cinema. A sala ficava na escola de Janine e estava exibindo um ciclo de filmes clássicos ambientados durante a II Guerra. Coincidentemente o filme daquela noite era um que Draco ainda não havia assistido: “Casablanca”, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergmann. Janine adorava esse filme. Durante a exibição, Draco solidarizou-se com a dor de Rick Blaine ao julgar que Ilsa o traíra, emocionando-se com o diálogo final, no aeroporto, antes do avião decolar rumo a Lisboa. Sem que percebessem, as mãos de Draco e Janine se procuraram e permaneceram dadas, com os dedos entrelaçados. Após o final do filme, não as soltaram.
Ao deixá-la em seu apartamento, com a promessa de que iriam se ver no dia seguinte, Draco e Janine primeiro roçaram seus lábios em um beijo ingênuo, que tornou-se mais ardente quando as línguas se tocaram. Draco disse:
_É melhor eu ir. Mal posso esperar para que nos vejamos, amanhã.
_Eu também, Draco. Boa noite.
_Boa noite, Janine.
A caminho do hotel, Draco sentia-se tão leve que poderia voar sem vassoura. Pela primeira vez na vida sentia que aproximavam-se dele apenas por ser Draco, não por ser Malfoy. Somente se preocupava em como diria a ela que era um bruxo, se fosse preciso. Mas aquilo poderia ficar para depois. Ligando o rádio em uma emissora ao acaso, ouviu-se a voz de Frank Sinatra cantando “Fly Me To The Moon”. Era assim que ele se sentia, a ponto de voar até a Lua.
“Que garota! Me apaixonei!”
Durante aqueles meses, os quais coincidiam com as férias da escola de Janine, os dois viam-se quase todos os dias. Passearam, foram ao cinema, ao teatro, trocaram presentes, Draco tendo dado a ela dois CDs, um das Esquisitonas e um do Pena de Fênix e recebendo dela outros dois, com coletâneas de pop rock brasileiro, fizeram piqueniques no parque, Draco acompanhou-a na prática de várias atividades esportivas, admirado com o seu próprio preparo (“Deve ser o Quadribol”, pensou). Mas o mais incrível estava para vir.
Depois de alguma, não muita insistência,Draco fez um curso de paraquedismo. Na hora do salto para a concessão do certificado ele, que jamais havia voado em algo que não tivesse cabo e cerdas, olhou para baixo e ficou um pouco preocupado, mas apenas por um instante, pois recordava-se das instruções e o sorriso de Janine, mais bela do que nunca naquele macacão de salto, com capacete e óculos, o deixava muito tranqüilo. Nem mesmo o fato de estar se jogando de um avião a uma grande altitude pôde superar a sensação de liberdade, com o vento batendo no rosto a uma grande velocidade. Ao puxar o retentor e liberar o velame, passando a cair devagar e controlando a trajetória, até aterrar no ponto marcado, ao lado de Janine, Draco Malfoy sentia-se verdadeiramente feliz.
As férias caminhavam para o seu final e Draco precisava retornar, afinal precisava ir ao Beco Diagonal para comprar o material do sexto ano. Ele preferia fazer isso pessoalmente em vez de delegar a tarefa a um elfo ou a outro criado. Naquela noite ele e Janine jantaram juntos em um restaurante onde havia uma pista de dança. Ao ouvir o pianista tocar “As Time Goes By”, não resistiu e a chamou para dançar. Ficaram dançando, não só aquela, mas várias outras músicas românticas trouxas. Na hora de irem embora...
_Draco...
_Sim, Janine?
_Esta será nossa última noite juntos, antes de nos separarmos para o início de nossas aulas.
_É verdade. Queria que esta noite não terminasse nunca.
_Mas ela terminará, Draco. Só não precisa terminar agora. Eu te quero, mais do que nunca.
_Eu também, Janine. Nunca senti por ninguém o que sinto por você.
Subiram para a suíte de Draco que, assim que chegaram, colocou um CD no aparelho e, ao som de uma coletânea romântica bastante eclética, com Phil Collins, Sarah Brightman, Gloria Estefan, Cranberries, Carly Simon, Sade e outros, abraçaram-se e beijaram-se, como se aquela fosse não apenas a última noite em que ficariam juntos, mas a última noite de suas vidas. Terminaram deitados na cama, suas mãos e bocas explorando toda a extensão de seus corpos, até que, tomadas as devidas precauções, uniram-se para celebrar o amor que sentiam um pelo outro. Atingiram juntos o clímax, pontualmente à meia-noite, quando o som aveludado do Big Ben começava a anunciar o início de um novo dia.
_Que estranho, Draco. _ murmurou Janine, ainda em êxtase.
_O que é estranho, Janine? _ perguntou Draco, também em um estado no qual sentia-se capaz de levitar. Havia sido a primeira vez de ambos.
_Eu seria capaz de jurar que o Big Ben deu treze badaladas à meia-noite, mas isso seria impossível, não seria?
Draco não disse nada. Apenas sorriu. Adormeceram abraçados.
Na manhã seguinte demonstraram novamente o seu amor, de uma forma mais suave. Separaram-se, relutantemente. Draco disse:
_Então, você já sabe. A única agência que envia cartas para a minha escola fica na estação de King’s Cross. Basta colocar na caixa vermelha, que é exclusiva para nós. Minhas cartas chegarão através de aves treinadas, na sua maior parte, corujas, pois elas viajam à noite e sabem se defender de predadores. Se quiser pode mandar a resposta pela mesma ave. Prometo que nenhuma de suas cartas ficará sem resposta e que voltaremos a nos ver o mais breve possível.
Deixou-a em seu apartamento e voltou ao hotel, para fechar sua conta e retornar para casa, sentindo-se o mais feliz dos homens. Amava um verdadeiro anjo em forma de mulher e era correspondido. Só não poderia dizer nada em casa, pois o fato dela ser cem por cento trouxa com certeza não agradaria. Pensaria depois na melhor maneira de dizer a Janine sobre as suas “habilidades”.
Voltando ao presente...
Draco estava voltando de suas lembranças, sentindo-se meio tonto pelas doses de uísque de fogo consumidas, mas estava prestes a escolher seu caminho. A carta que recebera de casa naquela manhã havia precipitado os acontecimentos. Uma coruja a entregara na hora do café e, ao lê-la, sentiu o chão sumir sob seus pés. Ela dizia:
“Draco, meu filho. É chegado o momento de receber a maior honra que você pode imaginar. O Mestre julgou que você tem condições de, mesmo antes de atingir a maioridade, ser iniciado, assim como vários de seus amigos, para reforçar as fileiras do seu exército. A cerimônia está prevista para as férias de Natal. Quanto à garota trouxa com quem você tem se encontrado durante as últimas férias, é bom que tenha sido apenas uma diversão ou que, melhor ainda, você a esteja preparando. Ela é jovem, bonita e será um excelente cordeiro. Seja digno da honra que lhe cabe. Tenho certeza de que você estará à altura do que o Mestre espera e que, logo, terá um status igual ao do seu pai, mostrando-se apto a seguir os passos dele.
Sua mãe
Narcisa”
Draco ainda tinha em mãos aquele pergaminho. Não podia acreditar que havia sido seguido e vigiado e, principalmente, que soubessem de Janine e, o que é pior, estivessem planejando sacrificá-la em uma estúpida cerimônia de iniciação que os tornaria eternamente ligados àquele monstro do Voldemort. Ficara impressionado com o brilho no olhar de Pansy Parkinson, que também havia recebido uma carta semelhante de seus pais, fiéis seguidores do Lorde das Trevas. Decididamente, não era aquilo que Draco queria para si. Era um adolescente de dezesseis anos, queria viver sua juventude e aproveitar as boas coisas do mundo, principalmente o amor que, pela primeira vez, viera a conhecer. Lembrou-se, também de que sua omissão poderia ter contribuído para a morte de Sirius. Uma furtiva e solitária lágrima rolou por sua face e ele, finalmente, tomou sua decisão. Iria falar com Dumbledore para tentar proteger Janine da maneira que fosse possível. Poderia até não combater ao lado de Dumbledore mas, com certeza, jamais se alistaria nas fileiras do exército de Voldemort. Nunca seguiria os passos do pai, para se tornar um maldito Death Eater como ele. Nunca. Jamais. Sua decisão estava tomada e era irrevogável.
Tomou o resto do uísque de fogo que ainda havia na garrafa e guardou-a. Tirou um pequeno frasco do bolso da jaqueta e bebeu todo o seu conteúdo, sentindo a tontura e a embriaguez desaparecerem, com o efeito da Poção Para Curar Bebedeiras. Agora, totalmente lúcido e convicto do que deveria fazer, saiu da sala reservada e retirou-se do Três Vassouras, despedindo-se de Madame Rosmerta e indo para a rua. Olhando na direção da casa de chá de Madame Pudifoot, viu Harry e Gina saindo e pensou em Janine e na falta que sentia dela, ainda que estivessem mantendo um fluxo constante de correspondência. Dirigiu-se para o castelo, com a alma leve, como se tivesse nascido de novo. Tomara sua decisão e escolhera seu caminho. Agora era manter-se nele.
À noite, todos divertiram-se muito com a festa do Dia das Bruxas que, a cada ano, ficava ainda melhor. Para aquele ano, Hagrid havia se superado no cultivo das abóboras. Estavam de excelente qualidade. Bandos de morcegos treinados voavam em formação, executando complicadas acrobacias em vôo. Um grupo de alunos que estivera ensaiando em segredo, encenou uma pequena peça sobre a fundação da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a qual arrancou entusiásticos aplausos da assistência. Depois de todos haverem se deliciado com o banquete servido (parabéns, novamente, aos elfos domésticos), após o encerramento Draco aproximou-se de Dumbledore que estava conversando com Harry e disse:
_Por favor, Prof. Dumbledore, eu poderia lhe falar, reservadamente?
_Certamente, Sr. Malfoy. Me aguarde em frente à entrada de minha sala.
Cerca de dez minutos depois, Dumbledore chegava à entrada e dizia para a gárgula: “Bananas Carameladas”. Imediatamente a estátua abriu caminho e surgiu a escada em espiral. Entraram no gabinete do Diretor e Dumbledore conjurou uma poltrona de chintz para Draco, que sentou-se. Em seguida, perguntou:
_O que deseja me dizer, Sr. Malfoy?
Draco abriu o coração, contando a Dumbledore tudo o que se lembrava dos dois últimos períodos de férias, de como sabia do retorno de Voldemort, da repugnância que sentira, de como gostava cada vez mais da cultura trouxa, da entrevista que tivera com o pai, do namoro com Janine e de quanto a amava e, principalmente, do perigo que ela estava correndo. Mas, quando chegou à parte que envolvia os fatos do ano anterior...
_E eu não consigo deixar de pensar, Prof. Dumbledore, que, mesmo já estando em dúvida sobre se deveria ser leal àquele monstro ou não, eu me omiti e essa omissão pode ter contribuído para a morte de... e as palavras lhe faltaram. Tudo o que estivera represado por anos rompera a barragem e, em meio a um choro convulsivo, no qual as lágrimas desciam livremente tentava dizer:
_Posso ter contribuído para que Sirius morresse, com minha omissão sobre os fatos de que eu tinha conhecimento. Posso não gostar do Potter, mas jamais o quis morto, nem passando por uma perda como essa. Sirius era o que ele tinha de mais próximo de um pai e agora está morto. Meu elfo, Ziggy, disse que podia sentir a luz e as trevas em conflito dentro de mim e que eu poderia vencer o lado negro.
_E ele está certo. Você pode e já está lutando para isso, rompendo com o Partido das Trevas.
_E ainda há o fato, professor, de que eu quero me retratar com o Potter, mas não sei como. Acho que ele jamais me perdoaria, se soubesse. Além disso, Janine está em perigo e eu não queria que ela sofresse qualquer mal por minha causa, professor. Eu a amo e não poderia viver com a culpa, se algo lhe acontecesse... _ e sua garganta travou, o pranto liberado.
Dumbledore aproximou-se e o abraçou, como um avô faria com um neto, dizendo:
_Não se desespere, Draco. Você não tem culpa nenhuma sobre o que aconteceu. Eu já sabia sobre a profecia, mesmo antes de Voldemort lhe contar. Sirius foi aquela noite ao Ministério porque nenhuma força no mundo poderia mantê-lo em casa, com Harry naquela situação. E durante a batalha, ele tanto poderia ter como não ter morrido. Foi uma fatalidade. Só nos resta seguir em frente e lutar como ele, por certo, iria querer que fizessemos. Quanto a Harry, acredito que, em vista da sua gradativa mudança de comportamento e personalidade, Draco, ele irá lhe compreender e irá perdoá-lo, embora você não tenha culpa, como eu já disse. Agora, resta planejar como poderemos colocar a Srta. Sandoval em segurança. Para isso, não conheço melhor lugar do que Hogwarts. Ela sempre tem os portões abertos para aqueles que dela necessitarem.
_Mesmo ela sendo cem por cento trouxa, professor?
_Mas claro. É um ser humano como nós e eu acredito que aqui ela encontraria, não somente a segurança, mas também a continuidade dos seus estudos.
_Em uma escola de magia?
_Ela estuda História, com ênfase em civilizações e línguas antigas, além de Ocultismo. Que lugar melhor do que aqui?
_Seria a primeira trouxa a estudar em Hogwarts...
_Desde os mais de mil anos de sua fundação. Também não nego que estou curioso para saber como o Chapéu Seletor faria a seleção de um trouxa, que critérios usaria.
_Pode parecer estranho, professor, mas eu aposto que o melhor lugar seria a Grifinória, pelo perfil dela e pelo fato de que lá ela estaria junto ao Potter e sua turma, os Inseparáveis.
_Que, eu notei, você não chama mais de “Insuportáveis”. _ comentou Dumbledore, divertido.
_Como o senhor disse, professor, estou mudando meu perfil. Chega de ser o Bad Boy da escola.
_Creio que há alguém que vai poder nos ajudar, e muito, a resgatar e contrabandear a Srta. Sandoval para Hogwarts, de uma maneira que não pareça muito... chocante.
_Eu entendo. Chave de Portal e Pó de Flu estão fora de questão. O choque seria muito grande para ela. Estou certo de que ela também estranharia o Nôitibus. Só nos resta o Expresso de Hogwarts, na Plataforma 9 ½. Mas quem seria esse alguém, professor?
_Já está chegando, via Flu.
A lareira iluminou-se, com chamas verde-esmeralda e de dentro dela saiu...
_Tonks! _ exclamou Draco, surpreso.
_E aí, beleza, primo? Dumbledore, já está tudo pronto. Toda a burocracia da transferência está resolvida. Só falta planejar como será o resgate. Para mim o melhor dia seria amanhã mesmo, pois ela estará na academia do shopping, pela manhã.
_Como você sabe sobre a academia, Tonks? _ perguntou Draco.
_Para mim é fácil, pois eu a freqüento. _ e, instantaneamente, a metamorfomaga assumiu a aparência de...
_Pamela Worthington! Era você o tempo todo, Tonks?
_Sim, Draco. Primeiro eu estava vigiando você em Londres, com outra aparência. Quando vi que você estava se interessando por Janine, primeiro desconfiei de você mas, depois, quando vi que estavam apaixonados, mantive meu disfarce, a fim de proteger vocês dois. Havia bruxos das Trevas te vigiando, Draco. Na noite que Janine e você passaram juntos, por exemplo (e Draco enrubesceu, sob o olhar curioso e divertido de Dumbledore), eu precisei apagar a memória do cara que te vigiava. Aqueles malditos nunca confiaram inteiramente em você. Querem forçá-lo a se tornar um Death Eater e também que sacrifique Janine, como prova de lealdade.
_Isso jamais. _ disse Draco, os olhos cintilando de fúria.
_Não se preocupe, Draco. _ disse calmamente Dumbledore. _ Acho que já bolei um plano que, tenho certeza, dará certo. Pode começar a escrever o que eu vou ditar.
Draco pegou a pena, inclinou-se sobre o pergaminho e começou a escrever uma mensagem para Janine.
CAPÍTULO 7 - AS ARMAÇÕES DESARMADAS
CAPÍTULO 7
AS ARMAÇÕES DESARMADAS
O mês de outubro avançava e todos tinham muito o que fazer. Além do que já tinham, a temporada de Quadribol aproximava-se, o que significava um aumento na carga dos jogadores, em função dos treinamentos. As reuniões da AD iam bem, obrigado. Os membros iam ficando cada vez melhores, alguns até começavam a mostrar alguma habilidade no controle do Ki e iam superando limites.
Cho Chang não era um deles.
Por conta de sua obsessão por Harry, somada à raiva que sentia de Gina, ela não conseguia atingir o estado de equilíbrio necessário para o domínio e utilização do Ki e isso a desesperava, criando um círculo vicioso. Por conta disso, tentava irritar Gina, insinuando-se para Harry sempre que podia e sendo sempre polidamente ignorada. Isso não perturbava a harmonia interior de Gina, pois ela sabia que Harry nada mais sentia pela jovem chinesa. O problema era que as pessoas estavam começando a notar o clima azedo que estava se instalando, até que em uma sessão...
_Cho Chang! Virgínia Weasley! Shiai-Kumite! _ Disse o Prof. Mason.
_Tem certeza de que é seguro confrontar as duas, professor? _ perguntou Harry.
_Fique tranqüilo, Harry. Gina sabe se defender.
_Eu sei, professor. Estou preocupado com o que ela pode fazer com a Cho. Se Gina não maneirar na força, vai mastigá-la e cuspi-la no tatame em menos de um minuto.
_Vá por mim, Harry. Vai ser melhor deixar as duas extravasarem um pouco de energia. Se a coisa fugir do controle, paralisamos as duas e mandamos para Madame Pomfrey consertar.
_Então, tudo bem. _ concordou Harry, ainda meio apreensivo.
As duas postaram-se uma em frenta à outra, chispas de ódio cintilando nos olhos de Cho, contrastando com a total tranqüilidade de Gina. Cho assumiu uma posição Zenkutsu-dachi e Gina, em Kiba-dachi, apenas a observava, estudando a adversária.
Sem aviso, Cho atacou com um Mawashi-geri, capaz de partir um tijolo. Gina apenas se desviou, um segundo antes do pé passar por onde estivera sua cabeça. Agachou-se e executou uma rasteira na perna de apoio de Cho que a fez cair, constrangedoramente, sentada no chão. Retornou à posição inicial e ficou esperando pelo novo ataque de Cho que não demorou, vindo sob a forma de um Shuto com a direita, ao que Gina girou seu corpo pelo lado de fora, deixando que Cho passasse direto e atingindo-a nas costelas, com um Empi. Meio sem ar, Cho voltou à carga, tentando fintá-la, fingindo um ataque Seiken mas, na última hora, recolhendo e executando um Ushiro-geri. Este atingiu Gina no ombro esquerdo. Sem demonstrar o menor sinal de haver sido atingida, Gina saltou para a frente, indo de encontro a Cho e, colocando as mãos nos ombros da adversária, saltou por cima dela indo cair em pé, do outro lado e, aproveitando-se da confusão de Cho, atingiu-a com um Uraken no lado da cabeça, que a fez ver estrelas. Cho estava começando a se descontrolar, enquanto que Gina era a imagem da placidez, mal alterando o ritmo de sua respiração.
Inesperadamente, Cho resolveu apelar e deu de mão em uma espada, arma com a qual era extremamente habilidosa. Ante aquela deslealdade, Mason e Harry fizeram menção de interromper o exercício, mas Gina fez sinal para que não o fizessem. Cho executou um golpe circular, facilmente evitado por Gina, que decidiu já ser hora de acabar com aquela palhaçada. Enquanto Cho apontava-lhe a espada, no melhor estilo Matrix a ruiva saltou, atigindo uns três metros, deu uma cambalhota no ar e, suavemente, pousou em pé... sobre o lado chato da lâmina da espada de Cho. Agachou-se e dizendo: “Já chega!”, estendeu o seu braço direito e, com um Nukite em um ponto especial no meio da testa de Cho Chang, colocou-a a nocaute.
Admirados, Mason e Harry encerraram o exercício e, após reanimarem Cho, a reunião daquela noite. Enquanto retornavam para a Torre da Grifinória, Harry comentou com Gina:
_Fiquei admirado com seu autocontrole, durante o exercício. Cho estava mesmo a fim de encrenca.
_Harry, eu resolvi encerrar logo aquilo, porque eu estava a um tiquinho de perder a paciência e triturar aquele biscoito da sorte, na frente de todos.
_Me lembre de nunca tirar você do sério. _ disse Harry, abraçando-a.
_Não precisa se preocupar. Eu sei a quem dirigir a minha agressividade. Vi que você fica bastante incomodado com o assédio dela. Eu te amo e confio em você, Harry. _ respondeu a ruiva, beijando o namorado.
Ouviu-se, então, aquela voz nada agradável dizendo:
_Potter! Weasley! Essa não é a maneira adequada de se comportar nos corredores. Menos cinco pontos para a Grifinória.
Sem ao menos olhar para trás, Gina respondeu:
_Boa noite para o senhor também, Prof. Snape. _ e o casal seguiu seu caminho, deixando o professor de Poções surpreso e sozinho no corredor.
Na manhã seguinte, em um intervalo das aulas, Harry passava pelos corredores, rumo à sala de Feitiços, quando sentiu uma presença próxima. Inesperadamente, um vulto saiu das sombras e empurrou o bruxo através de uma porta. Perdendo o equilíbrio, Harry caiu embolado com Cho, dentro da Sala dos Monitores, sendo avidamente beijado e acariciado, de uma forma bastante constrangedora.
_Cho, pare com isso! Tire a mão daí...AI!! Não aperta! ME LARGA, SUA MALUCA!!!
_Ora, então você não consegue ficar de todo indiferente. _ disse Cho, olhando para o estado de Harry.
_Puramente fisiológico, não alimente fantasias. Agora saia daqui e me deixe em paz.
_Acho que não, Harry. Imagine o que pensariam se eu gritasse e alguém nos visse juntos, com você nesse estado.
_Não iria acontecer nada, Chang. _ disse uma voz arrastada, vinda de uma poltrona de espaldar alto, próximo à lareira.
Draco Malfoy levantou-se e, cuidadosamente marcando a página do exemplar de “O Desafio das Águias”, de Alistair MacLean, que estava lendo durante o intervalo, aproximou-se dos dois.
_Srta. Chang, não iria acontecer nada pois a sala dos Monitores é totalmente à prova de som, como você deve saber muito bem, já que vinha freqüentemente aqui para se amassar com o Diggory, no ano retrasado. Além disso, essa sua fixação pelo Potter, a qual considero uma enorme falta de gosto, é de conhecimento até dos elfos domésticos da cozinha, portanto qualquer um iria sacar que você está armando. Por último, há uma testemunha de que o Potter é inocente. Eu.
_Sem essa, Malfoy. _ retrucou Cho _ Toda a Bruxidade sabe que você detesta o Harry.
_Sim, mas sua atitude não foi nada digna para uma aluna de Hogwarts e isso eu não poderia deixar passar em branco. Agora, se manda daqui, Chang, e vamos fingir que nada aconteceu, OK?
_Escuta aqui, Malfoy. Você é mais moderno do que eu e tem uma reputação que nem o Removedor Mágico Multiuso da Sra. Skower é capaz de limpar. Quem você pensa que é, para falar assim, seu filho de um Death Eater?
_Sim, meu pai é um Death Eater, braço direito do Lorde das Trevas e eu sou o Bad Boy da escola, mas também sou monitor de Hogwarts _ e apontou para o seu distintivo,no lado esquerdo do peito _ o que significa que,apesar de tudo o que você disse, a minha palavra deve ter um pouco mais de credibilidade do que a sua. S-E M-A-N-D-A!!!
Cho saiu, bufando, para o corredor. Harry ficou boquiaberto. Draco Malfoy tomando o seu partido em uma questão, em lugar de tentar prejudicá-lo ainda mais? Ao tentar falar, Draco tratou de cortá-lo:
_Feche a boca, Potter,você não é um peixe. Não pense que fiz isso pelos seus belos olhos verde-esmeralda. Tenho minhas razões e nem todas elas lhe interessam. Basta saber que, primeiro, não gosto de mulher oferecida e a Chang parece que toma chá de pára-quedas todo dia, pelo tanto que se abre. Segundo, sou aluno de Hogwarts e, tanto quanto você, não gostaria de um escândalo que, ainda que acabasse em pizza, mancharia o nome da escola. E, terceiro e mais importante, para mim é um prazer quase sexual saber que Harry Potter me deve uma.
_Devo mesmo, Malfoy. Obrigado.
_Não me agradeça. Potter, dizem que quem avisa amigo é. Embora eu não seja seu amigo, muito pelo contrário, vou te avisar. Cuidado com essa “Meteoro-Chinês”. Abre o olho porque algo me diz que esta não foi a última vez que ela soprou seu fogo em cima de vocês.
_De qualquer maneira, obrigado, Malfoy.
_Não por isso. Agora se manda, que aqui é área restrita. Lembre-se, isso fica entre você, eu e, logicamente, os “Insuportáveis Inseparáveis”, pois eu sei que você vai contar a eles. Abre o olho e não deixa que estraguem o que você e a Weasley têm juntos. Vai.
Harry saiu apressado, a fim de não perder a aula de Feitiços. Depois do término das aulas, já na Sala Comunal, contou aos amigos o que se passara.
_Cara, aquela garota está realmente obcecada. _ disse Neville.
Através da jóia de comunicação, Luna também opinou:
_É verdade. _ ouviu-se a voz dela,vinda da jóia, onde aparecia o seu rosto _ Tem gente aqui na Corvinal que já está sugerindo internação no St.Mungus.
_É patológico. _ comentou Gina.
_Mas o mais estranho foi a atitude do Malfoy. _ disse Hermione _ É quase como se não fosse ele. O que ele estava lendo mesmo, Harry?
_ “O Desafio das Águias”, de Alistair MacLean. Uma aventura durante a II Guerra Mundial, eu já li o livro e assisti ao filme. Legítima literatura trouxa.
_Inesperado. _ disse Rony _ totalmente inesperado e até mesmo insólito. Mas o Malfoy há muito tempo não parece ser o mesmo. Bom, vamos descer para o jantar e depois, biblioteca, para o trabalho da Profª Sprout.
Depois da biblioteca cansados, mas com o trabalho sobre as orquídeas cospe-espinho concluído, retornaram à Sala Comunal onde encontraram, esperando por eles, um bule de chá e um prato de biscoitos lá deixados por...
_Dobby! _ exclamaram os amigos, ao verem o elfo doméstico conversando com Gina, a qual tinha uma xícara nas mãos.
_Harry Potter! Hermione Granger! Rony Weasley! Neville Longbottom! _ exclamou o elfo, feliz por revê-los. _ Dobby estava falando com Gina Weasley sobre os problemas com aquela garota da Corvinal.
_Eu pedi a Dobby, já que ele circula por todo o castelo, que desse um jeito de nos avisar, caso aquela maluca esteja armando algo contra nós.
_A Srta. Luna Lovegood, da Corvinal, pediu a Dobby a mesma coisa e Dobby fica muito feliz de ajudar Harry Potter e seus amigos. Harry Potter libertou Dobby dos Malfoy e Dobby será eternamente grato. Dobby só fica triste ao pensar que Ziggy ainda sofre com aquela família.
_Ziggy? _ perguntou Neville.
_O irmão de Dobby, Neville Longbottom. É o elfo particular do jovem senhor Draco Malfoy. Não era tão maltratado quanto Dobby mas, com os Malfoy, nunca se sabe... e já ia se castigar, dizendo: “Dobby mau! Dobby mau!”, mas Harry o impediu:
_Calma, Dobby, não precisa se castigar. Eles não são mais seus donos.
_Desculpe, Harry Potter. Às vezes Dobby se esquece. Dobby precisa ir agora, mas promete ficar de olho. Boa noite, amigos.
_Boa noite, Dobby.
Saborearam o chá, os biscoitos e subiram, para se recolher. Mais um fim de semana se aproximava.
Pela manhã, Harry acordou cedo para correr no campo de Quadribol. Vendo que os amigos estavam dormindo, não quis acordá-los e foi sozinho. Ao término das dez voltas que costumava dar estava fazendo seu alongamento, quando ouviu a voz de Draco Malfoy, que aproximava-se de onde Harry estava, acompanhado pelos trasgos de plantão, Crabbe e Goyle:
_Sinceramente, nunca entendi o gosto que os trouxas têm em suar e se cansar correndo, Potter.
_Deveria tentar, Malfoy. _ disse Harry _ Com um melhor condicionamento físico você talvez não perdesse tanto para mim no Quadribol. Poderia até conseguir pegar o pomo uma ou outra vez.
_Até parece, Potter. O que me impede de azará-lo agora?
Harry, que estava de costas, disse sem ao menos olhar para os três:
_Primeiro, Malfoy, você nem moveu sua mão e, se movesse, não teria tempo para sacar a varinha. Mantenha sua mão para baixo, até que eu diga “Já” e aí saque. Quanto a você, Goyle, _ Harry continuou a falar, sem olhar para eles _ se você assoasse o nariz debaixo do chuveiro, se é que toma banho, não precisaria ficar metendo o dedo nele o dia todo.
Com a mão a meio caminho do nariz, Goyle interrompeu o movimento e estacou, boquiaberto. Como Harry poderia adivinhar seus movimentos sem ao menos olhar em sua direção?
_E feche a boca, você não é um peixe, como Malfoy costuma dizer (mesmo Draco não pôde deixar de sorrir, quase imperceptivelmente).
_Quero ver mesmo o que você pode fazer, Potter. Está pronto?
Ainda sem olhar para trás, Harry disse:
_Estou. Um, dois, três...JÁ!
Antes mesmo que Malfoy esboçasse qualquer movimento, Harry apoiou seu pé esquerdo em uma saliência da estrutura externa do campo de Quadribol e deu impulso, elevando-se acima do trio da Sonserina em um salto mortal de costas e aterrissou em pé, por trás deles, já com a varinha sacada da bainha invisível de antebraço, que Moody lhe dera no seu aniversário apontada para Draco, que sequer tivera tempo de tirar a sua do bolso das vestes.
_C-como foi que você fez isso, Potter? _ perguntou Malfoy, estupefato.
_Como eu lhe disse, Malfoy, condicionamento físico obtido à maneira trouxa, na raça e suando a camiseta. Agora com licença, que eu marquei hora com Madame Pomfrey para cortar o cabelo e não quero me atrasar.
_Sei, sei. Vá logo aparar a piaçava, vassoura despenteada.
_Pelo menos não fico um quilo mais pesado de tanto gel de cabelo. Nem pensem em me azarar pelas costas. Estariam estuporados antes que pudessem dizer os feitiços. _ e saiu em direção ao castelo, para se lavar.
No meio da semana seguinte, faltando uns três dias para o Dia das Bruxas, Harry acabara de se levantar e, ao olhar-se no espelho...
_Hmm... hoje preciso me barbear, senão a Gina vai dizer “Está querendo me lixar a cara?”... bem, vamos à operação.
Harry não precisava barbear-se todos os dias, mas hoje era possível sentir o áspero dos fios emergentes no queixo e acima dos lábios. No banheiro, em frente ao espelho, passou o gel no rosto e, quando a espuma estava adequada, começou a passar o aparelho. Devido à grande energia mágica nos terrenos de Hogwarts, nenhum aparelho elétrico ou eletrônico funcionava, a não ser que fosse enfeitiçado, tal como o seu discman. Mas ele não se importava, na verdade gostava de utilizar o barbeador de lâminas paralelas e da sensação delas deslizando no seu rosto. Por isso barbeava-se à maneira tradicional, sem feitiços, embora fosse necessário ter muito mais atenção, a fim de não se cortar, principalmente próximo aos lábios. Pois, justamente quando Harry estava nessa parte...
_AI! MELECA!! Edwiges, que idéia é essa de entrar me assustando desse jeito? Olha só, acabei me cortando. _ realmente, havia um pequeno corte, junto à comissura labial do lado direito, quase imperceptível, mas sangrando visivelmente.
Harry colocou um pequeno curativo cor da pele que, imediatamente, estancou o sangue. O corte era tão pequeno que sequer justificava o uso de um feitiço hemostático. Em seguida foi dar atenção à sua coruja, cujos olhos cor de âmbar fitavam-no, com uma expressão de censura.
_Desculpe, Edwiges. Acontece que ninguém gosta de ser assustado enquanto se barbeia. É corte na certa. Bom, vamos ver o que você tem aqui. _ retirou um pequeno pergaminho do estojo de mensagens, preso à perna da coruja. Leu o bilhete, franziu a testa e guardou-o no bolso das vestes. Fez um afago em Edwiges e soltou-a pela janela. Ficou olhando-a voar em direção ao Corujal e, em seguida, desceu para o café da manhã.
À mesa do café, todos faziam seu desjejum, com o farto e saudável cardápio de Hogwarts. Em seguida, uma revoada de corujas sobrevoou as mesas, trazendo o correio matinal. Uma delas, da escola, deixou cair um bilhete no colo de Gina, que preferiu lê-lo mais tarde. Enfiou-o no bolso das vestes e não se lembrou mais dele, até pouco depois do almoço. O lugar mais discreto e sossegado era o banheiro feminino do segundo andar, o banheiro da Murta que Geme. Gina não gostava muito daquele lugar, pelas lembranças que lhe trazia do primeiro ano, quando fora possuída por Voldemort, na figura da memória do diário de Tom Riddle. A entrada para a Câmara Secreta de Salazar Slytherin ficava na pia central e somente podia ser acionada com uma ordem em Ofidiano. Apenas um consolo lhe restava daqueles dias: Harry, o seu Harry a salvara de um destino horrível. Como ficara feliz quando, no trem, ele dissera que a havia sentido ao lado dele, dando-lhe forças naquela luta contra o basilisco.
Deixando de lado as reminiscências, entrou em um dos boxes e sentou-se sobre a tampa do vaso para ler o bilhete mas, antes...
_Murta! Por favor, tenha a decência de não me espiar. Esta correspondência é reservada.
_Desculpe, Gina. _ disse o fantasma adolescente da última vítima fatal do basilisco de Tom Riddle _ Faz tanto tempo que não nos vemos. Senti sua falta.
_Ah, Murta, me perdoe o mau jeito. É que estou curiosa com esse bilhete anônimo que recebi de manhã. Acho que não fará mal você ver o que diz. _ e desdobrou o pergaminho que dizia, com letras recortadas do Profeta Diário:
“Se quiser saber quem, realmente, é o seu namoradinho, esteja na Torre de Astronomia esta noite, às 20:30 h. Aí conhecerá o verdadeiro Harry Potter.”
_O que você vai fazer, Gina? _ perguntou Murta.
_O que você acha, Murta? Vou lá para conferir. Preciso averiguar.
_Mas e quanto ao Filch? Ele pode te pegar.
_Só se ele também tiver treinamento Ninja.
Às 20:25 h, Gina estava do lado de fora do Observatório da Torre de Astronomia, o local de pior fama de Hogwarts. Se aquelas paredes revelassem seus segredos, mesmo alguns professores ficariam falados. A porta encontrava-se entreaberta e o cômodo estava banhado pela luz do luar. “Lupin deve estar tendo problemas esta noite”, pensou. A porta fechou-se sozinha, suavemente e Gina estranhou mas, nem tanto quanto o suave sussurro em seu ouvido, que dizia, baixinho: “Não acredite em tudo que olha. Procure ver com o espírito, não com os olhos.” Gina pensou : “Conheço essa voz.” Em seguida, avançou pela sala em penumbra até atrás de uma estante de onde, sem ser vista, poderia ter uma visão do sofá mais mal-afamado da escola. Se Gina estranhou o sussurro, o que ela viu no sofá a deixou praticamente sem respiração: Harry estava abraçado a Anastasia Artamonov, uma bela loira russa do sétimo ano que viera transferida de Durmstrang e havia sido selecionada para a Sonserina, ambos nus da cintura para cima, as mãos dele arrancando suspiros dela, em carícias para lá de íntimas. Seu primeiro impulso, que durou menos de um segundo, foi de surpreendê-los com um grito e acabar com aquela libidinagem mas, realmente, não durou nem um segundo pois havia uma coisa estranha: Aquele não podia ser Harry. Ela podia sentir o Ki dele na sala, mas não estava lá, naquele sofá.
Na verdade, o Ki de seu namorado estava...bem à sua esquerda.
Aquele cara, logicamente, não podia ser Harry também por outro motivo, que ela percebeu imediatamente ao olhar para o rosto dele.
Naquele instante, quando o casal preparava-se para ir às vias de fato, ouviu-se uma voz na sala. Harry não era dado ao uso de palavrões, por isso Gina chegou a se assustar quando a voz dele ecoou na sala, dizendo, alto e em bom som: “MUITO BEM, VAMOS ACABAR LOGO COM ESSA {[(#$%¨&*!!)]}!!!! DESSA POUCA VERGONHA, AGORA MESMO!!”
O casal, assustado, interrompeu o que estava fazendo e ficou olhando, aparvalhado, na direção de onde vinha a voz, dando de cara com Gina e, do seu lado, a cabeça de Harry... suspensa no ar. Ele usava a sua Capa de Invisibilidade.
Ainda tentaram pegar suas varinhas para reagir, mas estavam atrapalhados com as roupas, emboladas à volta dos dois. Harry não perdeu a chance. Imediatamente, apontou a sua e disse: “Impedimenta!” O casal foi jogado para trás, ambos seminus. Ainda tentaram insistir, após o efeito da azaração passar, mas foram novamente detidos por Harry:
_Vocês precisam ficar quietos por um tempo maior. “Estupefaça!” _ e os dois caíram no sofá, um sobre o outro.
_Mas quem são esses dois, Harry?
_Ora, quem você acha? Sinta o Ki deles.
_Não pode ser! Ninguém desceria tão baixo!
_Se tem dúvidas, espere o efeito da Poção Polissuco passar.
_Poção Polissuco? Como é que você sabe?
_Fui alertado, hoje de manhã, sobre a armação que estava sendo preparada, quer ver?
E Harry tirou do bolso das vestes o pergaminho que havia recebido naquela manhã e que dizia: “Se quiser impedir que seu namoro e seu futuro com a Srta. Weasley sejam arruinados, esteja na Torre de Astronomia às 19:00 h. Use sua Capa de Invisibilidade ou um Feitiço de Desilusão.
_Edwiges me entregou, hoje de manhã. Me pregou um tal susto que me cortei durante o barbear.
_Isso foi providencial.
_???
_Depois eu explico. Agora vamos ver as caras dessas figuras.
A aparência dos dois foi mudando à medida que o efeito da poção passava, até que restaram, esparramados no sofá...
_Cho Chang! _ disse Gina, ainda não querendo acreditar.
_E Fabian Sheldrake, da Sonserina. Eu já estava aqui quando eles chegaram e tomaram a poção. Assisti a toda a sacanagem, me segurando para não azarar os dois antes da hora.
_Acho que já está na hora de reanimá-los.
_Tem razão, Gina. Enervate!
Os dois acordaram do estuporamento e viram-se, ainda seminus, frente a frente com o casal de namorados, que os encarava com uma expressão mista de nojo e descrença. Ficaram de cabeça baixa, até que...
_Chang Cho-Yen! _ disse Harry, utilizando o tratamento formal chinês, com o sobrenome antes do nome, para demonstrar que a coisa era séria _ Eu não imaginava que você pudesse descer tanto. E você, Sheldrake, que eu pensava ser um dos poucos caras decentes naquele ninho de cobras da Sonserina. Vistam-se, seus pervertidos! _ e, enquanto os dois se vestiam _ Como puderam armar um plano torpe e vil assim? Por sorte eu fui avisado a tempo e, assim, pude tomar providências para desarmar a armação de vocês. Como tiveram coragem de querer o mal de alguém como Gina? Tenho vontade de...
“O que vocês fizeram não tem nome!!!”
_Calma, Harry. Se eu tive alguma dúvida, ela não durou nem um segundo. Reconheci sua voz sussurrando para mim e senti o Ki diferente do “Harry” que estava se roçando com essa ratazana sem pelos. Mas, ainda que eu não tivesse prestado atenção a esses detalhes, havia um que eles esqueceram. Você se cortou hoje de manhã, ao se barbear e o falso Harry NÃO TINHA NENHUM FERIMENTO NO ROSTO.
_Cho olhou para Sheldrake com um olhar que mais parecia um basilisco furioso e disse:
_Incompetente! Um pequeno detalhe e o plano melou. Não dá mesmo para contar com as serpentes da Sonserina.Conseguem ser mais patéticos do que os texugos da Lufa-Lufa! Mas, de qualquer modo, já me sinto gratificada.
_Por que? _ ao mesmo tempo perguntaram Harry e Gina.
_Já me sinto gratificada se, por uma fração de segundo, eu tiver conseguido plantar uma semente de dúvida na cabecinha de batata dessa irlandesa enferrujada.
_Repete, Gripe Asiática! _ rugiu Gina, indignada _ Repete, se for mulher!
Calmamente, Cho repetiu:
_Eu disse: Já me sinto gratificada se, por uma fração de seg... _ e não terminou a frase.
_TRABUM!!! _ o punho fechado de Gina, certeiro, atingiu o queixo de Cho, deixando-a inconsciente na hora.
_Ai, essa até eu senti. Vai dar sinal de ocupado por um mês. _ disse Sheldrake.
_Se bobear, você é o próximo. _ rosnou Gina.
_Espero que não tenha fraturado a mandíbula. _ comentou Harry.
_Não se preocupem, eu maneirei na força.
_Mesmo assim, Madame Pomfrey vai ter um trabalhão para consertar. _ disse Harry, novamente.
_Vai passar pelo menos uma semana só tomando sopa. _ murmurou Sheldrake, timidamente.
_E espero que com canudinho. _ finalizou Gina.
_Sheldrake, leve-a daqui e dê um jeito de alterar a memória dela, para apagar este incidente. Se ela se lembrar do soco, é capaz de bolar um plano ainda mais maluco.
_Está bem, Potter. Vou levá-la para a ala hospitalar. Olha, cara, eu não queria, mas ela é muito sedutora. Me pediu para roubar um fio do seu cabelo, da última vez que você foi cortá-lo e tirou um fio de cabelo de Anya, durante uma aula.
_E você caiu como um patinho, eu sei. _ Harry havia usado um pouco de Legilimência para saber da verdade _ Mas agora não é o momento, estamos todos de cabeça quente. Eu mesmo estou me segurando para não amaldiçoar vocês dois. Agora vão.
Quando Sheldrake, carregando Cho, virou em um dos corredores, pensando: “Mas que catso é isso de Ki que eles estavam falando?” Harry comentou com Gina:
_Já que estamos aqui, que tal nós...
_HARRY TIAGO POTTER!!!
_… voltarmos imediatamente para a torre da Grifinória, antes que madame Nor-ra apareça por aqui e resolva nos entregar para o Filch.
_Sem-graça. _ disse Gina, fingindo-se desapontada. _ Estava quase pintando um clima...
Harry sorriu e disse:
_Mais um motivo para sairmos daqui agorinha. _ e, consultando o Mapa do Maroto, localizou Filch e tomaram algumas passagens secretas para evitá-lo. Uma delas os colocou no corredor da...
_Olhe, Harry, alguém está usando a Sala Precisa.
_Sim. E está saindo agora. Ainda bem que estamos invisíveis.
A porta da Sala Precisa abriu-se e, de dentro dela, saiu...
_Malfoy. O que ele estava fazendo lá? _ questionou Gina.
_Rápido. Vamos entrar antes que a porta desapareça. _ disse Harry.
Entraram na sala e, para o espanto de Gina, viram-se em uma confortável sala de uma residência trouxa, onde haviam duas poltronas e...
_Um Home Theater. _ disse Harry _ Um Home Theater de última geração.
_???
_Um conjunto de TV... uau, um monitor de plasma, com tela plana widescreen, caixas de som, DVD, aparelho receptor, enfim, um cinema em casa.
_DVD?
_É. Lembra dos meus CDs? Eles têm música armazenada. Um DVD é um disco semelhante, mas que contém um filme.
_Então Malfoy pediu que a Sala Precisa recriasse um Home Theater trouxa?
_Sim, e de altíssima tecnologia, equipamentos de última geração.
_O que será que ele estava assistindo?
_Vamos ver. Vou ligar o DVD.
_Conhecendo o Malfoy, deve ser um filme impróprio para menores.
_Vire-se de costas. Se for um pornô, eu desligo na hora.
Mas não era. Era um filme clássico, em preto e branco. Assim que surgiu na tela o símbolo da Warner Brothers e a música de abertura começou a tocar, Harry disse:
_ “Casablanca”. Um dos meus preferidos, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergmann.
_Como é?
_Um filme clássico, passado nos dias da II Guerra Mundial. Um romance de aventura, no qual um homem, traumatizado pela perda de um amor, perde todo o seu idealismo e torna-se um sujeito amargo e amoral. Quando a mulher que o deixou reaparece, ele se vê frente a uma situação na qual deve decidir-se entre permanecer isolado dos acontecimentos ou tomar partido. Não é apenas um romance. É um filme profundamente filosófico, sobre escolhas e lealdades.
_E por que o Malfoy estaria assistindo a um filme desses? Não faz o estilo do Draco Malfoy que conhecemos.
_Não sei, Gina. O fato é que ele tem andado muito estranho, desde o começo do ano. Bom, vamos embora.
Sem saber que Harry e Gina haviam descoberto alguns de seus segredos, Draco Malfoy encaminhava-se na direção das masmorras, rumo à Sala Comunal da Sonserina. Ao chegar ao Saguão de Entrada, que estava vazio àquela hora, viu Crabbe e Goyle encurralando Neville Longbottom ao pé da escada. Querendo evitar que os dois trogloditas se complicassem por agredirem um colega, Malfoy correu na direção deles, para detê-los. Foi o seu erro.
Dirigindo-se para a Sala Comunal da Grifinória, Neville deu de cara com Crabbe e Goyle. Da pouca capacidade de raciocínio de suas mentes, os dois acharam que seria uma boa idéia zoar com o grifinório, que havia sido o pele deles nos anos anteriores. Mas, quando se aproximaram e Goyle levantou o punho para acertá-lo, ele bloqueou o soco com o antebraço esquerdo e contra-atacou com um Seiken-jodan, que atingiu Goyle no rosto. Vendo aquilo, Crabbe tentou chutá-lo, mas Neville saltou, pousando em pé sobre o corrimão da escada e, de lá para baixo, girando em um Ushiro-kakato, cujo alvo, certeiramente atingido, foram as costelas de Crabbe, que caiu no chão, sem ar. Mesmo não acreditando naquela reação por parte de Neville, voltaram à carga para um segundo ataque e foi nesse momento que Malfoy chegou, ofegante.
Pensando que Draco tivesse vindo para ajudá-los, a dupla de trasgos recuperou o ânimo mas não foi o suficiente. Com dois Mawashi-geri e duas pressões em um nervo do pescoço, Crabbe e Goyle estavam esparramados aos pés de Neville, desacordados. Assim que Draco recuperou o fôlego, tentou se explicar para ele.
_Longbottom...
Não teve tempo. Pensando que o loiro tivesse vindo para ajudar os colegas de sua Casa, Neville instintivamente girou o corpo e atingiu Malfoy com um Empi na altura do diafragma, que tirou novamente o ar do sonserino, logo seguido de um Uraken no rosto, que fez o sangue escorrer do nariz dele e o deixou inconsciente. Para não expor o seu treinamento, Neville tratou de executar um Feitiço de Memória e, dizendo: “Obliviate!”, apagou as lembranças do trio sobre o confronto que acabara de ocorrer. O último pensamento de Draco Malfoy, antes de mergulhar no esquecimento e na inconsciência, foi: “Onde esse cara aprendeu artes marciais?”
Vendo o trio inconsciente aos seus pés, Neville pensou: “Como vou fazer para levá-los à ala hospitalar sem despertar suspeitas?” Foi então que, da direção das masmorras, surgiu o Prof. Snape. Em lugar de ficar assustado, ele concluiu que era o melhor que poderia ter acontecido.
_Prof. Snape, me ajude, por favor! _ Exclamou Neville, fazendo-se de aflito _ Malfoy, Crabbe e Goyle caíram da escadaria!
_Como é, Longbottom?
_Acho que vinham atrás de mim, mas se embolaram no alto da escadaria e rolaram de cima a baixo. Ficaram bem contundidos.
_Vamos vê-los. _ disse o professor.
Chegando onde eles estavam, o Prof. Snape disse:
_Tem razão, Longbottom. Me ajude a levá-los para Madame Pomfrey. _ e, conjurando três padiolas levitantes, Snape colocou os alunos inconscientes nelas. Ajudado por Neville, levou-os à ala hospitalar, onde ficaram fazendo companhia a Cho Chang, que também se encontrava lá, ainda desacordada e, com certeza, bastante dolorida do soco que recebera de Gina Weasley só que, igual aos três recém-chegados, jamais se lembraria do que ocorrera. Pior mesmo para Draco Malfoy, que acabou apanhando de graça.
Finalmente chegara o dia 31 de outubro, Dia das Bruxas e, com ele, a primeira visita do ano a Hogsmeade. Os alunos já estavam com saudades dos passeios pelo povoado, com as idas à Zonko’s, Dervixes e Bangues e, principalmente, à Dedosdemel e ao Três Vassouras. E era lá que encontravam-se os Inseparáveis, sentados a uma mesa, com suas bebidas à sua frente e Madame Rosmerta brincando com eles:
_Ai, ai, Rony. Então eu perdi a minha chance e Hermione, a sortuda, levou o grande prêmio. _ todos deram risadas, Rony com o rosto escarlate. As cervejas amanteigadas estavam excelentes, como sempre. Gina percebeu que Harry não estava cem por cento contente e perguntou:
_Harry, o que houve? Você está parecendo que quer bater a porta na cara do mundo e se trancar do lado de fora.
_Desculpe, Gina. Eu não consigo me descontrair totalmente, não sei por que. Isso tem acontecido todos os anos por essa época. _ e tomou um gole de sua cerveja amanteigada. Naquele momento, a porta do Três Vassouras se abriu e por ela entrou...
_Prof. Snape! _ exclamou Madame Rosmerta _ Há tempos que não o vejo por aqui. A que devemos a honra?
_À excelente qualidade de suas bebidas e ao nível dos freqüentadores, entre os quais hoje me incluo. _ respondeu Snape, anormalmente gentil (estaria deixando de tomar a poção Cor vetato?) mas com uma expressão melancólica no olhar _ Há uma sala reservada livre?
_Sim, professor.
_Ótimo. Vou para ela. E foi em direção ao corredor das salas reservadas.
Naquele exato momento, Harry sentiu cair novamente a ficha. Era o Dia das Bruxas. A data na qual Voldemort havia assassinado seus pais. Por isso sentia-se triste todos os anos, naquela época. Durante anos reprimira inconscientemente a parte mais traumática das lembranças mas a tristeza permanecia, sem que se desse conta de associá-la aos fatos porém, agora, ao ver a expressão nos olhos de Snape...
_Me dão licença por um instante? Preciso ir ao banheiro. _ Harry saiu e tomou a direção dos banheiros, que ficavam próximos às salas reservadas. Bateu à porta da sala na qual sentira o Ki de Snape e, ao ouvir a resposta “Entre”, entrou.
_Potter! O que faz aqui?
_Acredito que o mesmo que o senhor, professor. Hoje é o Dia das Bruxas. O dia em que Voldemort...
_Por favor, não fale o nome dele.
_...Ele matou meus pais. Acredito que o senhor também está aqui para reverenciar a memória de minha mãe.
_E a do seu pai. Embora nos odiássemos, um reconhecia as qualidades do outro. Você pode até não acreditar, mas tenho uma foto de nós três juntos. Tiago só concordou depois de Lílian insistir muito. _ e mostrou uma foto-bruxa, na qual aparecia seu pai, com uma expressão contrariada, olhando feio na direção de Snape. Lílian entre os dois e, do outro lado, Snape que, extraordinariamente estava sorrindo. Era a primeira vez que Harry via o professor sorrir.
Harry então preparou-se para sair, dizendo:
_Vou deixá-lo em tranqüilidade com suas lembranças, professor. Mas saiba que eu, de certa forma o invejo.
_Por que, Potter?
_Porque, mesmo com todas as desavenças, o senhor conviveu com eles muito mais tempo do que eu. Só não se deixe consumir pela tristeza. Tenho certeza de que eles não gostariam. Bom dia, professor.
_Bom dia...Harry.
Ele saiu, notando que o professor o havia chamado, pela primeira vez na vida, por seu primeiro nome. Ao passar por uma outra sala reservada, pensou ter sentido um Ki conhecido mas, apressado, não deu importância e foi juntar-se aos amigos que o aguardavam, preocupados:
_Cara, que demora. _ disse Rony.
_Já estávamos pensando que tivesse se afogado. _ caçoou Neville.
_Íamos até chamar os Aurores, pensando que os Death Eaters tivessem te seqüestrado. _ atalhou Luna.
Gina sugeriu:
_Vamos dar uma volta, Harry?
_Vamos. _ e saíram para a rua, indo sentar-se em um dos bancos da praça.
_Sobre aquela noite, na Torre de Astronomia, Harry...
_Eu estava brincando, Gina.
_Eu sei, mas... parte de mim queria que fosse sério.
_Parte de mim também queria, Gina, mas para tudo há a hora e o lugar. Nossa vez chegará, mas não agora. Ainda não é o momento.
_Tem razão. Ainda bem que, como disse Luna, temos a cabeça no lugar. Está esfriando um pouco. Que tal um chá, lá na Madame Pudifoot?
_O chá dela é excelente, mas as minhas últimas lembranças daquele lugar não são das melhores...
_É porque a companhia não prestava. Vamos, Harry.
E foram para a casa de chá da Madame Pudifoot. Harry ainda pensava no Ki que havia sentido lá no Três Vassouras, mas que não prestara atenção por tempo suficiente para identificá-lo. Resolveu não pensar nisso naquele momento. Tinha pela frente um dia todo com a garota que amava e, pelo menos durante o seu transcurso, queria deixar de lado todas as preocupações. Até mesmo Lord Voldemort.
Se tivesse identificado o Ki sentido naquela hora, teria descoberto a quem ele pertencia. E pertencia a Draco Malfoy.
AS ARMAÇÕES DESARMADAS
O mês de outubro avançava e todos tinham muito o que fazer. Além do que já tinham, a temporada de Quadribol aproximava-se, o que significava um aumento na carga dos jogadores, em função dos treinamentos. As reuniões da AD iam bem, obrigado. Os membros iam ficando cada vez melhores, alguns até começavam a mostrar alguma habilidade no controle do Ki e iam superando limites.
Cho Chang não era um deles.
Por conta de sua obsessão por Harry, somada à raiva que sentia de Gina, ela não conseguia atingir o estado de equilíbrio necessário para o domínio e utilização do Ki e isso a desesperava, criando um círculo vicioso. Por conta disso, tentava irritar Gina, insinuando-se para Harry sempre que podia e sendo sempre polidamente ignorada. Isso não perturbava a harmonia interior de Gina, pois ela sabia que Harry nada mais sentia pela jovem chinesa. O problema era que as pessoas estavam começando a notar o clima azedo que estava se instalando, até que em uma sessão...
_Cho Chang! Virgínia Weasley! Shiai-Kumite! _ Disse o Prof. Mason.
_Tem certeza de que é seguro confrontar as duas, professor? _ perguntou Harry.
_Fique tranqüilo, Harry. Gina sabe se defender.
_Eu sei, professor. Estou preocupado com o que ela pode fazer com a Cho. Se Gina não maneirar na força, vai mastigá-la e cuspi-la no tatame em menos de um minuto.
_Vá por mim, Harry. Vai ser melhor deixar as duas extravasarem um pouco de energia. Se a coisa fugir do controle, paralisamos as duas e mandamos para Madame Pomfrey consertar.
_Então, tudo bem. _ concordou Harry, ainda meio apreensivo.
As duas postaram-se uma em frenta à outra, chispas de ódio cintilando nos olhos de Cho, contrastando com a total tranqüilidade de Gina. Cho assumiu uma posição Zenkutsu-dachi e Gina, em Kiba-dachi, apenas a observava, estudando a adversária.
Sem aviso, Cho atacou com um Mawashi-geri, capaz de partir um tijolo. Gina apenas se desviou, um segundo antes do pé passar por onde estivera sua cabeça. Agachou-se e executou uma rasteira na perna de apoio de Cho que a fez cair, constrangedoramente, sentada no chão. Retornou à posição inicial e ficou esperando pelo novo ataque de Cho que não demorou, vindo sob a forma de um Shuto com a direita, ao que Gina girou seu corpo pelo lado de fora, deixando que Cho passasse direto e atingindo-a nas costelas, com um Empi. Meio sem ar, Cho voltou à carga, tentando fintá-la, fingindo um ataque Seiken mas, na última hora, recolhendo e executando um Ushiro-geri. Este atingiu Gina no ombro esquerdo. Sem demonstrar o menor sinal de haver sido atingida, Gina saltou para a frente, indo de encontro a Cho e, colocando as mãos nos ombros da adversária, saltou por cima dela indo cair em pé, do outro lado e, aproveitando-se da confusão de Cho, atingiu-a com um Uraken no lado da cabeça, que a fez ver estrelas. Cho estava começando a se descontrolar, enquanto que Gina era a imagem da placidez, mal alterando o ritmo de sua respiração.
Inesperadamente, Cho resolveu apelar e deu de mão em uma espada, arma com a qual era extremamente habilidosa. Ante aquela deslealdade, Mason e Harry fizeram menção de interromper o exercício, mas Gina fez sinal para que não o fizessem. Cho executou um golpe circular, facilmente evitado por Gina, que decidiu já ser hora de acabar com aquela palhaçada. Enquanto Cho apontava-lhe a espada, no melhor estilo Matrix a ruiva saltou, atigindo uns três metros, deu uma cambalhota no ar e, suavemente, pousou em pé... sobre o lado chato da lâmina da espada de Cho. Agachou-se e dizendo: “Já chega!”, estendeu o seu braço direito e, com um Nukite em um ponto especial no meio da testa de Cho Chang, colocou-a a nocaute.
Admirados, Mason e Harry encerraram o exercício e, após reanimarem Cho, a reunião daquela noite. Enquanto retornavam para a Torre da Grifinória, Harry comentou com Gina:
_Fiquei admirado com seu autocontrole, durante o exercício. Cho estava mesmo a fim de encrenca.
_Harry, eu resolvi encerrar logo aquilo, porque eu estava a um tiquinho de perder a paciência e triturar aquele biscoito da sorte, na frente de todos.
_Me lembre de nunca tirar você do sério. _ disse Harry, abraçando-a.
_Não precisa se preocupar. Eu sei a quem dirigir a minha agressividade. Vi que você fica bastante incomodado com o assédio dela. Eu te amo e confio em você, Harry. _ respondeu a ruiva, beijando o namorado.
Ouviu-se, então, aquela voz nada agradável dizendo:
_Potter! Weasley! Essa não é a maneira adequada de se comportar nos corredores. Menos cinco pontos para a Grifinória.
Sem ao menos olhar para trás, Gina respondeu:
_Boa noite para o senhor também, Prof. Snape. _ e o casal seguiu seu caminho, deixando o professor de Poções surpreso e sozinho no corredor.
Na manhã seguinte, em um intervalo das aulas, Harry passava pelos corredores, rumo à sala de Feitiços, quando sentiu uma presença próxima. Inesperadamente, um vulto saiu das sombras e empurrou o bruxo através de uma porta. Perdendo o equilíbrio, Harry caiu embolado com Cho, dentro da Sala dos Monitores, sendo avidamente beijado e acariciado, de uma forma bastante constrangedora.
_Cho, pare com isso! Tire a mão daí...AI!! Não aperta! ME LARGA, SUA MALUCA!!!
_Ora, então você não consegue ficar de todo indiferente. _ disse Cho, olhando para o estado de Harry.
_Puramente fisiológico, não alimente fantasias. Agora saia daqui e me deixe em paz.
_Acho que não, Harry. Imagine o que pensariam se eu gritasse e alguém nos visse juntos, com você nesse estado.
_Não iria acontecer nada, Chang. _ disse uma voz arrastada, vinda de uma poltrona de espaldar alto, próximo à lareira.
Draco Malfoy levantou-se e, cuidadosamente marcando a página do exemplar de “O Desafio das Águias”, de Alistair MacLean, que estava lendo durante o intervalo, aproximou-se dos dois.
_Srta. Chang, não iria acontecer nada pois a sala dos Monitores é totalmente à prova de som, como você deve saber muito bem, já que vinha freqüentemente aqui para se amassar com o Diggory, no ano retrasado. Além disso, essa sua fixação pelo Potter, a qual considero uma enorme falta de gosto, é de conhecimento até dos elfos domésticos da cozinha, portanto qualquer um iria sacar que você está armando. Por último, há uma testemunha de que o Potter é inocente. Eu.
_Sem essa, Malfoy. _ retrucou Cho _ Toda a Bruxidade sabe que você detesta o Harry.
_Sim, mas sua atitude não foi nada digna para uma aluna de Hogwarts e isso eu não poderia deixar passar em branco. Agora, se manda daqui, Chang, e vamos fingir que nada aconteceu, OK?
_Escuta aqui, Malfoy. Você é mais moderno do que eu e tem uma reputação que nem o Removedor Mágico Multiuso da Sra. Skower é capaz de limpar. Quem você pensa que é, para falar assim, seu filho de um Death Eater?
_Sim, meu pai é um Death Eater, braço direito do Lorde das Trevas e eu sou o Bad Boy da escola, mas também sou monitor de Hogwarts _ e apontou para o seu distintivo,no lado esquerdo do peito _ o que significa que,apesar de tudo o que você disse, a minha palavra deve ter um pouco mais de credibilidade do que a sua. S-E M-A-N-D-A!!!
Cho saiu, bufando, para o corredor. Harry ficou boquiaberto. Draco Malfoy tomando o seu partido em uma questão, em lugar de tentar prejudicá-lo ainda mais? Ao tentar falar, Draco tratou de cortá-lo:
_Feche a boca, Potter,você não é um peixe. Não pense que fiz isso pelos seus belos olhos verde-esmeralda. Tenho minhas razões e nem todas elas lhe interessam. Basta saber que, primeiro, não gosto de mulher oferecida e a Chang parece que toma chá de pára-quedas todo dia, pelo tanto que se abre. Segundo, sou aluno de Hogwarts e, tanto quanto você, não gostaria de um escândalo que, ainda que acabasse em pizza, mancharia o nome da escola. E, terceiro e mais importante, para mim é um prazer quase sexual saber que Harry Potter me deve uma.
_Devo mesmo, Malfoy. Obrigado.
_Não me agradeça. Potter, dizem que quem avisa amigo é. Embora eu não seja seu amigo, muito pelo contrário, vou te avisar. Cuidado com essa “Meteoro-Chinês”. Abre o olho porque algo me diz que esta não foi a última vez que ela soprou seu fogo em cima de vocês.
_De qualquer maneira, obrigado, Malfoy.
_Não por isso. Agora se manda, que aqui é área restrita. Lembre-se, isso fica entre você, eu e, logicamente, os “Insuportáveis Inseparáveis”, pois eu sei que você vai contar a eles. Abre o olho e não deixa que estraguem o que você e a Weasley têm juntos. Vai.
Harry saiu apressado, a fim de não perder a aula de Feitiços. Depois do término das aulas, já na Sala Comunal, contou aos amigos o que se passara.
_Cara, aquela garota está realmente obcecada. _ disse Neville.
Através da jóia de comunicação, Luna também opinou:
_É verdade. _ ouviu-se a voz dela,vinda da jóia, onde aparecia o seu rosto _ Tem gente aqui na Corvinal que já está sugerindo internação no St.Mungus.
_É patológico. _ comentou Gina.
_Mas o mais estranho foi a atitude do Malfoy. _ disse Hermione _ É quase como se não fosse ele. O que ele estava lendo mesmo, Harry?
_ “O Desafio das Águias”, de Alistair MacLean. Uma aventura durante a II Guerra Mundial, eu já li o livro e assisti ao filme. Legítima literatura trouxa.
_Inesperado. _ disse Rony _ totalmente inesperado e até mesmo insólito. Mas o Malfoy há muito tempo não parece ser o mesmo. Bom, vamos descer para o jantar e depois, biblioteca, para o trabalho da Profª Sprout.
Depois da biblioteca cansados, mas com o trabalho sobre as orquídeas cospe-espinho concluído, retornaram à Sala Comunal onde encontraram, esperando por eles, um bule de chá e um prato de biscoitos lá deixados por...
_Dobby! _ exclamaram os amigos, ao verem o elfo doméstico conversando com Gina, a qual tinha uma xícara nas mãos.
_Harry Potter! Hermione Granger! Rony Weasley! Neville Longbottom! _ exclamou o elfo, feliz por revê-los. _ Dobby estava falando com Gina Weasley sobre os problemas com aquela garota da Corvinal.
_Eu pedi a Dobby, já que ele circula por todo o castelo, que desse um jeito de nos avisar, caso aquela maluca esteja armando algo contra nós.
_A Srta. Luna Lovegood, da Corvinal, pediu a Dobby a mesma coisa e Dobby fica muito feliz de ajudar Harry Potter e seus amigos. Harry Potter libertou Dobby dos Malfoy e Dobby será eternamente grato. Dobby só fica triste ao pensar que Ziggy ainda sofre com aquela família.
_Ziggy? _ perguntou Neville.
_O irmão de Dobby, Neville Longbottom. É o elfo particular do jovem senhor Draco Malfoy. Não era tão maltratado quanto Dobby mas, com os Malfoy, nunca se sabe... e já ia se castigar, dizendo: “Dobby mau! Dobby mau!”, mas Harry o impediu:
_Calma, Dobby, não precisa se castigar. Eles não são mais seus donos.
_Desculpe, Harry Potter. Às vezes Dobby se esquece. Dobby precisa ir agora, mas promete ficar de olho. Boa noite, amigos.
_Boa noite, Dobby.
Saborearam o chá, os biscoitos e subiram, para se recolher. Mais um fim de semana se aproximava.
Pela manhã, Harry acordou cedo para correr no campo de Quadribol. Vendo que os amigos estavam dormindo, não quis acordá-los e foi sozinho. Ao término das dez voltas que costumava dar estava fazendo seu alongamento, quando ouviu a voz de Draco Malfoy, que aproximava-se de onde Harry estava, acompanhado pelos trasgos de plantão, Crabbe e Goyle:
_Sinceramente, nunca entendi o gosto que os trouxas têm em suar e se cansar correndo, Potter.
_Deveria tentar, Malfoy. _ disse Harry _ Com um melhor condicionamento físico você talvez não perdesse tanto para mim no Quadribol. Poderia até conseguir pegar o pomo uma ou outra vez.
_Até parece, Potter. O que me impede de azará-lo agora?
Harry, que estava de costas, disse sem ao menos olhar para os três:
_Primeiro, Malfoy, você nem moveu sua mão e, se movesse, não teria tempo para sacar a varinha. Mantenha sua mão para baixo, até que eu diga “Já” e aí saque. Quanto a você, Goyle, _ Harry continuou a falar, sem olhar para eles _ se você assoasse o nariz debaixo do chuveiro, se é que toma banho, não precisaria ficar metendo o dedo nele o dia todo.
Com a mão a meio caminho do nariz, Goyle interrompeu o movimento e estacou, boquiaberto. Como Harry poderia adivinhar seus movimentos sem ao menos olhar em sua direção?
_E feche a boca, você não é um peixe, como Malfoy costuma dizer (mesmo Draco não pôde deixar de sorrir, quase imperceptivelmente).
_Quero ver mesmo o que você pode fazer, Potter. Está pronto?
Ainda sem olhar para trás, Harry disse:
_Estou. Um, dois, três...JÁ!
Antes mesmo que Malfoy esboçasse qualquer movimento, Harry apoiou seu pé esquerdo em uma saliência da estrutura externa do campo de Quadribol e deu impulso, elevando-se acima do trio da Sonserina em um salto mortal de costas e aterrissou em pé, por trás deles, já com a varinha sacada da bainha invisível de antebraço, que Moody lhe dera no seu aniversário apontada para Draco, que sequer tivera tempo de tirar a sua do bolso das vestes.
_C-como foi que você fez isso, Potter? _ perguntou Malfoy, estupefato.
_Como eu lhe disse, Malfoy, condicionamento físico obtido à maneira trouxa, na raça e suando a camiseta. Agora com licença, que eu marquei hora com Madame Pomfrey para cortar o cabelo e não quero me atrasar.
_Sei, sei. Vá logo aparar a piaçava, vassoura despenteada.
_Pelo menos não fico um quilo mais pesado de tanto gel de cabelo. Nem pensem em me azarar pelas costas. Estariam estuporados antes que pudessem dizer os feitiços. _ e saiu em direção ao castelo, para se lavar.
No meio da semana seguinte, faltando uns três dias para o Dia das Bruxas, Harry acabara de se levantar e, ao olhar-se no espelho...
_Hmm... hoje preciso me barbear, senão a Gina vai dizer “Está querendo me lixar a cara?”... bem, vamos à operação.
Harry não precisava barbear-se todos os dias, mas hoje era possível sentir o áspero dos fios emergentes no queixo e acima dos lábios. No banheiro, em frente ao espelho, passou o gel no rosto e, quando a espuma estava adequada, começou a passar o aparelho. Devido à grande energia mágica nos terrenos de Hogwarts, nenhum aparelho elétrico ou eletrônico funcionava, a não ser que fosse enfeitiçado, tal como o seu discman. Mas ele não se importava, na verdade gostava de utilizar o barbeador de lâminas paralelas e da sensação delas deslizando no seu rosto. Por isso barbeava-se à maneira tradicional, sem feitiços, embora fosse necessário ter muito mais atenção, a fim de não se cortar, principalmente próximo aos lábios. Pois, justamente quando Harry estava nessa parte...
_AI! MELECA!! Edwiges, que idéia é essa de entrar me assustando desse jeito? Olha só, acabei me cortando. _ realmente, havia um pequeno corte, junto à comissura labial do lado direito, quase imperceptível, mas sangrando visivelmente.
Harry colocou um pequeno curativo cor da pele que, imediatamente, estancou o sangue. O corte era tão pequeno que sequer justificava o uso de um feitiço hemostático. Em seguida foi dar atenção à sua coruja, cujos olhos cor de âmbar fitavam-no, com uma expressão de censura.
_Desculpe, Edwiges. Acontece que ninguém gosta de ser assustado enquanto se barbeia. É corte na certa. Bom, vamos ver o que você tem aqui. _ retirou um pequeno pergaminho do estojo de mensagens, preso à perna da coruja. Leu o bilhete, franziu a testa e guardou-o no bolso das vestes. Fez um afago em Edwiges e soltou-a pela janela. Ficou olhando-a voar em direção ao Corujal e, em seguida, desceu para o café da manhã.
À mesa do café, todos faziam seu desjejum, com o farto e saudável cardápio de Hogwarts. Em seguida, uma revoada de corujas sobrevoou as mesas, trazendo o correio matinal. Uma delas, da escola, deixou cair um bilhete no colo de Gina, que preferiu lê-lo mais tarde. Enfiou-o no bolso das vestes e não se lembrou mais dele, até pouco depois do almoço. O lugar mais discreto e sossegado era o banheiro feminino do segundo andar, o banheiro da Murta que Geme. Gina não gostava muito daquele lugar, pelas lembranças que lhe trazia do primeiro ano, quando fora possuída por Voldemort, na figura da memória do diário de Tom Riddle. A entrada para a Câmara Secreta de Salazar Slytherin ficava na pia central e somente podia ser acionada com uma ordem em Ofidiano. Apenas um consolo lhe restava daqueles dias: Harry, o seu Harry a salvara de um destino horrível. Como ficara feliz quando, no trem, ele dissera que a havia sentido ao lado dele, dando-lhe forças naquela luta contra o basilisco.
Deixando de lado as reminiscências, entrou em um dos boxes e sentou-se sobre a tampa do vaso para ler o bilhete mas, antes...
_Murta! Por favor, tenha a decência de não me espiar. Esta correspondência é reservada.
_Desculpe, Gina. _ disse o fantasma adolescente da última vítima fatal do basilisco de Tom Riddle _ Faz tanto tempo que não nos vemos. Senti sua falta.
_Ah, Murta, me perdoe o mau jeito. É que estou curiosa com esse bilhete anônimo que recebi de manhã. Acho que não fará mal você ver o que diz. _ e desdobrou o pergaminho que dizia, com letras recortadas do Profeta Diário:
“Se quiser saber quem, realmente, é o seu namoradinho, esteja na Torre de Astronomia esta noite, às 20:30 h. Aí conhecerá o verdadeiro Harry Potter.”
_O que você vai fazer, Gina? _ perguntou Murta.
_O que você acha, Murta? Vou lá para conferir. Preciso averiguar.
_Mas e quanto ao Filch? Ele pode te pegar.
_Só se ele também tiver treinamento Ninja.
Às 20:25 h, Gina estava do lado de fora do Observatório da Torre de Astronomia, o local de pior fama de Hogwarts. Se aquelas paredes revelassem seus segredos, mesmo alguns professores ficariam falados. A porta encontrava-se entreaberta e o cômodo estava banhado pela luz do luar. “Lupin deve estar tendo problemas esta noite”, pensou. A porta fechou-se sozinha, suavemente e Gina estranhou mas, nem tanto quanto o suave sussurro em seu ouvido, que dizia, baixinho: “Não acredite em tudo que olha. Procure ver com o espírito, não com os olhos.” Gina pensou : “Conheço essa voz.” Em seguida, avançou pela sala em penumbra até atrás de uma estante de onde, sem ser vista, poderia ter uma visão do sofá mais mal-afamado da escola. Se Gina estranhou o sussurro, o que ela viu no sofá a deixou praticamente sem respiração: Harry estava abraçado a Anastasia Artamonov, uma bela loira russa do sétimo ano que viera transferida de Durmstrang e havia sido selecionada para a Sonserina, ambos nus da cintura para cima, as mãos dele arrancando suspiros dela, em carícias para lá de íntimas. Seu primeiro impulso, que durou menos de um segundo, foi de surpreendê-los com um grito e acabar com aquela libidinagem mas, realmente, não durou nem um segundo pois havia uma coisa estranha: Aquele não podia ser Harry. Ela podia sentir o Ki dele na sala, mas não estava lá, naquele sofá.
Na verdade, o Ki de seu namorado estava...bem à sua esquerda.
Aquele cara, logicamente, não podia ser Harry também por outro motivo, que ela percebeu imediatamente ao olhar para o rosto dele.
Naquele instante, quando o casal preparava-se para ir às vias de fato, ouviu-se uma voz na sala. Harry não era dado ao uso de palavrões, por isso Gina chegou a se assustar quando a voz dele ecoou na sala, dizendo, alto e em bom som: “MUITO BEM, VAMOS ACABAR LOGO COM ESSA {[(#$%¨&*!!)]}!!!! DESSA POUCA VERGONHA, AGORA MESMO!!”
O casal, assustado, interrompeu o que estava fazendo e ficou olhando, aparvalhado, na direção de onde vinha a voz, dando de cara com Gina e, do seu lado, a cabeça de Harry... suspensa no ar. Ele usava a sua Capa de Invisibilidade.
Ainda tentaram pegar suas varinhas para reagir, mas estavam atrapalhados com as roupas, emboladas à volta dos dois. Harry não perdeu a chance. Imediatamente, apontou a sua e disse: “Impedimenta!” O casal foi jogado para trás, ambos seminus. Ainda tentaram insistir, após o efeito da azaração passar, mas foram novamente detidos por Harry:
_Vocês precisam ficar quietos por um tempo maior. “Estupefaça!” _ e os dois caíram no sofá, um sobre o outro.
_Mas quem são esses dois, Harry?
_Ora, quem você acha? Sinta o Ki deles.
_Não pode ser! Ninguém desceria tão baixo!
_Se tem dúvidas, espere o efeito da Poção Polissuco passar.
_Poção Polissuco? Como é que você sabe?
_Fui alertado, hoje de manhã, sobre a armação que estava sendo preparada, quer ver?
E Harry tirou do bolso das vestes o pergaminho que havia recebido naquela manhã e que dizia: “Se quiser impedir que seu namoro e seu futuro com a Srta. Weasley sejam arruinados, esteja na Torre de Astronomia às 19:00 h. Use sua Capa de Invisibilidade ou um Feitiço de Desilusão.
_Edwiges me entregou, hoje de manhã. Me pregou um tal susto que me cortei durante o barbear.
_Isso foi providencial.
_???
_Depois eu explico. Agora vamos ver as caras dessas figuras.
A aparência dos dois foi mudando à medida que o efeito da poção passava, até que restaram, esparramados no sofá...
_Cho Chang! _ disse Gina, ainda não querendo acreditar.
_E Fabian Sheldrake, da Sonserina. Eu já estava aqui quando eles chegaram e tomaram a poção. Assisti a toda a sacanagem, me segurando para não azarar os dois antes da hora.
_Acho que já está na hora de reanimá-los.
_Tem razão, Gina. Enervate!
Os dois acordaram do estuporamento e viram-se, ainda seminus, frente a frente com o casal de namorados, que os encarava com uma expressão mista de nojo e descrença. Ficaram de cabeça baixa, até que...
_Chang Cho-Yen! _ disse Harry, utilizando o tratamento formal chinês, com o sobrenome antes do nome, para demonstrar que a coisa era séria _ Eu não imaginava que você pudesse descer tanto. E você, Sheldrake, que eu pensava ser um dos poucos caras decentes naquele ninho de cobras da Sonserina. Vistam-se, seus pervertidos! _ e, enquanto os dois se vestiam _ Como puderam armar um plano torpe e vil assim? Por sorte eu fui avisado a tempo e, assim, pude tomar providências para desarmar a armação de vocês. Como tiveram coragem de querer o mal de alguém como Gina? Tenho vontade de...
“O que vocês fizeram não tem nome!!!”
_Calma, Harry. Se eu tive alguma dúvida, ela não durou nem um segundo. Reconheci sua voz sussurrando para mim e senti o Ki diferente do “Harry” que estava se roçando com essa ratazana sem pelos. Mas, ainda que eu não tivesse prestado atenção a esses detalhes, havia um que eles esqueceram. Você se cortou hoje de manhã, ao se barbear e o falso Harry NÃO TINHA NENHUM FERIMENTO NO ROSTO.
_Cho olhou para Sheldrake com um olhar que mais parecia um basilisco furioso e disse:
_Incompetente! Um pequeno detalhe e o plano melou. Não dá mesmo para contar com as serpentes da Sonserina.Conseguem ser mais patéticos do que os texugos da Lufa-Lufa! Mas, de qualquer modo, já me sinto gratificada.
_Por que? _ ao mesmo tempo perguntaram Harry e Gina.
_Já me sinto gratificada se, por uma fração de segundo, eu tiver conseguido plantar uma semente de dúvida na cabecinha de batata dessa irlandesa enferrujada.
_Repete, Gripe Asiática! _ rugiu Gina, indignada _ Repete, se for mulher!
Calmamente, Cho repetiu:
_Eu disse: Já me sinto gratificada se, por uma fração de seg... _ e não terminou a frase.
_TRABUM!!! _ o punho fechado de Gina, certeiro, atingiu o queixo de Cho, deixando-a inconsciente na hora.
_Ai, essa até eu senti. Vai dar sinal de ocupado por um mês. _ disse Sheldrake.
_Se bobear, você é o próximo. _ rosnou Gina.
_Espero que não tenha fraturado a mandíbula. _ comentou Harry.
_Não se preocupem, eu maneirei na força.
_Mesmo assim, Madame Pomfrey vai ter um trabalhão para consertar. _ disse Harry, novamente.
_Vai passar pelo menos uma semana só tomando sopa. _ murmurou Sheldrake, timidamente.
_E espero que com canudinho. _ finalizou Gina.
_Sheldrake, leve-a daqui e dê um jeito de alterar a memória dela, para apagar este incidente. Se ela se lembrar do soco, é capaz de bolar um plano ainda mais maluco.
_Está bem, Potter. Vou levá-la para a ala hospitalar. Olha, cara, eu não queria, mas ela é muito sedutora. Me pediu para roubar um fio do seu cabelo, da última vez que você foi cortá-lo e tirou um fio de cabelo de Anya, durante uma aula.
_E você caiu como um patinho, eu sei. _ Harry havia usado um pouco de Legilimência para saber da verdade _ Mas agora não é o momento, estamos todos de cabeça quente. Eu mesmo estou me segurando para não amaldiçoar vocês dois. Agora vão.
Quando Sheldrake, carregando Cho, virou em um dos corredores, pensando: “Mas que catso é isso de Ki que eles estavam falando?” Harry comentou com Gina:
_Já que estamos aqui, que tal nós...
_HARRY TIAGO POTTER!!!
_… voltarmos imediatamente para a torre da Grifinória, antes que madame Nor-ra apareça por aqui e resolva nos entregar para o Filch.
_Sem-graça. _ disse Gina, fingindo-se desapontada. _ Estava quase pintando um clima...
Harry sorriu e disse:
_Mais um motivo para sairmos daqui agorinha. _ e, consultando o Mapa do Maroto, localizou Filch e tomaram algumas passagens secretas para evitá-lo. Uma delas os colocou no corredor da...
_Olhe, Harry, alguém está usando a Sala Precisa.
_Sim. E está saindo agora. Ainda bem que estamos invisíveis.
A porta da Sala Precisa abriu-se e, de dentro dela, saiu...
_Malfoy. O que ele estava fazendo lá? _ questionou Gina.
_Rápido. Vamos entrar antes que a porta desapareça. _ disse Harry.
Entraram na sala e, para o espanto de Gina, viram-se em uma confortável sala de uma residência trouxa, onde haviam duas poltronas e...
_Um Home Theater. _ disse Harry _ Um Home Theater de última geração.
_???
_Um conjunto de TV... uau, um monitor de plasma, com tela plana widescreen, caixas de som, DVD, aparelho receptor, enfim, um cinema em casa.
_DVD?
_É. Lembra dos meus CDs? Eles têm música armazenada. Um DVD é um disco semelhante, mas que contém um filme.
_Então Malfoy pediu que a Sala Precisa recriasse um Home Theater trouxa?
_Sim, e de altíssima tecnologia, equipamentos de última geração.
_O que será que ele estava assistindo?
_Vamos ver. Vou ligar o DVD.
_Conhecendo o Malfoy, deve ser um filme impróprio para menores.
_Vire-se de costas. Se for um pornô, eu desligo na hora.
Mas não era. Era um filme clássico, em preto e branco. Assim que surgiu na tela o símbolo da Warner Brothers e a música de abertura começou a tocar, Harry disse:
_ “Casablanca”. Um dos meus preferidos, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergmann.
_Como é?
_Um filme clássico, passado nos dias da II Guerra Mundial. Um romance de aventura, no qual um homem, traumatizado pela perda de um amor, perde todo o seu idealismo e torna-se um sujeito amargo e amoral. Quando a mulher que o deixou reaparece, ele se vê frente a uma situação na qual deve decidir-se entre permanecer isolado dos acontecimentos ou tomar partido. Não é apenas um romance. É um filme profundamente filosófico, sobre escolhas e lealdades.
_E por que o Malfoy estaria assistindo a um filme desses? Não faz o estilo do Draco Malfoy que conhecemos.
_Não sei, Gina. O fato é que ele tem andado muito estranho, desde o começo do ano. Bom, vamos embora.
Sem saber que Harry e Gina haviam descoberto alguns de seus segredos, Draco Malfoy encaminhava-se na direção das masmorras, rumo à Sala Comunal da Sonserina. Ao chegar ao Saguão de Entrada, que estava vazio àquela hora, viu Crabbe e Goyle encurralando Neville Longbottom ao pé da escada. Querendo evitar que os dois trogloditas se complicassem por agredirem um colega, Malfoy correu na direção deles, para detê-los. Foi o seu erro.
Dirigindo-se para a Sala Comunal da Grifinória, Neville deu de cara com Crabbe e Goyle. Da pouca capacidade de raciocínio de suas mentes, os dois acharam que seria uma boa idéia zoar com o grifinório, que havia sido o pele deles nos anos anteriores. Mas, quando se aproximaram e Goyle levantou o punho para acertá-lo, ele bloqueou o soco com o antebraço esquerdo e contra-atacou com um Seiken-jodan, que atingiu Goyle no rosto. Vendo aquilo, Crabbe tentou chutá-lo, mas Neville saltou, pousando em pé sobre o corrimão da escada e, de lá para baixo, girando em um Ushiro-kakato, cujo alvo, certeiramente atingido, foram as costelas de Crabbe, que caiu no chão, sem ar. Mesmo não acreditando naquela reação por parte de Neville, voltaram à carga para um segundo ataque e foi nesse momento que Malfoy chegou, ofegante.
Pensando que Draco tivesse vindo para ajudá-los, a dupla de trasgos recuperou o ânimo mas não foi o suficiente. Com dois Mawashi-geri e duas pressões em um nervo do pescoço, Crabbe e Goyle estavam esparramados aos pés de Neville, desacordados. Assim que Draco recuperou o fôlego, tentou se explicar para ele.
_Longbottom...
Não teve tempo. Pensando que o loiro tivesse vindo para ajudar os colegas de sua Casa, Neville instintivamente girou o corpo e atingiu Malfoy com um Empi na altura do diafragma, que tirou novamente o ar do sonserino, logo seguido de um Uraken no rosto, que fez o sangue escorrer do nariz dele e o deixou inconsciente. Para não expor o seu treinamento, Neville tratou de executar um Feitiço de Memória e, dizendo: “Obliviate!”, apagou as lembranças do trio sobre o confronto que acabara de ocorrer. O último pensamento de Draco Malfoy, antes de mergulhar no esquecimento e na inconsciência, foi: “Onde esse cara aprendeu artes marciais?”
Vendo o trio inconsciente aos seus pés, Neville pensou: “Como vou fazer para levá-los à ala hospitalar sem despertar suspeitas?” Foi então que, da direção das masmorras, surgiu o Prof. Snape. Em lugar de ficar assustado, ele concluiu que era o melhor que poderia ter acontecido.
_Prof. Snape, me ajude, por favor! _ Exclamou Neville, fazendo-se de aflito _ Malfoy, Crabbe e Goyle caíram da escadaria!
_Como é, Longbottom?
_Acho que vinham atrás de mim, mas se embolaram no alto da escadaria e rolaram de cima a baixo. Ficaram bem contundidos.
_Vamos vê-los. _ disse o professor.
Chegando onde eles estavam, o Prof. Snape disse:
_Tem razão, Longbottom. Me ajude a levá-los para Madame Pomfrey. _ e, conjurando três padiolas levitantes, Snape colocou os alunos inconscientes nelas. Ajudado por Neville, levou-os à ala hospitalar, onde ficaram fazendo companhia a Cho Chang, que também se encontrava lá, ainda desacordada e, com certeza, bastante dolorida do soco que recebera de Gina Weasley só que, igual aos três recém-chegados, jamais se lembraria do que ocorrera. Pior mesmo para Draco Malfoy, que acabou apanhando de graça.
Finalmente chegara o dia 31 de outubro, Dia das Bruxas e, com ele, a primeira visita do ano a Hogsmeade. Os alunos já estavam com saudades dos passeios pelo povoado, com as idas à Zonko’s, Dervixes e Bangues e, principalmente, à Dedosdemel e ao Três Vassouras. E era lá que encontravam-se os Inseparáveis, sentados a uma mesa, com suas bebidas à sua frente e Madame Rosmerta brincando com eles:
_Ai, ai, Rony. Então eu perdi a minha chance e Hermione, a sortuda, levou o grande prêmio. _ todos deram risadas, Rony com o rosto escarlate. As cervejas amanteigadas estavam excelentes, como sempre. Gina percebeu que Harry não estava cem por cento contente e perguntou:
_Harry, o que houve? Você está parecendo que quer bater a porta na cara do mundo e se trancar do lado de fora.
_Desculpe, Gina. Eu não consigo me descontrair totalmente, não sei por que. Isso tem acontecido todos os anos por essa época. _ e tomou um gole de sua cerveja amanteigada. Naquele momento, a porta do Três Vassouras se abriu e por ela entrou...
_Prof. Snape! _ exclamou Madame Rosmerta _ Há tempos que não o vejo por aqui. A que devemos a honra?
_À excelente qualidade de suas bebidas e ao nível dos freqüentadores, entre os quais hoje me incluo. _ respondeu Snape, anormalmente gentil (estaria deixando de tomar a poção Cor vetato?) mas com uma expressão melancólica no olhar _ Há uma sala reservada livre?
_Sim, professor.
_Ótimo. Vou para ela. E foi em direção ao corredor das salas reservadas.
Naquele exato momento, Harry sentiu cair novamente a ficha. Era o Dia das Bruxas. A data na qual Voldemort havia assassinado seus pais. Por isso sentia-se triste todos os anos, naquela época. Durante anos reprimira inconscientemente a parte mais traumática das lembranças mas a tristeza permanecia, sem que se desse conta de associá-la aos fatos porém, agora, ao ver a expressão nos olhos de Snape...
_Me dão licença por um instante? Preciso ir ao banheiro. _ Harry saiu e tomou a direção dos banheiros, que ficavam próximos às salas reservadas. Bateu à porta da sala na qual sentira o Ki de Snape e, ao ouvir a resposta “Entre”, entrou.
_Potter! O que faz aqui?
_Acredito que o mesmo que o senhor, professor. Hoje é o Dia das Bruxas. O dia em que Voldemort...
_Por favor, não fale o nome dele.
_...Ele matou meus pais. Acredito que o senhor também está aqui para reverenciar a memória de minha mãe.
_E a do seu pai. Embora nos odiássemos, um reconhecia as qualidades do outro. Você pode até não acreditar, mas tenho uma foto de nós três juntos. Tiago só concordou depois de Lílian insistir muito. _ e mostrou uma foto-bruxa, na qual aparecia seu pai, com uma expressão contrariada, olhando feio na direção de Snape. Lílian entre os dois e, do outro lado, Snape que, extraordinariamente estava sorrindo. Era a primeira vez que Harry via o professor sorrir.
Harry então preparou-se para sair, dizendo:
_Vou deixá-lo em tranqüilidade com suas lembranças, professor. Mas saiba que eu, de certa forma o invejo.
_Por que, Potter?
_Porque, mesmo com todas as desavenças, o senhor conviveu com eles muito mais tempo do que eu. Só não se deixe consumir pela tristeza. Tenho certeza de que eles não gostariam. Bom dia, professor.
_Bom dia...Harry.
Ele saiu, notando que o professor o havia chamado, pela primeira vez na vida, por seu primeiro nome. Ao passar por uma outra sala reservada, pensou ter sentido um Ki conhecido mas, apressado, não deu importância e foi juntar-se aos amigos que o aguardavam, preocupados:
_Cara, que demora. _ disse Rony.
_Já estávamos pensando que tivesse se afogado. _ caçoou Neville.
_Íamos até chamar os Aurores, pensando que os Death Eaters tivessem te seqüestrado. _ atalhou Luna.
Gina sugeriu:
_Vamos dar uma volta, Harry?
_Vamos. _ e saíram para a rua, indo sentar-se em um dos bancos da praça.
_Sobre aquela noite, na Torre de Astronomia, Harry...
_Eu estava brincando, Gina.
_Eu sei, mas... parte de mim queria que fosse sério.
_Parte de mim também queria, Gina, mas para tudo há a hora e o lugar. Nossa vez chegará, mas não agora. Ainda não é o momento.
_Tem razão. Ainda bem que, como disse Luna, temos a cabeça no lugar. Está esfriando um pouco. Que tal um chá, lá na Madame Pudifoot?
_O chá dela é excelente, mas as minhas últimas lembranças daquele lugar não são das melhores...
_É porque a companhia não prestava. Vamos, Harry.
E foram para a casa de chá da Madame Pudifoot. Harry ainda pensava no Ki que havia sentido lá no Três Vassouras, mas que não prestara atenção por tempo suficiente para identificá-lo. Resolveu não pensar nisso naquele momento. Tinha pela frente um dia todo com a garota que amava e, pelo menos durante o seu transcurso, queria deixar de lado todas as preocupações. Até mesmo Lord Voldemort.
Se tivesse identificado o Ki sentido naquela hora, teria descoberto a quem ele pertencia. E pertencia a Draco Malfoy.
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